EXCLUSIVO: Vítima de preconceito, Lúcio Vilar fala sobre agressões

Professor universitário foi xingado por emitir opinião sobre a gestão da presidente Dilma

Após denunciar agressões sofridas, via internet, o professor universitário e doutorando da USP, Lúcio Vilar, falou sobre o assunto em entrevista exclusiva para o portal Polêmica Paraíba.

Leia:

Brasil vive clima ‘fascistóide’

Qual foi sua primeira reação ao se deparar com as ofensas no Facebook?
Como jornalista, há sempre uma tendência que predomina no profissional a manter certo distanciamento dos fatos, especialmente os mais chocantes ou desagradáveis. Confesso que foi acometido por uma sensação de asco e repulsa pelo que havia acabado de ler, e voltei à mensagem uma vez mais para me certificar que era aquilo mesmo. Uma coisa é a discordância, que pode até entrar no pessoal mas num tom jocoso, irônico. Mas, o “cidadão” em questão foi muito além do preconceito, do ódio; é algo muito pior essa coisa da injúria racial contra nordestinos, que suponho seja a tipificação do caso. No resumo da ópera, profundamente desagradável e desolador num primeiro instante, com certeza.

E como foi a decisão de publicar em sua coluna semanal (Caleidoscópio Midiático/Correio da Paraíba)?

Pensei bastante, mas percebi que uma agressão tão pesada como essa, precisava ser publicada, conhecida por todos na medida em que, como reiterei na coluna, a questão pessoal havia sido extrapolada. Veja, não se trata, ali, apenas de uma ofensa a mim, Lúcio Vilar; foi muito além, ofendendo a todas as pessoas nascidas no Nordeste, vistas como espécie de sub-raça (se é que se pode falar um absurdo desses) na “visão” do covarde que se esconde atrás de um ‘fake’ na rede social. Existe um clima de animosidade no país e pessoas que poderiam acalmar os ânimos, serenar os ímpetos fascistóides, apelam na direção contrária: o resultado é isso aí que estamos assistindo, xingamentos públicos, reais ou virtuais, agressões físicas etc.

A quem você se refere, especificamente?

Logo após as eleições, ano passado, pessoas do porte do ex-presidente FHC, entre outros formadores de opinião da grande mídia, defenderam a ‘tese’ de ter sido os votos do Norte e Nordeste que haviam derrotado o candidato deles, que seria um reflexo da desinformação, do bolsa-família, entre outras bobagens. Esse tipo de reação alimentou a insatisfação dos eleitores frustrados, estimulando-os a rechaçar quem fosse dessas regiões nas redes sociais, com as mais diversas agressões, todos devem lembrar disso. Só que, esse processo não foi estancado, muito ao contrário, ele continuou sendo sistematicamente alimentado de uma forma dissimulada, sorrateira, até explodir nas recentes manifestações onde o ódio dá o tom. Eu vejo dentro desse contexto, e a grande mídia, principalmente a mídia tradicional, jornal, rádio e TV na linha de frente desse processo. Isso explica o aparecimento e o sucesso de âncoras de TV que, do dia para noite, se transformaram em ‘formadores de opinião’, na verdade, ícones do oportunismo político mais rasteiro nesse ‘país em transe’, como diria o cineasta baiano. Impera um clima fascistóide hoje no Brasil que deveria merecer uma atenção maior das pessoas, pois é muito perigoso e em todos os sentidos.

O que vc pretende fazer?

Não tenho muitas expectativas sobre o caso além de ter publicizado, provocado um debate salutar sobre o caso e gerado uma onda de solidariedade que me surpreendeu até, muito calorosa, de pessoas em várias regiões do país, especialmente no Sudeste de onde partiu a agressão. Mas, de todo modo, devo encaminhar ao MPF e a outros órgãos como Polícia Federal que disponham de instrumentos que possam rastrear o IP e identificar o autor das ofensas. Espero poder contar com essas instâncias que têm também o papel de coibir atentados aos princípios de civilidade que devem reger nossa conduta em sociedade. Em caso de avançar e punir o autor, segundo o que prevê o código penal brasileiro, seria um desfecho com efeito pedagógico, muito positivo.