Tragédias contemporâneas

Flávio Lúcio

Os quase 250 jovens que morreram na madrugada do último domingo, vítimas de um incêndio no interior de uma boate, mostra bem as feições das tragédias contemporâneas. Pelo que até agora foi divulgado, a cadeia de responsabilidade começa com o membro da banda que acendeu um sinalizador em cima do palco, passa pela ausência de portas de emergência e, por fim, a ordem de fechar a porta principal e única saída para evitar que os jovens em fuga saíssem sem pagar a conta.

Tragédias sempre existiram, mas as de hoje tem componentes bem precisos, que podem ser lidos como sintomas de uma lógica cultural cada vez mais centrada no consumo e na mercantilização de todas as esferas da vida. Que sentido tem alguém acender um sinalizador em cima de um palco a não ser provocar com isso um apelo visual? O que isso acrescenta a uma apresentação musical? A questão é que não se trata apenas de música, mas de “show”, o que torna desnecessário qualquer conexão lógica entre os elementos que conformam o “espetáculo”. Basta ser diferente. E o delírio que produz na galera nessas horas tem um quê de irremediável irracionalismo, movido ou não pelo álcool.
Prisões da diversão

Na outra ponta, naqueles que pagam para entrar nessas boates e formam essa massa em busca de uma diversão descompromissada, literalmente enlatados num ambiente quase hermeticamente fechada. Ao ver as imagens que descreviam o interior da boate, não pude deixar de enxergar aqueles mais de 1000 jovens que se divertiam metidos dentro de uma lata de sardinhas: uma imensa caixa quadrada, sem saídas de emergência, que se justifica apenas para viabilizar um maior controle sobre quem entra e quem sai. A preocupação dos donos com essa arquitetura do enclausuramento e de um rígido compromisso com as linhas retas do controle, é de apenas estimular o ingresso e o consumo do álcool sem estarem sujeitos a muitas perdas. É a lei do custo-benefício a comandar a diversão da garotada. Daí porque, além de não oferecer alternativas de saídas de emergências, o jovens em fuga foram aprisionados no interior de uma caixa-preta em chamas e repleta de fumaça tóxica. É desesperador pensar nesse sofrimento.

É quando nos damos conta de que quem estava ali dentro eram seres humanos, cuja capacidade de reconhecer e admirar o belo os distingue de outros seres vivos. Por isso, a morte de um jovem já é uma tragédia por si só, mas nas condições em que os jovens da boate de Santa Maria morreram vai muito além da soma das tragédias individuais: trata-se de uma tragédia humana cada vez mais comum no mundo contemporâneo.
Dúvidas sobre o acidente com  o avião do governador

O acidente que envolveu o Governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, e um dos principais assessores, Ricardo Barbosa, na última sexta, quando ficamos sabendo que o trem de pouso do avião que transportava RC de João Pessoa para Campina Grande não funcionou, o que obrigando o piloto a fazer um pouso de “barriga”. O assunto, claro, ganhou destaque em toda a imprensa paraibana e despertou o interesse da população. O fato é que, com a acidente, RC finalmente conseguiu um fôlego e desviar o foco do escândalo com os gastos da Granja Santana.

A coluna recebeu de um leitor que preferiu não se identificar algumas questões sobre o acidente. Sem nos filiarmos a nenhuma teoria da conspiração, apenas tornamos pública essas questões, já que o acidente merece ser investigado por envolver o Governador do Estado.

Olá, Rubens, Nas ruas da Paraíba, nas rodas de bate-papo, apareceram várias dúvidas quanto ao acidente do governador. Vou expor as mesmas:

1) Por que em uma das fotos publicadas no site Wscom, que está em anexo neste email, não se ver as marcas do arrasto do corpo e das asas do avião na areia?

2) Por que se houve problema no trem de pouso e o piloto arremeteu o avião, ele não voltou para João Pessoa, pois o aeroporto de grande porte, presume-se que tenha melhor estrutura de atendimento para estes casos, assim como com esta medida daria para se gastar o combustível da aeronave, já que em aterrissagens sem o trem de pouso, tem que gastar o combustível todo, voando, para depois aterrissar e isso não foi feito?

3) Por que o fato ocorreu de madrugada, distante de câmeras e de pessoas que dissessem como realmente procedeu o ocorrido?

4) Não seria muita coincidência, depois de todo um desgaste por parte do governador com o caso dos gastos com a granja, aparecer um fato como este? Mudança de foco? Teoria de culpar as oposições de sabotagem? Uma forma de vitimização e heroísmo por parte do imperador?

5) Por que até o momento o piloto não deu nenhuma declaração sobre o acidente? Estas pequenas aeronaves dispõem de caixa-preta? Será que o governador estava mesmo dentro da aeronave com Ricardo Barbosa ou não?

6) Por que logo após o acidente, as pessoas não procuraram atendimento médico? Será que haveria clima para seguir toda uma agenda política depois, como nada se tivesse ocorrido?
Ficam os questionamentos…