Respondi que “sim”

'Rômulo Gouveia me fez seu último, delicado e respeitoso pedido' - Por Roberto Cavalcanti

"Quando contei sobre o pedido de Rômulo e minha promessa, Tony caiu no choro"

– Posso fazer alguma coisa por você? Está precisando de alguma coisa?

Era sempre assim que Rômulo Gouveia cumprimentava as pessoas, da mais simples da Paraíba às mais poderosas do País. Nasceu com vocação para servir.

Sua história foi curta, mas grandiosa. O filho de José Antônio e dona Berenice começou defendendo os interesses do seu bairro, como presidente da SAB do Jardim Tavares. Ia para a Prefeitura de Campina Grande de “japonesa” nos pés, mas nenhuma porta ficava fechada para ele. Nem mesmo a do prefeito Enivaldo Ribeiro.

Quando Cássio Cunha Lima assumiu como prefeito, foi convidado para coordenador da Merenda Escolar e, depois, diretor regional da Cehap. Em 1992 conquistou seu primeiro mandato: foi eleito vereador de sua cidade. E nunca mais parou de subir.

Foram sete mandatos: dois de vereador, dois de deputado estadual, um de vice-governador e dois de deputado federal. E nas ruas de Campina ou no Palácio do Planalto, onde era convidado festejado, era o mesmo homem, com os mesmos gestos simples e gentis.

Conheci Rômulo no início desse caminho. Em toda a trajetória de nossa amizade, diversas vezes aceitei sua ajuda, mas ele nunca me pediu nada. A exceção foi às vésperas de sua morte.

Rômulo me ligou na sexta-feira à noite. Estava otimista. Contou que sairia do hospital no dia seguinte. Passou-me o recado de um amigo e me fez um apelo, para um outro amigo. Fez seu último, delicado e respeitoso pedido.

– Faça as pazes com Tony Show – pediu ele.

Antes dele, já tinha ouvido o mesmo apelo do padre Zé Carlos e de outros amigos em comum, para restabelecer contato com o comunicador. Expliquei a todos que não existia briga, apenas um distanciamento. Admiti que não nos falávamos há anos.

Ignorar o único pedido de Rômulo? Estava fora de questão. Respondi que “sim”, significando que retomaria o contato com Tony Show.

A notícia de sua morte chegou antes que pudesse fazer o gesto prometido. Lamentei demais!

Não perdemos apenas o amigo agradável e prestativo. Não perdemos o gordo simpático e afável. Perdemos muito mais. Eu e a Paraíba perdemos um talentoso político, talvez insubstituível na sua capacidade de atuação parlamentar. Era um gigante em Brasília na defesa dos pleitos do nosso Estado.

Os depoimentos de aliados e adversários, de estrelas da Paraíba e do Brasil, tinham um foco comum: o enorme coração desse campinense que, de tão querido, congestionou o aeroporto no seu funeral.

A partida de Rômulo só fortaleceu o compromisso assumido. Na terça-feira, liguei para Tony Show, que, ao saber quem estava na linha, me informou que passaria o telefone para a esposa:

– Minha mulher precisa acreditar que é você – disparou.

– Que bom que você ligou – disse ela, emocionada, antes de devolver a Tony.

E esse sentimento só cresceu durante a conversa. Quando contei sobre o pedido de Rômulo e minha promessa, ele caiu no choro. A constatação da grandeza do nosso amigo aumentou nossa saudade.

Quando pude, fiz um convite, que Tony Show aceitou: almoçar, hoje, com o cidadão Roberto Cavalcanti, no Correio da Paraíba, onde entrará de cabeça erguida. E na mesa estará o padre Zé Carlos, para testemunhar o reencontro.

Ontem, completou 15 anos da saída de Tony Show do Sistema Correio. Hoje, do céu, para onde vão as pessoas do bem, Rômulo estará testemunhando.

Eu, aqui, estou cumprindo a promessa que lhe fiz. Obrigado, amigo!

Fonte: Roberto Cavalcanti
Créditos: Roberto Cavalcanti