PUXÃO DE ORELHA: Lula diz que mudança no discurso de Dilma intensificou crise política

Integrantes do PT com acesso ao ex-presidente relataram na segunda-feira que a relação entre os dois ficou "estremecida" em razão da ação da PF no escritório do filho caçula de Lula.

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (29), em reunião do diretório nacional do PT, que parte da atual crise política é a “mudança de discurso” do governo da presidente Dilma Rousseff em relação às promessas feitas na campanha eleitoral do ano passado. Na avaliação de Lula, a presidente está fazendo exatamente o que afirmou que não faria enquanto tentava conquistar mais um mandato.

O ex-presidente da República ponderou, entretanto, que a crise política “se arrastou por muito mais tempo” não apenas por conta da mudança de discurso, mas também pela coalização política formada para tentar garantir a governabilidade.

“Nós tivemos um problema político sério, porque ganhamos as eleições com um discurso e, depois das eleições, nós tivemos que mudar o nosso discurso e fazer aquilo que a gente dizia que não ia fazer. Isso é fato conhecido de 204 milhões de habitantes, fato conhecido da nossa querida presidenta Dilma”, ressaltou Lula aos dirigentes do PT.

A aliados, o petista tem feito reiteradas críticas à política econômica do governo federal, voltada ao ajuste fiscal e ao corte de investimentos. Segundo governadores petistas ouvidos pelo G1, Lula defende que o governo invista em pautas sociais e volte a se aproximar do povo.

Ajuste fiscal
Na fala aos dirigentes petistas, Lula defendeu que o ajuste fiscal se encerre “o mais rápido possível” para que o país volte a crescer. Para ele, o Brasil não pode passar mais seis meses discutindo ajuste fiscal.

“A prioridade zero nesse pais é a gente criar condições para aprovar as medidas que a presidenta Dilma mandou para o Congresso Nacional, para que ela encerre definitivamente a ideia do ajuste e que a gente possa ver a economia voltar a crescer, gerar emprego e para que a renda continue chegando no bolso do trabalhador”, destacou Lula.

“Sem a conclusão do ajuste, ficamos na confusão política e confusão de credibilidade muito grande”, completou.

Apesar de ter criticado o ajuste fiscal, Lula disse que não se pode colocar a “culpa” da crise econômica no ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que tem sido alvo constante de críticas dentro do PT. De acordo com o ex-presidente, a arrecadação caiu e a culpa deve ser compartilhada.

“Eu fico imaginando a situação do nosso país. A União está com pouca capacidade de investimento, porque tem pouca capacidade de arrecadação. É por isso que Dilma mandou CPMF, uma solução mais razoável. Mandou a MP de repatriar dinheiro lá fora. Mas o Estado está com baixa capacidade de arrecadação. É só ver Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia. […] O Estado tem baixa capacidade de arrecadação e jogam a culpa em cima da Dilma. Ela vai jogar em cima de quem? De Deus? Não pode jogar em cima do Levy. Temos que jogar em cima de nós mesmos”, ponderou o petista.

‘Bombardeio’
O ex-presidente da República também disse aos dirigentes petistas que o partido vive o maior “bombardeio” da história do país, sendo, segundo ele, “atacado 24 horas por dia”. Em tom irônico, ele afirmou que sobreviverá à pancadaria.

Na última segunda-feira (26), a Polícia Federal (PF), em uma nova fase da Operação Zelotes, cumpriu mandados de busca e apreensão em empresas de Luís Cláudio Lula da Silva, filho mais novo do ex-presidente da República.

“Nós vivemos um momento de um acirrado bombardeio contra o PT e contra os petistas. Acho que nunca houve na história do país o bombardeio que nosso partido recebe 24 horas por dia.”

“Não queria que ficassem preocupados com esse problema [buscas da PF nas empresas do filho caçula]. Ninguém precisa ficar com pena, porque se tem uma coisa que aprendi na vida é enfrentar a adversidade. Se o objetivo é truncar qualquer perspectiva de futuro, então vão ser três anos de muita pancadaria e, pode ficar certo, eu vou sobreviver”, declarou o ex-presidente, aplaudido pela plateia de dirigentes petistas.

Relação com Dilma
Lula iniciou seu discurso na reunião do diretório nacional negando que haja qualquer “mal-estar” entre ele e Dilma. Integrantes do PT com acesso ao ex-presidente relataram na segunda-feira que a relação entre os dois ficou “estremecida” em razão da ação da PF no escritório do filho caçula de Lula.

“O que me deixa às vezes chateado é que nunca me perguntam alguma cosia e, de repente, vejo manchete: ‘Lula disse isso, aquilo, Dilma vai não vai no aniversário e não conversa com Lula. Se a Dilma não queria conversar comigo, porque foi no meu aniversário?”, ironizou o petista.

Lula foi aplaudido de pé e chamado de “guerreiro do povo brasileiro” pelos dirigentes do PT ao relembrar que completou nesta semana 70 anos e que a oposição vai ter que aguentá-lo. Na sequência, ele afirmou que a “razão” de sua vida é o PT, a CUT e os sindicatos.

“Vocês podem ter certeza do seguinte: não sei se tenho um ano, dois anos ou dez anos. Eu não sei quanto tempo tenho de vida. Mas se eu tiver 10, 15 ou 20 anos, podem ter certeza que nossos adversários vão ter que aguentar a gente.”

Corte no Bolsa Família
Lula destacou aos integrantes do PT que é preciso resolver a previsão de déficit no Orçamento de 2016, contudo, criticou a proposta do relator da peça orçamentária, deputado Ricardo Barros (PP-PR), de cortar R$ 10 bilhões do programa Bolsa Família.

O corte de 35% nos R$ 28,8 bilhões destinados ao programa de transferência de renda foi proposto pelo relator da proposta orçamentária, deputado Ricardo Barros, num esforço de evitar o rombo de mais de R$ 30,5 bilhões previsto para o ano que vem.

“Eu jamais pensei que pudéssemos chegar com 4,8% de desemprego. Isso era coisa para Noruega e Finlândia. E isso teve um preço, que foi a necessidade de fazer a economia chegando. E hoje tem gente que quer resolver o problema do Orçamento cortando o Bolsa Família. As pessoas vão falando e vão perdendo a cabeça”, enfatizou.

Há uma campanha coordenada para nos fragilizar. […] E agora tem esse ataque odioso à família do presidente Lula e, simultaneamente ao companheiro Gilberto Carvalho”Rui Falcão, presidente nacional do PT

Rui Falcão
Antes de Lula discursar, o presidente do PT, Rui Falcão, criticou o que classificou de”ataque odioso” à família do ex-presidente.

“É preciso acabar com a ofensiva que se dirige ao governo, à presidenta, ao nosso partido e à nossa liderança maior que é o presidente Lula. Há uma campanha coordenada para nos fragilizar. […] E agora tem esse ataque odioso à família do presidente Lula e, simultaneamente ao companheiro Gilberto Carvalho”, disse Falcão.

O presidente do PT afirmou que o Ministério Público Federal realiza operações em datas simbólicas para o partido, com o objetivo de enfraquecer a legenda.

Ele citou o fato de o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto ter sido conduzido à delegacia, para prestar depoimento de forma coercitiva, às vésperas do aniversário de 35 anos do partido.

“Setores se valem do momento simbólico do nosso partido para ofensivas pretensamente de combate à corrupção, mas que têm outro alvo. Vaccari foi conduzido para prestar depoimento às vésperas dos 35 anos do nosso partido”, afirmou.

 

G1