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POLÍTICA DOS HORRORES: Ainda a tragédia do 17 de abril - Por Arnaldo César

Ramos, em duas décadas, passou por sete diferentes partidos políticos. A saber: PMDB, PDT, PDC, PTdoB, PSDC, PMB e PTN. Ideologia?

Câmara inicia sessão para votar pedido de impeachment de Dilma. 17/04/2016 REUTERS/Ueslei Marcelino
Arnaldo César (*)

Eduardo Cunha comandou o circo dos horrores naquele domingo.
Onze em cada dez politicólogos, analistas e palpiteiros de toda a sorte são unânimes ao afirmar que o circo dos horrores, domingo (17/04), no plenário da Câmara dos Deputados é o mais fiel e inquestionável retrato do Brasil. Não é fácil desmontar tal constatação.

Afinal, o País assistiu, no horário nobre e em rede nacional, um dantesco espetáculo de canalhice, cinismo, hipocrisia, boçalidade, esperteza e fisiologismo. Para os que acharam pouco não podemos esquecer que houve apologia explícita ao nazi fascismo e à tortura. Isso tudo numa transmissão que começou por volta das 14 horas e se prolongou até às 22 horas.
Um show produzido, dirigido e apresentado pelo mestre de cerimônia Eduardo Cunha – PMDB/RJ. Um líder louvado em prosa e verso pela sua sagacidade. E, como muitos ali presentes detentor de uma vistosa folha corrida de malversação de dinheiro público, recebimento de corrupção e traficâncias de toda ordem. Tudo isso devidamente apurado e relacionado pela Procuradoria Geral da República – PGR.

Ele alcançou o quarto posto mais importante da República, o de presidente da Câmara Federal, guindado por 232.708 votos obsequiados, na eleição de 2014, pelos seus conterrâneos cariocas e fluminenses. É  temente a Deus e um legítimo representante do povo.

No Circo dos Horrores, Jean Willys cuspiu em direção a Jair Bolsonaro. Merecidamente.
Nazi fanfarão –  O mesmo pode-se dizer de Jair Messias Bolsonaro do PSC/RJ, eleito no ano retrasado, com surpreendentes 464.572 sufrágios. Foi o campeão de votos no Estado do Rio. Na sua apresentação de domingo, ele homenageou um torturador histórico. Antes, porém, levou uma cusparada do seu colega parlamentar Jean Willys – PSOL/RJ – a quem havia ofendido no plenário da Câmara, dando sua contribuição ao circo. Gente fina esse Bolsonaro!

Os que não estão muito afeitos às manhas da política brasileira se surpreenderam com tantas estultices.

Alguns até pensavam que o desenvolvimento econômico das últimas três décadas teria contribuído para melhorar o quadro. Ledo engano.

A coisa piorou. E, muito. Quem antes se deliciava com a honradez de um Ulysses Guimarães, agora teve que contentar com malandragem de um Eduardo Cunha. Aquele que, volta e meia, era xingado por outros parlamentares com palavras nada edificantes do gênero: “ladrão” e “canalha”.
Retrocesso – Há várias explicações para tal retrocesso. Uma delas é a de que os cidadãos honestos, mais bem preparados e vocacionadas para a política querem distância dela. Preferem ganhar a vida e construir suas carreiras em outras labutas. Não bastasse o baixo nível no Congresso, a vida pública brasileira – desde o advento da Lei de Responsabilidade Fiscal – costuma ser cruel com aqueles que não são fisiológicos ou corruptos.

Os partidos que antigamente estavam calçados em ideologia, hoje, são balcões de negócio. A maioria dos que ingressam na carreira política pensa única e tão somente na maneira mais rápida de enriquecer. Ideologia e fidelidade de pensamento são coisas de “otários” e “românticos”.

No domingo todos viram quando o deputado carioca Luiz Carlos Ramos, atualmente no PTN, ocupou o microfone para dar o seu voto pelo impeachment. Ele manifestou-se em nome da “população de rua, que vive na rua e se procria na rua”. Ramos que faz questão de ser conhecido como “Homem do Chapéu”. Por duas décadas foi vereador na cidade do Rio. Ele chegou à Câmara graças a uma engenharia eleitoral marota e dos 33.221 votos de seus leitores da Zona Oeste da cidade. Podemos dizer, sem medo de errar, que a rigidez ideológica de Ramos é comparável à de uma cama elástica.

Ramos, em duas décadas, passou por sete diferentes partidos políticos. A saber: PMDB, PDT, PDC, PTdoB, PSDC, PMB e PTN. Ideologia?
Fidelidade – Em duas décadas de militância política, este ex-cabo do Exército e vendedor de carnês do “Baú da Felicidade” passou por sete diferentes partidos políticos. A saber: PMDB, PDT, PDC, PTdoB, PSDC, PMB e PTN. Como conciliou conceitos tão dispares como: socialismo, social democracia, defesa dos direitos das mulheres  e democracia cristã só o Criador sabe.

A presidente Dilma e o PT são seguidamente acusados de estarem sendo traídos, agora, por gente que, num passado bem recente, recebiam cheios de mesuras nos palácios de Brasília.  Em parte isso é verdade. Mas, quando se  enxerga  o quadro como um todo se vê que não tinham maiores alternativas.

Desde 1985, quando libertamo-nos de uma ditadura de 21 anos, os eleitores brasileiros não concedem aos mandatários vencedores a maioria das cadeiras no Senado e na Câmara Federal.  Para governar são obrigados a conciliar, a fazer alianças, com as demais 34 agremiações.

E, se não rezar por essa cartilha, perderá a governabilidade. Ficará imobilizado nas casas legislativas. Aí de que quem se irritar com essa situação!  Corre o risco de ser enxotado do Planalto, como estão fazendo com Dilma. Com motivo justificável ou sem motivo algum.

E, ai vem o terceiro e último dilema desta equação. Para dar sentido a tal maluquice em que se transformou a política brasileira só uma reforma de cabo a rabo. Mas, como fazer isso com esses políticos que estão aí? Como tirar o docinho da boca de gente da envergadura moral de um Michel Temer, Eduardo Cunha, Elizeu Padilha, Moreira Franco e etc. etc. e tal?

Pelo visto, isto só se resolve com uma revolução. Nem que seja só de costumes.
(*) Arnaldo César é jornalista

 

Fonte: http://www.marceloauler.com.br/
Créditos: http://www.marceloauler.com.br/