HOMOFOBIA

"Não há nada que leve a crer em crime de intolerância", afirma delegado que investiga morte de ambulante no Metrô

O delegado que investiga o assassinato do vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas na estação Pedro II do Metrô de São Paulo descarta, por enquanto, que o episódio seja uma caso de crime de ódio relacionado à homofobia.

alipio4O delegado que investiga o assassinato do vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas na estação Pedro II do Metrô de São Paulo descarta, por enquanto, que o episódio seja uma caso de crime de ódio relacionado à homofobia. Ruas morreu após ser espancado pelos primos Ricardo Martins do Nascimento e Alípio Rogério Belo dos Santos depois de tentar defender um morador de rua homossexual e uma travesti que eram perseguidos pela dupla. Eles foram indiciados por homicídio qualificado.

“Não há nada que leve a crer em crime de intolerância. Não há nada que leve que eles agrediram por serem homossexuais, moradores de rua, nada disso”, diz o delegado. Os dois suspeitos foram reconhecidos por todas as 14 testemunhas e, de acordo com o delegado do caso Rogério Marques, nem eles próprios negam o que fizeram. “Pelo vídeo que analisamos, é clara a intenção de matar a vítima”, acrescentou.

Segundo Marques, os agressores disseram que só tiveram noção do que haviam cometido no dia seguinte. “Os dois só viram que morreu no dia seguinte, pela televisão. Momento em que eles pegaram as coisas deles e fugiram para a casa de parentes”.

Eles ficarão na carceragem do 77º DP, na Santa Cecília, no Centro da cidade, enquanto durar a prisão temporária, que é de 30 dias, prorrogáveis por mais 30. O delegado Marques já adiantou, no entanto, que após instaurar o inquérito vai pedir a prisão preventiva dos suspeitos. Neste caso, eles seriam levados para um Centro de Detenção Provisória (CDP), onde ficariam detidos sem prazo determinado para saírem. “Tem que tirar esses agressores do convívio social”, disse.

Segundo o delegado, os primos alegam que foram urinar em uma praça próximo à estação quando foram abordados por moradores de rua que os roubaram. Alípio e Ricardo disseram à polícia que tentaram reaver os pertences levados e Luís Carlos Ruas intercedeu em favor dos supostos ladrões.

“Eles alegam que esse ambulante, tentando defender os moradores de rua, teria dado uma garrafada no Alípio”, contou Marques. “Antes de fazerem o interrogatório, eles foram orientados pelo advogado, então o advogado com certeza deve ter feito uma história e repassado para eles”, ressaltou ele.

O delegado disse ainda que nenhuma das testemunhas ouvidas relatou ter presenciado algum roubo naquela noite ou a suposta garrafada dada por Ruas. Apenas uma testemunha, entretanto, confirmou ter visto a confusão desde o princípio. Marques afirmou ainda que os suspeitos demonstraram “profundo arrependimento” durante o interrogatório: “Dizem que aconteceu porque estavam alcoolizados”.

Presos podem pegar até 30 anos

Especialistas em direito criminal dizem que as imagens das agressões oferecem todos os elementos para que Alípio Rogério Belo dos Santos e Ricardo Martins do Nascimento, que estão presos, sejam denunciados por homicidio triplamente qualificado, que pode resultar em pena máxima, de 30 anos de prisão.

As qualififcadoras são motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima.
“A primeira qualificadora seria o motivo torpe, porque eles agiram com motivo repugnante. eles desconsideraram aquela pessoa como ser humano. Eles agiram de forma repugnante”, explica Marina Coelho Araújo, professora de direito penal.

“A segunda qualificadora é a qualificadora do meio cruel. foi um espancamento. Eles bateram nos locais vitais daquela pessoa até ela falecer. E a terceira qualificadora é o meio que impossibilitou a defesa da vitima. Ele já estava caído, eles empurraram, ela caiu, bateu a cabeça a pessoa e depois eles mataram.”

A pena por homicídio simples pode chegar a 12 anos. Se forem condenador por todas essas qualificadoras, os dois primos vão cumprir pena por crime hediondo.

Fonte: G1