ataque

Mulher relata insônia e medo após estupro em hospital: 'morta por dentro'

 Suspeito já foi localizado e acabou sendo afastado do trabalho

“Estou sem dormir há uma semana. Acordo tremendo. Não tenho sossego dentro da minha própria casa. Fico olhando as portas e as janelas o tempo inteiro com medo. É inaceitável uma pessoa usar um ambiente que deveria ser de paz para fazer uma coisa nojenta dessas. Estou morrendo por dentro”.

O relato acima pertence a V., uma mulher de 43 anos que, há uma semana, foi estuprada dentro de uma sala de atendimento médico em um hospital de Santos, no litoral de São Paulo. Em entrevista ao G1, com a condição que sua identidade permanecesse em sigilo, a vítima falou sobre os momentos de terror que viveu. O G1 procurou o advogado de defesa do suspeito para falar sobre o caso, mas não houve retorno.

“Tudo aconteceu na quinta-feira passada. Dei um mal jeito (no pescoço) e resolvi ir até a UPA Central tomar medicamento, pois a minha dor era insuportável. Fui muito bem atendida pelos médicos, que me receitaram remédios e um raio-X. Estava tudo indo bem. Até eu chegar na farmácia do hospital e encontrar uma plaquinha de ‘fechado'”, relata.

Carregando as guias médicas nas mãos, a vítima decidiu sair do hospital e seguir até um local indicado pelo médico para encontrar os remédios. Neste meio tempo, o suspeito, devidamente uniformizado e com crachá de funcionário, apareceu no corredor do hospital oferecendo ajuda. Segundo a mulher, ele agiu de maneira gentil.

“Ele perguntou se eu não faria a medicação. Em seguida, ofereceu ajuda e me levou para a sala que estava fechada e abriu a porta. Não suspeitei. O funcionário pediu para eu fechar a porta para o ar não sair e assim eu fiz. Estava toda desajeitada por conta da dor e ele disse que aliviria tudo colocando um colar cervical em mim. Foi aí que ele começou a me examinar”.
O funcionário, já identificado e suspenso pelo hospital, é um técnico em gesso que atende há menos de um ano no local. Ele é responsável pela imobilização de pacientes que sofrem fraturas. De acordo com informações apuradas pelo G1, não existiam antecedentes que atestassem que o suspeito já havia apresentado comportamento semelhante.

“Ele se transformou em poucos segundos. Eu estava sentada, de costas. Do nada ele veio por trás, com muita força, e me imobilizou. Com uma das mãos, arrancou a minha blusa e começou a fazer o que fez. Eu pedia pelo amor de Deus para ele parar. Entrei em pânico e implorei muito para ele parar. Eu estava ali apenas para ser atendida”.
Segundo a polícia, o técnico em gesso se desesperou com os gritos da vítima e ficou com medo de que alguém pudesse flagrar a situação. Por isso, ele resolveu abrir a porta e mandou a mulher sair. Antes, porém, também entrou em desespero, começou a chorar e tentou chantagear a vítima.

“Ele se jogou no chão. Nessa hora, quem começou a implorar foi ele. Pedia para eu não fazer a denúncia, pois destruiria a vida dele. Alegou que era casado, que tinha mulher, filhos, e que eu poderia acabar com a vida de um ‘pai de família’ com a denúncia. Mas, eu não podia me calar mediante tudo o que ele fez”.

Vítima está sendo medicada e tomando remédios após os ataques (Foto: Arquivo Pessoal)
Assim que a vítima saiu da sala e começou a correr, o suspeito abandonou o hospital, três horas antes do término do trabalho. Segundo a polícia, a UPA possui dezenas de câmeras de monitoramento que podem ajudar na investigação. Logo após a denúncia, uma equipe saiu em digilência e foi até a casa do suspeito, mas ele não foi encontrado.
“Um ser-humano com dor não tem mais direito a procurar auxílio médico. Minha dor, agora, é na alma. O que ele fez foi inaceitável. É um covarde. É uma covardia usar um ambiente que deveria ser de paz para fazer uma coisa nojenta dessas. Eu quero muito que a Justiça seja feita e que ele vá para a cadeia. Enquanto estou presa na minha casa, ele está solto. As coisas estão invertidas. Isso não pode ficar assim.”.

Investigação

O caso é investigado, paralelamente, pela Delegacia da Mulher de Santos e pela Fundação do ABC, responsável pelo gestão do hospital. O G1 solicitou uma nota para a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo para coletar novas informações sobre o andamento do caso mas, até agora, não houve resposta.

Já a Fundação do ABC afirma que o processo de sindicância para apurar as denúncias está em andamento. Por nota, a Fundação informa que o funcionário se apresentou na última terça-feira (12) e prestou esclarecimentos acompanhado de um advogado. Após a conversa, a Fundação ratificou a decisão de afastar o colaborador até o término do processo administrativo. Além disso, o funcionário assinou um termo confirmando estar ciente de que está proibido de entrar na UPA Central de Santos.

Fonte: G1
Créditos: Alexandre Lopes