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Mulher que fingiu ter câncer para dar golpe enganou até a família, diz Polícia Civil

Segundo a Polícia Civil, a suspeita inventou a doença para evitar o término do casamento. A corporação ainda não sabe o quanto a acusada faturou com o golpe

Telma Cristina Saraiva, de 44 anos, foi indiciada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por estelionato. A mulher teria enganado amigos, familiares e desconhecidos, em campanhas de arrecadação de fundos para o tratamento do suposto câncer a qual ela lutaria contra. A suspeita é de que Telma seja uma golpista, que fingiu a doença para lucrar em cima da boa vontade das pessoas que a ajudavam.
De acordo com a PCDF, a massoterapeuta começou a mentira há de cinco anos, na intenção de evitar o término do casamento. Ao longo desse tempo, Telma teria passado a se aproveitar da falsa doença para conseguir doações e auxílio financeiro durante campanhas movimentadas na internet e até em Organizações Não Governamentais (ONG)
A denúncia chegou para à Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf) na semana passada. A queixa contra a moradora do Guará foi realizada por integrantes da ONG Vencedoras Unidas, frequentada por Telma desde outubro de 2018.
“Ela chegou até a organização alegando ter superado um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e um câncer. Disse que sofria com o quarto tipo de câncer e que precisava de ajuda para pagar a medicação prescrita por um médico. O remédio seria para a quimioterapia. Ela deu o nome de um hospital particular e do médico que supostamente a atendia”, explica o delegado Wislley Salomão, chefe da Corf.
A massoterapeuta conseguiu auxílio, mas não evitou a suspeita das participantes da ONG. “Os tipos de câncer que ela disse ter, como o de mama e de intestino, não fazem o cabelo cair. Isso chamou atenção, assim como a estrutura física dela, que não era compatível com a de uma pessoa que tem a doença”, detalha.
O grupo procurou informações sobre o tipo de tratamento, bem como pelo médico indicado pela mulher e descobriu-se que todas as informações eram falsas. Neste momento caiu a ficha de que elas haviam sido vítimas de golpe. Apesar de a suspeita ter sido indiciada, os detalhes continuam em apuração.
“Ainda não conseguimos estipular o quanto ela conseguiu arrecadar com doações e auxílio financeiro ao longo dos anos”, salienta Wislley Salomão. Telma recebia o dinheiro em espécie e por meio de transferências bancárias. A suspeita teria recebido, ainda, cestas básicas, roupas e até mesmo tratamentos estéticos em SPA.
Na semana passada, a ONG se manifestou por meio da página Vencedoras Unidas, no Facebook. O texto frisa que todas as integrantes repudiam a atitude tomada pela suspeita e finaliza esclarecendo que estão tomando as medidas protetivas necessárias e reitera o “compromisso de continuar seus trabalhos primando sempre pela credibilidade das informações e respeito à vida, que são os pilares da ONG desde sua criação, em 2017.”
O delegado Wislley Salomão acrescenta que o golpe é uma exceção. “Não é um caso que acontece com frequência, realmente estamos tratando de um caso isolado. Infelizmente, a atitude de uma pessoa pode manchar a luta de todas as pessoas que passam pela doença. Por isso, realço que não devemos parar de ajudar quem precisa da ajuda e está nessas condições de saúde. Mas evitem dar dinheiro aos indivíduos, façam doações às entidades que auxiliam quem precisa”, destaca.

Miss Superação

No ano passado, a suspeita participou de um concurso estético para pessoas que realizaram a cirurgia bariátrica. A premiação, que ocorreu em 1º de setembro, reuniu 38 finalistas, incluindo Telma. A suposta história de superação do câncer que foi contada pela mulher causou comoção entre participantes e jurados. Com o relato, ela ganhou o inédito Miss Superação.
Com o microfone em mãos, Telma contou como superou o AVC, câncer e a luta contra a obesidade — condição inerente para realização da cirurgia. “Todos se emocionaram. Além de conseguir a faixa, comoveu muitas pessoas que estavam no evento, que também passaram a ajudá-la. Ela tinha um grupo no WhatsApp, onde adicionou essas pessoas”, assegura o delegado Wislley Salomão, da coordenação de repressão à fraudes.
As vítimas também passaram a ajudar a massoterapeuta com dinheiro, vestidos e outros peças de roupa. Para que ela pudesse cuidar da imagem, também ganhou tratamentos em um SPA.

Descoberta pela família

Ainda no ano passado, a farsa de Telma foi descoberta pelos parentes. Além do marido, ela também enganou os três filhos do casal, que têm entre 15 e 20 anos. Eles decidiram não realizar queixa na Polícia Civil contra a suspeita. Contudo, a descoberta custou o divórcio para a moradora do Guará.
“Para manter a farsa por tanto tempo, ela chegou a raspar a cabeça. A suposta condição da suspeita mexeu emocionalmente com a família. Alguns ficaram tão abalados que também rasparam os cabelos em apoio ao tratamento dela”, afirma Wislley Salomão.
Contudo, mesmo após anos convivendo com a doença, Telma não apresentou nenhum laudo médico que comprovasse a condição. “Ela fingia ir ao tratamento no hospital, mas com o tempo, a família ficou muito desconfiada. Ao ser descoberta, disse que mentiu porque queria chamar a atenção de quem a amava e, ainda, por não querer perder o marido (que à época, ameaçava pedir o divórcio)”, finaliza o delegado da Cord.

Fonte: Correio Braziliense
Créditos: Correio Braziliense