Marcelo Odebrecht diz que não assinará acordo de delação premiada

Na quarta-feira, estão previstas duas acareações

Marcelo-Odebrecht-AM-29O presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, disse na manhã desta terça-feira a integrantes da CPI da Petrobras, em Curitiba, que não considera a possibilidade de fazer uma delação premiada “por não ter o que dedurar”.

— Quando lá em casa minhas meninas brigavam eu perguntava ‘quem fez isso?’ Eu talvez brigasse mais com quem dedurasse (…) Para alguém dedurar precisa ter o que dedurar — afirmou Odebrecht que, ao contrário dos outros executivos de sua empresa, não permaneceu calado.

Sobre delação, Odebrecht disse ainda que “independentemente disso (de ter o que dedurar) há questões de valores numa decisão dessas”.

O presidente da empreiteira foi preso em 19 de junho, na 14ª fase da Operação Lava-Jato. O presidente já foi denunciado em ação penal que investiga a participação da empresa no cartel que fraudou licitações em estatais.

Os demais executivos da Odebrecht ficaram em silêncio durante audiência da CPI da Petrobras nesta terça-feira em Curitiba. O presidente da holding, Marcelo Odebrecht, é o último dos cinco executivos da empreiteira a prestar depoimento aos parlamentares.

Em seu depoimento, diante dos primeiros questionamentos dos parlamentares sobre o processo, Marcelo Odebrecht disse que não poderia fazer comentários públicos, por estar “engessado”:

— Deputado, o senhor estaria aqui me dando a oportunidade de me defender publicamente, mas a matéria faz parte do processo penal. Agradeço a oportunidade, mas o faremos nos autos do processo. Queria ter a oportunidade de falar tudo que posso, mas estou engessado.

Perguntado sobre ter conversado com a presidente Dilma ou com o ex-presidente Lula sobre a Petrobras, Marcelo demonstrou intimidade com a cúpula do poder:

— É provável que se eu encontrar com um amigo, empresário, político, é mais que natural, é provável que venha à tona o tema Petrobras — disse.

Sobre o seu futuro e o da empresa, Marcelo mostrou segurança:

— Eu garanto ao senhor deputado que sairemos dessa ainda mais fortalecidos. Espero que não só nós, mas também as outras empresas que levam o nome do pais lá fora, sejamos o orgulho do país — afirmou.

Ele disse ainda que a empresa continua “sólida”, que é responsável por empregos e que estão “avançados” em políticas de “compliance”, ou seja, para evitar corrupção. Afirmou ainda que a empreiteira tem “histórico” de pagamento de impostos e projetos sociais.

— Costumo dizer sobre a Odebrecht que a família é pobre e a empresa é rica — afirmou.

No início dos trabalhos da CPI, nesta manhã, o deputado federal Waldir Soares tentou provocar o diretor financeiro da Odebrecht Engenharia Industrial, Cesar Ramos Rocha, o primeiro a depor. O deputado questionou se ele tinha relação com o “Brahma”. De acordo com as investigações a força tarefa da operação, “Brahma” seria a forma que era chamado o ex-presidente Lula pelo ex-presidente da OAS Léo Pinheiro.

— Quero saber se o senhor esteve com o ‘Brahma’ várias vezes? O senhor bebe Brahma? Distribuiu pixuleco para o ‘Brahma’? — questionou.

O ataque do parlamentar, que chegou a chamar os acusados de corrupção na Petrobras de “ladrões”, levou a intervenção dos advogados da empreiteira. Eles alegaram que os réus estão passando por constrangimento. Os defensores pediram para que as perguntas não fossem feitas alegando um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, na noite de segunda-feira.

Zavascki concedeu liminar aos executivos da Odebrecht garantindo a opção de falar com os advogados durante a sessão da CPI. Os executivos também estavam dispensados de assinar o termo de compromisso de dizer a verdade, sem sofrer com isso qualquer medida privativa de liberdade.

Já foram ouvidos os quatro ex-executivos da empresa: Márcio Faria, Rogério Santos de Araújo, César Ramos Rocha e Alexandrino de Allencar. Ainda está previsto o depoimento do ex-gerente da Petrobras Celso Araripe de Oliveira e do próprio Marcelo Odebrecht. Todos foram presos da 14ª fase da Operação Lava-Jato.

Esta é a segunda vez que os deputados vão à Curitiba para ouvir investigados na Operação Lava-Jato. A primeira vez foi em maio, quando foram ouvidos presos como o doleiro Alberto Youssef e Mário Goes, empresário acusado de ser um dos operadores do esquema de corrupção.

Nesta segunda-feira, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, detido na 17 ª fase da Lava-Jato, permaneceu calado. Além de Dirceu, outros quatro presos também não falaram ontem, durante depoimento à CPI.

Na quarta-feira, estão previstas duas acareações: entre o publicitário Ricardo Hoffmann e Fernando de Moura, e entre presidente da Setal, Augusto Mendonça Neto, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

O Globo