Mangabeira Shopping - Rubens Nóbrega

Um shopping gera milhares de empregos, é verdade, mas… Será que também não gera milhões de lucros para os donos?
Ou será que na Paraíba sob Ricardo Coutinho a criatividade é tanta que inventaram até empreendimento comercial de caráter meramente filantrópico?

Quer dizer que um cara vai montar um negócio desse porte apenas para dar emprego ao povo e não vai querer ganhar nada com isso, é?

Sim, porque do jeito que o governador e seus porta-vozes falam, é como se Roberto Santiago estivesse com o saco cheio de ganhar tanto dinheiro que agora resolveu distribuir…

Pois é, rapaz… A Paraíba tem dessas coisas, como esse negócio de dizer que o negócio tal ou qual vai ser bom para o Estado porque vai gerar tantos empregos.

Pronto! Se o troço vai gerar emprego, então tudo deve ser feito pelo poder público e o governador ou prefeito deve fazer o que for preciso para ajudar o empreendimento.

A tal geração de empregos justificaria até mesmo o governante passar por cima da lei feito um trator e assim favorecer o empresário que, magnânimo, só quer o bem da Paraíba.

O bichin… Coitado do empresário. Doido pra gerar algumas centenas ou milhares de empregos e o povo dessa oposição – burra, obtusa, despeitada – vem logo querer botar areia no negócio.

Seria exatamente isso o que estaria acontecendo com a polêmica troca do terreno da Acadepol, em Mangabeira, por outro no Geisel, aquele duas vezes maior e no mínimo cinco vezes mais caro que esse.

Com a troca, os empresários ganhariam uma área de oito a nove hectares para construir um novo shopping que teria uma vizinhança de – por baixo – 200 mil consumidores ou potenciais clientes.

O investimento, segundo os principais interessados anunciaram ontem através de trabalhada nota à imprensa, seria de R$ 200 milhões, com previsão de gerar 2,5 mil empregos diretos.

Mas com a troca também ganharia o Estado porque no terreno menor e mais barato, no Geisel, os empresários construiriam para o governo uma nova academia de polícia, um novo instituto de polícia científica e uma nova central de polícia.

Bem, são vantagens indiscutíveis. Mas será que elas não poderiam ser maiores ou, mais redundante ainda, bem mais vantajosas para o Estado?

Como? Isso é perfeitamente possível, meu caro, minha cara, se o governo, esse governo, entender que a alienação de patrimônio público deve observar, em primeiríssimo lugar, o interesse público.

E não há interesse público, Senhor Governador, fora da lei ou de princípios como os da igualdade de oportunidades e da livre concorrência, que o seu governo desconhece ou faz que não conhece.

Quer ver uma coisa? Experimente abrir uma licitação que tenha por objeto a troca do terreno de Mangabeira pelo terreno do Geisel mais as obras que Roberto Santiago e o sócio dele, do Atacadão, propõem construir.

Vamos lá, Excelência! Experimente fazer diferente! Sem o autoritarismo, sem o ranço, sem a pressa e sem o goela abaixo com que vem sendo conduzida essa história.

Por que o senhor não experimenta pedir de volta a mensagem que mandou pra Assembléia ou, mesmo mantendo a matéria por lá, não libera a sua bancada para o debate?

Refiro-me, Excelência, ao bom e velho debate que em outros tempos era tão caro ao senhor. Lembra?

Será que não apareceria uma oferta melhor que essa do dono do Manaíra Shopping? Será que o negócio não interessaria também aos grupos Carrefour, Pão-de-Açúcar, Bompreço, Iguatemi, Magazine Luiza, Armazéns Paraíba e tantos outros?

E olha que coisa bacana, governador: já pensou se no final de tudo o Doutor Santiago e o seu sócio do Atacadão ganham a parada? Olha só que maravilha! Já pensou o quanto eles e o senhor ficariam bem na fita?

Se o senhor fizer assim, governador, prometo que vou pra inauguração do Mangabeira Shopping só para bater palmas pro senhor e pros grandes beneméritos da Nova Paraíba.

E não precisa nem me convidar, pois, como o senhor sabe, sou doido por um shopping.

‘Dono da cidade’

Quando escrevia no Correio da Paraíba, dediquei uma ou duas colunas ao ‘Dono do mundo’, título que conferi ao empresário Roberto Santiago em razão da forma como ele tratava algumas pessoas, em especial vizinhos do Manaíra Shopping. Ontem, foi a vez do meu amigo Potinho de Veneno homenagear o Doutor Santiago com um novo epíteto, que vem a ser o ‘Dono da cidade’. Vejam só porque:
– Acho que o Cuiá II (título da coluna de ontem) poderia ser XII, já que vale 12 vezes mais. Agora, valiosa mesmo (sem trocadilho, juro) é a presença, nessa história, de Roberto Santiago, o dono da cidade. Dizem que ele estava por trás também do caso do Aeroclube. Para impedir a concorrência ao homem, até empreendimentos comerciais já foram proibidos de se instalarem nas proximidades do Manaíra. Até estacionar nas ruas próximas também já foi ou continua proibido. Chegaram mesmo a fazer o que fizeram com o Aeroclube para impedir que o terreno fosse vendido para a construção de um outro shopping. É muito poder. E se esse empreendimento de Mangabeira se realiza, o poder do homem dobra. Ele é ou não o dono da cidade? E, pelo jeito, do coração republicano de Ricardo Coutinho.

É nós!

Ricardo Coutinho no Governo do Estado, Abraham Lincoln na presidência do Tribunal de Justiça, Ricardo Marcelo na presidência da Assembléia Legislativa e Kátia Lira na Procuradoria Geral de Justiça.

O que têm essas pessoas em comum, além de no momento se encontrarem no pleno exercício do poder dos quatro poderes que mais podem na Paraíba? Algum laço afetivo-memorial com Bananeiras é a resposta correta.

Durante a infância quase adolescência, a exemplo deste colunista, os Doutores Lincoln e Rejane moraram na Terrinha amada, onde o Ricardo governador tem um sítio e onde o pai dele também nasceu e morou.

Já o Ricardo deputado… Bem, além de primo de Dona Aparecida, minha mãe, o atual presidente da Assembléia é natural de Belém que, queiram ou não possíveis bairristas, faz parte da Grande Bananeiras.