em Minas Gerais

Dom José Maria Pires vibrou com o Golpe Militar de 1964

Pouco tempo depois, passou a ser um dos seus mais ferrenhos criticos e enfrentou o regime com coragem como arcebispo da PB

Bispo de Araçuaí (MG), Dom José Maria Pires partilhava da opinião dos bispos favoráveis ao golpe, segundo o historiador Vanderlan Paulo. Ele cita artigo publicado em 1º de abril de 1968, no jornal A Imprensa, no qual Dom José, confirmou o posicionamento que possuía sobre os comunistas e seu apoio ao golpe militar, que ele chamou de revolução.

“Eu fui um dos entusiastas do movimento de 31 de março em 1964. Torci para que não se realizasse em Belo Horizonte o Congresso da Cutal, de cunho reconhecidamente comunista. Condenei de público, em sermão, a atitude do Governo Federal no comício monstro de 13 de março, sua conivência com a anarquia, as greves políticas e a subversão”, escreveu Dom José em a Imprensa.

A Cutal era a Central Única dos Trabalhadores da América Latina. Em 15 de novembro de 1983, no XII Congresso Brasileiro de Comunicação Social,  em Recife, Dom José justificou, mais uma vez, porque apoiou o golpe militar.

“Quem lhes fala neste momento é um bispo que aplaudiu calorosamente a revolução de 1964”, disse. Lembrou que, na época, vivia no interior de Minas Gerais, à frente da diocese de Araçuaí. “Com antecedência me fora comunicado por funcionário do Governo que Minas Gerais ia rebelar-se contra o Governo Federal e daria início a um movimento de salvação nacional visando combater a corrupção e toda sorte de desmando na área oficial e impedir que o comunismo tomasse conta do Brasil. Creio que toda a hierarquia, salvo uma ou outra tímida exceção (e que houve), sentiu um grande alívio com o triunfo da revolução”, disse Dom José, em 1982, segundo Vanderlan Paulo.

Decepção e aposição ao regime

Vanderlan Paulo acrescenta que o arcebispo, nos momentos iniciais da administração dos militares, queria confiar neles. Contudo, decepcionou-se muito rapidamente e iniciou, por meio de seus discursos, críticas ao Governo.

“Segundo ele (dom José), o que foi anunciado com base num programa político, econômico e social, jamais foi cumprido”, frisa Vanderlan, lembrando que não foi apenas a ausência de mudanças que provocou as críticas dos religiosos, mas, sobretudo, a violação aos direitos humanos, desde o início do regime militar. Dom José Maria Pires revela que, desde muito cedo, não mais apoiou a ação dos militares.

O início do governo de Castelo Branco, a legitimação da violência por meio de Atos Institucionais e a criação de órgãos com essa finalidade no governo dos militares inquietavam Dom José e provocavam uma postura de defesa dos direitos básicos do indivíduo.

Envolvido com o clero de sua pequena Diocese e já com o trabalho que desenvolvia junto a essas pequenas cidades mineiras, o bispo negro se colocava como crítico ao novo regime de governo, fato que se tornou mais frequente na sua gestão à frente da Arquidiocese da Paraíba, a partir de 1966.

Fonte: Estado PB