em troca do voto

Deputado que tatuou 'Temer' recebeu R$ 6,6 milhões para emendas em dois meses deste ano, diz ONG

O deputado federal Wladimir Costa (SD-PA), que tatuou o sobrenome do presidente Michel Temer no ombro, recebeu quase R$ 6,9 milhões para emendas parlamentares em 2017, de acordo com um levantamento da ONG Contas Abertas. Deste valor, R$ 6,6 milhões foram liberados pelo governo apenas nos últimos dois meses, segundo a ONG.

Somente em junho, mês que antecedeu a avaliação da denúncia contra Temer pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, Costa recebeu R$ 4,7 milhões. Até 24 de julho, teve à disposição mais R$ 1,86 milhão, totalizando R$ 6,6 milhões em dois meses, conforme o levantamento.

Os repasses do governo para emendas parlamentares fazem parte de uma estratégia para arregimentar os votos necessários para derrubar na Câmara a denúncia de corrupção passiva feita pela Procuradoria Geral da União (PGR) contra Temer. A votação, na qual Costa é um dos principais aliados dos governistas, está marcada para esta quarta-feira.

Durante todo o ano de 2016, o deputado paraense recebeu pouco mais de R$ 10 milhões em emendas. O valor deste ano ja supera em R$ 600 mil a liberação de verba ao deputado em 2015.

A maior parte desses recursos, R$ 4,8 milhões, está empenhada em uma ação de apoio ao desenvolvimento sustentável de territórios rurais. O objetivo declarado é implantar e modernizar a infraestrutura para dinamizar a economia rural. Outros R$ 1,8 milhão, segundo a ONG, foram destinados à estruturação da rede de serviços especializados do Sistema Único de Saúde (SUS).

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu nesta segunda-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o deputado seja condenado pelo crime de peculato por ter ficado com o dinheiro recebido como salário por servidores de seu gabinete que seriam “funcionários fantasmas”. Em resposta ao GLOBO, ele desafiou procuradores a provar que recebeu o dinheiro.

NA BASE DOS DADOS: A associação entre a declaração de voto e a liberação de emendas

Para chegar aos votos suficientes para derrubar a denúncia, o governo usou uma arma poderosa em Brasília: acelerou a liberação de emendas dos deputados. Segundo outro levantamento da ONG Contas Abertas, de janeiro a junho, o total liberado foi de R$ 2,12 bilhões. Nas três primeiras semanas de julho, R$ 2,11 bilhões. A entidade sustenta nesta terça-feira que, ao todo, o montante despendido chega a R$ 4,2 milhões na véspera da votação da denúncia.

TATUAGEM DE TEMER

O deputado federal causou grande repercussão nesta segunda-feira ao mostrar uma tatuagem, que alega ser definitiva, do nome de Michel Temer no ombro. Wladimir diz ter gastado R$ 1,2 mil na homenagem ao “maior estadista do Brasil”.

— Cada um com suas paixões. É comum ver pessoas tatuadas com nomes de Che Chevara, Marighella e Fidel Castro, e por que não o nome de Temer que é um dos maiores estadistas da Nova República? — questionou o parlamentar, confrontado mais tarde com as acusações de que a arte seria de henna.

‘CARA DE COITADINHO’ PARA PEDIR VERBAS

O paraense, conhecido por soltar confetes na votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT-RS), ainda suscitou polêmica ao descrever detalhadamente como fazia para pedir cargos e verbas e Temer, no momento em que o presidente precisa de votos favoráveis no Legislativo.

— Somente alguns parlamentares hipócritas não vão assumir, mas é óbvio que, após a reunião com o presidente, a gente vem com aquela história: “Mas, presidente, eu gostaria de trazer demandas do estado, do município, do governo do estado”. A gente aproveita o barco e pede (…) Ele vê quais são os ministérios, quem pode resolver. O presidente encaminha. Faço cara de coitadinho para ele”, explicou.

Fonte: O Globo