Debate demais, compostura de menos, Por Ricardo Noblat

Daqui a algumas horas os candidatos Aécio Neves e Dilma Rousseff se enfrentarão em mais um debate televisivo, o terceiro em sete dias. Como as regras repetem as dos dois rounds anteriores – sem perguntas de jornalistas, conforme exigência da candidata petista -, é grande a possibilidade de que, de novo, o palco se transforme em ringue.

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Daqui a algumas horas os candidatos Aécio Neves e Dilma Rousseff se enfrentarão em mais um debate televisivo, o terceiro em sete dias. Como as regras repetem as dos dois rounds anteriores – sem perguntas de jornalistas, conforme exigência da candidata petista -, é grande a possibilidade de que, de novo, o palco se transforme em ringue.

A fórmula pode até agradar parte das torcidas de ambos os lados – que adoram ver sangue, embora jurem o contrário -, mas resultam em pouco ou quase ganho algum para o eleitor indeciso, que deveria ser o alvo dos postulantes.

Imaginava-se que os debates, em especial os do segundo turno, em que as questões não se perdem em uma dezena de pretendentes, permitissem a exposição de propostas e soluções. Qual o quê.

A junção de agressões desmedidas e de mentiras a rodo, o modelo e a quantidade – um a cada três dias – banalizaram os debates. Roubaram-lhe o objetivo.

Um pool de emissoras ou um sistema semelhante ao dos Estados Unidos, em que uma Comissão de Debates Presidenciais (CPD), criada pelos principais partidos políticos em 1987, organiza os confrontos, poderia ser um caminho. Mas estamos longe disso.

Cada rede de televisão tem de promover um debate para chamar de seu, a ponto de exaurir o distinto público. Disputam-se pontos de audiência e não de consciência.

Mais grave ainda é o conteúdo. Nunca antes neste país se viu tanta agressividade em debates. Nem tanta mentira e baixeza.

Vítima de Fernando Collor de Mello na campanha de 1989, o PT de Lula aprendeu a agir com semelhante vilania: mente e acusa o adversário de mentir; bate forte e alardeia que só revida; faz o diabo e se diz santo.

A tática foi usada com sucesso nas três últimas disputas presidenciais para acuar o PSDB. Na segunda-feira, no debate da Band, Dilma seguiu à risca o esquema que lhe foi ensinado e colheu vitória. Dois dias depois, no SBT, a presidente-candidata e seu staff surpreenderam-se com a reação e o contra-ataque de Aécio.

Saíram nocauteados. Mas nem de longe pensam em amenizar a sequência de golpes, que já surtiu efeito. Se não diminuiu as intenções de voto, serviu para aumentar em quatro pontos percentuais a rejeição ao tucano.

Parece muita artilharia para pouco efeito. Mas não é. Ampliar a rejeição de Aécio é contaminar os quase 10 milhões de eleitores que só escolhem seu candidato em frente da urna.

Embora em empate técnico, Dilma e o PT não se imaginavam em segundo lugar na disputa. Têm muito a perder e apenas uma semana pela frente. É tudo ou nada. Nos debates e fora deles.

Na noite de hoje, portanto, novos golpes devem vir. Desferidos ainda mais abaixo da cintura. É debate demais e compostura de menos.