COMPORTAMENTO: Evangélicos curtem inovar na cama e até compram em sex shop gospel

Percebendo a importância de uma boa vida sexual para o equilíbrio do casamento, os fiéis também estão interessados em esquentar as coisas na cama. A curiosidade crescente pelo tema tem impulsionado até o surgimento de um mercado erótico exclusivo para esse público, com sex shops que geralmente trazem as palavras "cristão", "evangélico" ou "gospel" no nome.

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A máxima que diz que entre quatro paredes vale tudo não serve para quem usa a bíblia como manual para o sexo. Para a maioria dos evangélicos (22,2% da população, segundo o censo 2012 do IBGE, incluindo todas as vertentes da religião), antes do desejo vem a vontade de Deus. Mas nem só de oração vivem os casais religiosos. Apesar das restrições que envolvem os lençóis daqueles que seguem o que se costuma chamar de sexualidade cristã, a busca pelo prazer também existe.

A ideia do sexo apenas como ato para a procriação já anda ficando para trás na grande parte das correntes religiosas evangélicas de missão e de origem pentecostal. O assunto é cada vez mais abordado, inclusive dentro das igrejas, a despeito dos tabus que ainda se proliferam.

Percebendo a importância de uma boa vida sexual para o equilíbrio do casamento, os fiéis também estão interessados em esquentar as coisas na cama. A curiosidade crescente pelo tema tem impulsionado até o surgimento de um mercado erótico exclusivo para esse público, com sex shops que geralmente trazem as palavras “cristão”, “evangélico” ou “gospel” no nome.

As diferenças em relação a sex shops convencionais não se resumem ao nome. A loja virtual Para Evangélicos, por exemplo, deixa claro logo na primeira página do site que é um sex shop para “casais casados”. Além disso, o proprietário Rafael Pedroso explica que o leque de brinquedos eróticos disponíveis é um pouco diferente. “Não focamos a exposição de produtos voltados ao sadomasoquismo e aos homossexuais”.

A loja também não exibe imagens muito explícitas e evita divulgar produtos como próteses penianas e vaginais, apesar de comercializá-las. O destaque maior é para os cosméticos, como óleos, bolinhas explosivas e géis. Pedroso, que já atua no ramo erótico há cinco anos, conta que decidiu criar o negócio depois de perceber que a maioria dos seus clientes das vendas por catálogo era formada por evangélicos.

Prazer e pecado
Mesmo querendo quebrar a rotina sexual, muitos casais evangélicos têm dúvidas de até onde podem ir sem cair no pecado. A bíblia é uma só, mas as interpretações e divergências são muitas. Para o médico ginecologista Waldir Moreno Arevalo, especialista em Terapia Sexual e membro da Primeira Igreja Batista de Santo André (SP), a liberdade do casal é grande, desde que de comum acordo e com base no amor, carinho e afeto.

“No Livro de Cantares (da bíblia) existem várias passagens em que o casal usa locais eróticos, como jardins, frutas para se revigorar, visualização do corpo nu para se erotizar, coisas que depois de séculos a ciência veio orientar para a melhora do desempenho sexual”, afirma Arevalo, sobre o que é válido para apimentar a relação sem fugir dos valores cristãos, segundo sua orientação religiosa.

O médico, que também é palestrante na área e autor do livro “O Sexo Que Deus Criou”, não vê problema no uso de alguns produtos eróticos, como cremes e óleos aromáticos. “Na orientação bíblica, o único sexo no casamento que deve ser evitado é o sexo anal”, diz Arevalo.

Não é raro nas congregações mais conservadoras a condenação até do sexo oral. Para Daniela Marques, autora do blog Salve Meu Casamento, que se intitula apenas como cristã, o parâmetro do que é permitido ou não entre quatro paredes deve ser a intenção e os sentimentos que norteiam a união.

“Colocar a boca em alguma parte do corpo do cônjuge, ir ao motel, fazer canguru perneta ou utilizar adereços para apimentar a relação só será pecado se o que vier de dentro for ruim, ou seja, se a intenção do coração for má. Se for prazeroso para ambos, feito com amor e dentro da aliança do casamento, não vejo problema algum”, declara Daniela, com a segurança de quem já está acostumada a falar sobre assuntos polêmicos sem meias palavras.

Tabus e culpa
O pastor Cláudio Duarte, autor do livro “Sexualidade Sem Censura” (Editora Central Gospel), também não tem dificuldade em discorrer sobre sexo com desenvoltura e humor. Os vídeos com trechos de suas palestras acerca do assunto contabilizam milhões de visualizações no YouTube.