Bom de vaia e ruim de palma?

Rubens Nóbrega

Ainda bem que o governador Ricardo Coutinho antecipou a campanha pela reeleição e começou a tomar iniciativas em socorro dos paraibanos mais castigados pela seca. Somente assim, programas como a distribuição de palma resistente à praga da cochonilha do carmim seriam lançados este mês – como o foram – para socorrer médios e pequenos criadores de gado.

É verdade que uma ação como essa chega com atraso de ano e meio, no mínimo, pois a estiagem já dura esse tanto ou mais em 75% do território paraibano. Não sejamos mal agradecidos, contudo. Antes tarde do que nunca, devemos dizer, pois a precisão é tão grande quanto a falta de providências. Capaz até de acabar com o restinho de esperança nos homens de muito poder e pouca fé na inteligência de seus eleitores.

Mas não podemos de forma alguma deixar a esperança morrer, não é mesmo? Afinal, sendo verdade que ela morre por último, antes dela iremos todos nós, junto com o gado ainda de pé e o tico de lavoura que o sertanejo mais teimoso insiste em plantar… Felizmente, apesar de tudo, subsiste a crença em dias melhores. Eis mercadoria que não falta ao nosso povo, principalmente em meio à sua porção mais humilde.

Tanto que neste momento muita gente deve estar rezando tanto pela regularidade das chuvas caídas ultimamente como para não ser verdade a notícia de que esse governo só é bom mesmo de vaia, porque de palma… Digo assim porque anteontem encontrei no blog do colega Carlos Magno a informação segundo a qual a “palma resistente distribuída pelo Governo do Estado simplesmente não pega no solo da Paraíba”.

Quem diz não é o jornalista, mas ninguém menos que o agricultor Francisco de Assis Florindo Barbosa, Presidente do Sindicato Rural de Boqueirão. “Ele alegou que a espécie adquirida pelo Governo do Estado tem aproximadamente 10% de poder germinativo, o que é muito baixo para as necessidades do pequeno produtor e para o investimento feito pelo Estado, o que gera prejuízos para quem já está tão prejudicado por conta da seca”, revela o blog.

Ainda de acordo com o sindicalista, “de cada dez raquetes que a gente planta, só uma pega, porque a espécie distribuída pelo Governo do Estado é totalmente incompatível com o solo paraibano”. Pelo menos na região de Boqueirão é o que estaria ocorrendo. Eita!… Se o problema for extensivo a todo o semiárido paraibano, aí estaremos pebados de vez. Porque para fazer essa onda, quer dizer, esse programa, o Governo do Estado teria investido R$ 3,5 milhões do dinheiro do contribuinte.

Agora, se comprou mesmo uma palma que não serve para se multiplicar e exterminar a praga do inseto que vem arrasando essa cultura em todo o Nordeste, que me desculpem seus admiradores ingênuos e espertos, mas essse governo estará dando não apenas mais uma prova de tardança no que deve fazer, mas do quão incompetente é.

Pernambuco dá alternativa

No mesmo domingo em que li a preocupante informação no blog de Carlos Magno, assisti no Globo Rural, da TV Globo, reportagem que me fez reviver o sentimento de que nem tudo está perdido na ‘Nova Paraíba’. A salvação da lavoura e do gado seria copiarmos uma medida adotada em Pernambuco, que vem cultivando milho forrageiro no perímetro irrigado do Vale do São Francisco, em Petrolina, para alimentar o gado de quem mais sofre com a seca.

Mas, atenção: não é qualquer variedade de milho. Tem que ser do tipo gorutuba, desenvolvido pela Embrapa. O bicho cresce muito rápido e a planta inteira é colhida para o gado comer. “O milho produzido vem sendo fornecido de graça a pequenos criadores, que têm em torno de 40 cabeças de gado, de 12 municípios da região. Eles entram apenas com a mão de obra para colher a lavoura”, acrescenta o texto do Globo Rural. Por enquanto são 140 hectares plantados, mas o Governo de Pernambuco planeja plantar mais de mil em outras cinco áreas irrigadas do Estado.

Até o mandacaru serve

Na mesma Petrolina, segundo o mesmo Globo Rural, bem antes da plantação do gorutuba, e desde meados do ano passado, o pequeno agricultor da região já vinha ‘se virando’ com o mandacaru como último recurso para alimentar o gado. Rico em proteína, fibra e água, o espinhento salvou da morte muitos pequenos rebanhos na zona rural de Petrolina e municípios vizinhos. Mas, para servi-lo aos animais, é preciso ter o cuidado de queimar os brotos até o derretimento dos espinhos.

Pec 37: um contraponto

Não que concorde com o conteúdo, mas, pela excelência do escrito, clareza das ideais e competência na defesa de seus argumentos, publicaria por inteiro o excelente artigo do Doutor Flávio Craveiro sobre a Pec 37.

Professor de Direito e Delegado de Polícia Civil, ele considera o exercício da investigação criminal pelo Ministério Público “uma afronta à Constituição Federal”. O problema é que o faz em cinco laudas. Encheriam três colunas e meia.

De qualquer sorte, vale muito a pena fazermos uma ‘degustação’. É o que vou oferecer ao leitor amanhã, como forma de contribuir para qualificar o debate sobre a questão, crucial para a força institucional e a própria razão de ser do Ministério Público.