Arrogância e prepotência - Rubens Nóbrega

Desde quando me recolhi, entre o final de 2010 e o último dia 12, venho colecionando reclamações, queixas, lamúrias, protestos e constatações variadas sobre a mudança de comportamento de alguns dos mais expressivos membros do antigo Coletivo Ricardo Coutinho ou da nova República dos Girassóis.

Arrogante e prepotente são os adjetivos que mais ouço nas referências ao próprio comandante-em-chefe e a uns poucos dos seus auxiliares mais chegados, aí incluído o prefeito Luciano Agra, que no meu tempo de convívio com o grupo era tido e havido como dos mais afáveis, justos e compreensivos expoentes da nova ordem.

Mas… Se já refizera antes o meu conceito sobre o político Ricardo Coutinho, mais recentemente mudei também radicalmente a avaliação que tinha da figura de Luciano Agra.

Mudei principalmente depois da ocorrência de certos episódios sinistros, a exemplo da escandalosa desapropriação, seguida de milionária indenização, de uma área de proteção permanente da fazenda Cuiá, da destruição da pista do Aeroclube da Capital e da defesa do famigerado contrato da merenda escolar com a SP Alimentação.

Vejo hoje que o doutor Luciano se comporta como quem perdeu a ternura ou se deixou contaminar pela rispidez e impaciência com que o hoje governador do Estado trata o comum dos mortais.

E esse ‘jeito meio estúpido de ser’ de ambos não seria digno de crítica pública, por ser apenas um traço de personalidade convenientemente encoberto por determinado tempo, não fossem eles os homens públicos que são, os ocupantes dos cargos de relevo que ocupam.

Até por que o autoritarismo embutido nas supostas arrogância e prepotência deles afeta as relações entre administração e administrados, governo e governados. Urbanidade e civilidade não fazem mal a ninguém e, se a gente procurar direitinho, tratar bem os cidadãos em geral e contribuintes em particular é obrigação indescartável dos agentes políticos.

Afinal, eles são o que são porque aqueles que maltratam no presente são os responsáveis por Ricardo, Luciano e outros do mesmo tope estarem onde estão, fazendo o que fazem, ganhando o que ganham, usando o poder segundo seus interesses e, pelo visto, idiossincrasias pessoais.

Ao contrário do que lhes pode sugerir a soberba, não há nada de republicano ou de sério nesses gestos, nessa inafetividade, nessa que se assemelha muito a quem se acha gênio, ser humano especial, divinal, paradigmático, acima da lei e dos homens.
Sem contar que o resto da humanidade, que eles olham de cima, por cima, não é bem o bando de rematados idiotas que eles imaginam.

Isso é democratizar?

O governador Ricardo Coutinho defendeu anteontem, com a veemência de sempre, a atitude do secretário Chico César (Cultura, do Estado), aquele que resolveu impor o seu gosto musical ao conjunto da população paraibana.

Sua Excelência também concorda que a liberação de dinheiro público pelo Estado para ajudar festejos juninos em municípios deva estar condicionada à prévia avaliação do Doutor Chico César dos artistas a serem contratados pelos governos municipais.

Segundo o governador, é assim que se democratiza o acesso da população aos mais autênticos e genuínos bens culturais. Isso, evidentemente, segundo o que eles – Chico e Ricardo – têm como ‘autênticos’ e ‘genuínos’.

Talvez tenha sido por isso que o governo estadual, em relação aos pedidos de apoio da Prefeitura da Campina Grande para o Maior São João do Mundo, pediu para conhecer, antes de qualquer coisa, as atrações musicais que deverão se apresentar no Parque do Povo.

Ou seja, tentou-se aí uma censura prévia: se tiver banda que toca ‘forró de plástico’ ou ‘sertanejo’, o secretário de Cultura (?) do Estado veta qualquer espécie de patrocínio.

Daí por que sugeri ao prefeito Veneziano Vital, esta semana, que se ele quiser contar com o governo Ricardo Coutinho que contrate pelo menos uma dessas divas que já gravaram ou vão gravar músicas de autoria de Chico César e, volta e meia, apresentam-se em João Pessoa sob patrocínio da Prefeitura da Capital.

Nessa arenga toda eu só tenho pena de Selminha do Cordão Encarnado, fã número um de Aviões de Forró. A bichinha descobriu semana passada, coitada, que a preferência musical dela vale menos ou não vale nada diante das preferências do secretário de Cultura.

– Ô, seu Rubens, me explique aí, por favor, porque a gente tem que ouvir e gostar do que o secretário gosta.

Eu disse a ela que isso acontece porque houve uma coisa ruim na história da humanidade chamada fascismo que muitos praticam e não se dão conta porque a arrogância e a prepotência não lhes permitem enxergar o que fazem. ‘The Doctor’ rides again

Sobre crucificação e pajelanças, vejam abaixo as duas pérolas que me mandou precioso colaborador da coluna que se identifica como ‘The Doctor’.

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Nosso governador acabou de dizer na Paraíba FM que segmentos da Imprensa querem crucificar o secretário Chico César. Já estou vendo você de soldado romano descendo a marreta no cravo dos pés do cantor catoleense. Está muito religioso o nosso Comandante. Rubão, você viu como ficou bem de cacique o nosso governador Ricardo na visita à aldeia São Francisco? Deve ter ido lá bater um papo com o Caboclo Girassol e comemorar o dia do Índio. Só não contava que enquanto estava lá em pajelança na Baía da Traição, aqui na aldeia das Neves a traição na Assembléia rolava solta. Eram os deputados fumando o cachimbo da paz e reelegendo Tarcísio Marcelo Presidente da República, perdão, da Assembléia. Foi mal.