Coerências e incoerências

Paulo Santos

Não há mais condições, neste país, de se analisar qualquer processo político sob a ótica da ideologia. Quase não existiu no passado e agora, com os interesses econômico-financeiros cada vez mais interferindo nas eleições, reduzem-se a zero as possibilidades de uma análise mais profunda sobre as definições político-eleitorais.

Melhor observar a questão por um ângulo, digamos, “mais suave” ou “light”, como queiram. Eis, então, a razão do título “Coerências e Incoerências” pois são esses dois pontos que podem explicar, em parte, os agrupamentos – que os mais radicais chamariam de arrumadinho – formados a partir das convenções deste sábado (30).

Nos quatro grandes condomínios políticos houve dois que primaram pela coerência – o PSDB de Cícero Lucena e o PSB de Estelizabel Bezerra. Não por acaso são os dois mais ferrenhos adversários neste pleito de outubro próximo. Começando pelo tucano, observa-se que sua escolha para vice não recaiu sobre o representante de um partido bom de voto. O PSC do médico cardiologista Ítalo Kumamoto está longe disso e enquanto manteve o dono do Hospital Memorial São Francisco como candidato a prefeito de João Pessoa oscilou entre zero e um por cento.

A escolha de Kumamoto por Cícero pode ter várias explicações e uma das menos plausíveis é de que o acordo agregue enxurradas de votos, mas é inegável que o médico dá um sentido de propositura à chapa e avança sobre um dos pontos que merecerá muito debate até outubro: a saúde na Capital. Nada melhor, então, do que um especialista no assunto para cuidar dessa discussão.

A coerência na escolha do vice – o deputado federal Efraim Filho – dentro do projeto de campanha do PSB de Estelizabel também ficou visível porque ela manteve a espinha dorsal da coalizão que levou Ricardo Coutinho ao Palácio da Redenção. Mesmo com os acidentes de percurso que aconteceram nos últimos meses na pré-campanha da candidata, o DEM se manteve irredutível no apoio e dá algo mais do que muitos e preciosos minutos no famigerado Horário Eleitoral Gratuito.


Efraim Filho ratifica a ideia que a cidade deve ser administrada por uma mulher e acompanhada de um jovem. Pode ser uma opção política, mas também pode ter sido uma opção de marketing. Como se trata de um vice sem qualquer falha de caráter em sua curta carreira, não atrairá contra si as metralhadoras verbais dos adversários.

Nas discussões sobre as incoerências os outros dois grandes condomínios políticos da Capital – o PT e o PMDB – “pisaram na bola”. O ex-governador José Maranhão – pelo menos até o fechamento desta coluna (00h30m do domingo, 1º de julho) ainda não havia confirmado se seu vice seria realmente o jovem deputado estadual Gervásio Filho ou não, conforme anunciado no Jangada Clube.

De qualquer forma ficou explícita a vontade de Maranhão em reverter uma tendência de coligações que, no plano estadual, lhe causaram alguns insucessos, sobretudo nas duas últimas em que tinha representantes do PT como vices e não logrou êxito nas caminhadas em direção ao Palácio da Redenção.

O prêmio de incoerência na definição do vice, porém, ficou para o candidato do PT, deputado estadual Luciano Cartaxo que optou pelo ex-super-convicto candidato a prefeito pelo PPS, o jornalista Nonato Bandeira, cujo maior mérito de sua passagem pelos cargos de secretário de Comunicação da Prefeitura e do Estado foi perseguir colegas de profissão, veículos de comunicação, dirigentes da Associação Paraibana de Imprensa e proibir secretários de conceder entrevistas a emissoras de rádio e TV que não “rezavam” em sua cartilha.

Do outro lado do balcão, arregimentou um exército de recém-saídos de universidades que, necessitados de sinecuras e assessorias, se deixaram embalar pelo tilintar das moedinhas oficiais. Não merece maiores comentários, a não ser o de que deve contribuir substancialmente para prejudicar o projeto do PT. Cartaxo jogou no lixo uma bandeira de oposição que empunhou com denodo na Assembleia e lançou-se na disputa, como se comentava nos ambientes onde se respira política,pelos discursos. Continua “100% limpo”, mas só pessoalmente.
BAYEUX
A undécima hora das convenções em Bayeux foi sensacional, mas os desdobramentos são imprevisíveis. O deputado Domiciano Cabral, que alimentava o desejo de ser o candidato do DEM, na última hora registrou a candidatura da mulher dele, a ex-prefeita Sara (foto abaixo). Na convenção Democrata teve a presença do ex-senador Efraim Morais e do senador Cícero Lucena (PSDB), mas amargou a audência do governador Ricardo Coutinho.

BAYEUX (2)
Na oposição ao projeto de Domiciano está o também ex-prefeito Expedito Pereira (PSB) que teve a candidatura salva pelo gongo do Tribunal Superior Eleitoral ao conceder a oportunidade de disputa para os “conta sujas”. O governador Ricardo Coutinho foi prestigiar a convenção de Bayeux e pode ter dores de cabeça, na Assembleia, onde Domiciano sempre demonstrou ser um fiel aliado do Palácio da Redenção, principalmente nas votações mais delicadas.

“CONTAS SUJAS”
A interferência do Judiciário nos processos eleitorais, já no decorrer das campanhas, tem se tornado um fato desagregador, além de trazer à superfície algumas contradições. Essa decisão do TSE, de absolver “contas sujas”, não foi mais do que legalizar o célebre “caixa 2”. Ou seja, uma forma deslavada de desonestidade recebeu aval de um tribunal superior.

PMDB
Ninguém, em sã, consciência, poderia imaginar que o PMDB de João Pessoa se envolvesse em tamanha trapalhada logo após uma convenção prestigiada, como a de José Maranhão. Foi agraciado com a generosa visita do presidente (mesmo interino) da República, Michel Temer, e do presidente nacional (também interino) do PMDB, senador Waldir Raupp. Depois de tanto tempo para estudar, analisar, debater, consultar e decidir, Maranhão chegou à convenção de braços dados com uma crise interna num partido onde ele – e só ele – pode tudo. Se recolocar o partido nos trilhos e vencer, a crise será sepultada. Se perder a eleição, perderão comando para o senador Vital Filho e outras lideranças.

PMDB (2)
Já em Campina Grande, os irmãos Vital deram show de bola na organização da convenção de Tatiana Medeiros e ainda faturaram, de última hora, a visita do presidente (interino) da República, Michel Temer. Nada de turbulências, como em João Pessoa, com um vice – Bruno, filho do deputado Wellington Roberto – escolhido há algumas semanas.

PERGUNTAR NÃO OFENDE
Qual será a próxima confusão no PT da Paraíba? Cartas para… Deixa pra lá.