RADIOGRAFIA DA POLÍTICA: Sob as vistas do Frei Damião, Paulinos e Toscanos reproduzem em 2018 uma polarização histórica em Guarabira; por Felipe Nunes

As famílias Paulino e Toscano, dois clãs tradicionais do brejo paraibano, vão disputar os votos dos guarabirenses em 2018, alimentando uma polarização que divide Guarabira há muitos anos. Os dois grupos, que já marcharam juntos no Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e elegeram sucessivos nomes para governar a cidade, estão rompidos politicamente desde o ano de 2001, quando passaram a disputar entre si a preferência do eleitorado.

A união política das duas famílias acabou como consequência do fatídico e emblemático episódio ocorrido no ano de 1998, no Clube Campestre, em Campina Grande, quando houve o princípio do rompimento entre o então governador José Maranhão e o então senador Ronaldo Cunha Lima. Mais tarde, o clã Toscano seguiu a família Cunha Lima e migrou para o PSDB, enquanto que a família Paulino decidiu ficar no PMDB e apoiar Maranhão.

Hoje a cidade é governada pelo patriarca Zenóbio Toscano, que venceu a última eleição contra Fátima Paulino. Ele obteve 47,23% dos votos contra 34,28% da ex-prefeita, num pleito marcado pela autonomia de Josa da Padaria, terceiro colocado com 17,04%. A ascenção de Josa é fruto da chegada de Ricardo Coutinho (PSB) ao Governo do Estado, mas não pôs fim à polarização entre PSDB e MDB na cidade.

“Nos anos 70 existia basicamente o grupo Paulino. Toscano é um nome trazido pelos Paulino. Havia um outro grupo mais a direita, dos Pimentel e outro ligado aos Aguiar. Em um dado momento, os Aguiar se juntaram aos Paulino e se tornaram um único grupo. Já a família Toscano surgiu depois”, explica o professor de geografia política, Belarmino Mariano Neto.

No quadro abaixo, cedido por Mariano, e publicado em 2015, é possível identificar o período em que cada família governou a cidade.

“Parece que nos bastidores é como se houvesse um reversamento de poder. É como se essa polarização não deixasse surgir novas lideranças na cidade””, opina o professor Mariano.

Eleição de 2018

Hoje Guarabira está representada na Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) pelos deputados Raniery Paulino (MDB) e Camila Toscano (PSDB). Ambos vão tentar a reeleição esse ano. Raniery é filho de Roberto Paulino, ex-prefeito da cidade (1977-1982; 1989-1992), ex-governador da Paraíba (2002) e o maior articulador político do grupo. Camila Toscano (PSDB) é filha do prefeito Zenóbio, que também já exerceu o mandato de deputado estadual (1991-2010). Apesar de adversários políticos, os dois parlamentares mantém uma relação de cordialidade e respeito mútuos no exercício de seus mandatos.

Zenóbio Toscano deve apoiar Lucélio Cartaxo (PV) ao governo do Estado e a candidatura de Cássio Cunha Lima (PSDB) e de Raimundo Lira (PSD) para o senado. Ele deve votar no deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) para a Câmara Federal. A deputada Camila Toscano, no entanto, admite que fará aliança com outros nomes em diferentes regiões do Estado, quando houver apoio recíproco.

O grupo de Roberto Paulino está fechado com José Maranhão (MDB) para o Governo do Estado, mantendo um apoio histórico ao senador. O apoio deverá se estender ao sobrinho dele, Benjamin Maranhão (MDB), para o cargo de deputado federal, e para os candidatos ao Senado na chapa de Maranhão. Uma fonte ligada ao deputado Raniery Paulino também afirma que ele vai apoiar outros candidatos a deputado federal, a depender da cidade.

Fora da polarização

Outro nome que deve disputar os votos em Guarabira é Célio Alves, radialista de Mari, ex-secretário adjunto de comunicação do Estado e eleitor de Ricardo Coutinho. Célio foi um aliado histórico de Cássio Cunha Lima, mas rompeu com o tucano após o a chegada de Coutinho ao Governo do Estado. Ele deve apoiar Gervásio Maia para o cargo de deputado federal e João Azevedo (PSB)  para o Governo do Estado, repetindo a terceira via que houve em Guarabira na eleição municipal de 2016.

Bruno Deril, do Avante, é outro nome guarabierense que deve aparecer nas urnas. Ele vai disputar o cargo de deputado federal. Apesar de não ter apoio de nenhum dos grandes grupos políticos da cidade, está ao lado do projeto político do governador.

Eis aí um cenário pré-eleitoral que anima e alimenta a polarização política, as rodas de conversa nas esquinas e nos bastidores do poder guarabirense. Uma devoção política comparada àquela doada ao Frei Damião, cuja estátua é o principal cartão postal da cidade.

A cidade

Guarabira está situada no agreste paraibano, a 98 km da capital, João Pessoa. A cidade possui cerca de 58 mil habitantes e 38 mil eleitores, de acordo com o IBGE e com o TSE, respectivamente. O comércio é um dos principais pilares da economia local, bem como o turismo religioso. Na cidade, localiza-se o Memorial Frei Damião, situado num dos pontos mais altos da cidade,  e que recebe milhares de fiéis católicos todos os anos. A cultura local é marcada pela ‘Festa da Luz’, um evento tradicional da cidade, conhecido em todo o Nordeste, e que reúne importantes nomes da música local e nacional nos meses de janeiro.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: F.S.N.