Crise

RADIOGRAFIA DA POLÍTICA: Após prisão de prefeito e cassação de vice, Bayeux chegará à eleição em meio a incertezas políticas e graves problemas administrativos

A cidade de Bayeux, marcada pela ausência de infraestrutura e vários problemas administrativos, atravessa uma das mais profundas crises políticas de sua história. No período de um ano, a cidade testemunhou a prisão e o afastamento do prefeito eleito em 2016, Berg Lima (sem partido), a cassação histórica do vice prefeito Luiz Antônio (PSDB), que ocupava o cargo de prefeito interinamente, e a ascensão do vereador Mauri Batista (PSL) ao cargo de prefeito após o impedimento dos titulares. Esse cenário agravou o desarranjo administrativo na cidade, além da descentralização das lideranças políticas locais.

Contextualizando

A cidade de Bayeux experimenta uma crise sem precedentes desde a última eleição municipal, com a vitória de Berg Lima para o cargo de prefeito. Embalada pelo sentimento de mudança que pairava sobre o país, a cidade viu no candidato Berg Lima, que pertencia aos quadros do partido Podemos, uma oportunidade de oxigenar a prefeitura da cidade. Lima obteve uma votação histórica, sagrando-se vitorioso com uma maioria de 10 mil votos sobre o segundo colocado, Expedito Pereira (PSB), que tentava a reeleição.

O prefeito Berg Lima prometia fazer uma gestão diferenciada, focada na eficiência dos serviços públicos, mas só ficou no cargo durante 7 meses. Em julho de 2017, a cidade foi surpreendida com a prisão do prefeito, em uma operação conjunta do Ministério Público e da Polícia Civil da Paraíba. Ele foi detido em flagrante, acusado de receber suposta propina de um fornecedor da prefeitura da cidade.

De acordo com o Ministério Público, o prefeito teria cobrado R$ 11.500 de empresário do gênero gastronômico para quitar dívidas deixadas pela administração anterior. A quantia teria sido entregue de forma fracionada ao próprio prefeito. O recebimento da última parte foi gravado em vídeo pelo Ministério Público. Berg Lima sempre negou as acusações e disse que o valor recebido era na verdade o pagamento de um empréstimo que fora concedido ao empresário.

Com a prisão de Berg Lima, quem assumiu o cargo de forma interina foi o então vice-prefeito Luiz Antônio (PSDB). A ascensão do vice não acabou com a crise política no município. Para complicar a situação, a imprensa paraibana divulgou um vídeo do vice-prefeito também solicitando propina a um empresário. O episódio teria sido gravado um dia antes da prisão de Berg Lima e o dinheiro serviria para pagar o “cabra da fita”. Luiz Antônio sempre negou as acusações que lhe foram imputadas.

Os dois prefeitos foram denunciados pelo Ministério Público. Na Câmara Municipal, várias ações pediam a cassação dos mandatos de ambos os gestores. Os vereadores, porém, decidiram pelo arquivamento das ações contra Berg Lima, e cassaram o mandato do vice-prefeito, que perdeu o cargo. Lima continuou afastado por decisão da Justiça, mas saiu da prisão em novembro de 2017, e agora defende-se das acusações em liberdade. A defesa do prefeito afastado nega todas as acusações que lhe são imputadas.

Atualmente, quem comanda a cidade é Mauri Batista, mais conhecido como Noquinha. Ele exercia a presidência da Câmara Municipal e ascendeu ao cargo de prefeito, conforme manda a legislação vigente.

Política fragmentada em 2018

A fragmentação política que aconteceu após a crise deflagrada em 2017, deverá se refletir esse ano na eleição. Algumas lideranças políticas da cidade tentaram articular uma nova eleição no município, mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou uma resolução e determinou que novas eleições em municípios brasileiros devem acontecer até o mês de junho, inviabilizando a escolha de um novo prefeito para comandar Bayeux. Com isso, a cidade deverá chegar ao pleito nacional de 2018 totalmente dividida e fragilizada.

Apoios e articulações

O atual prefeito interino e um grupo de vereadores declararam, recentemente, apoio à pré-candidatura de João Azevedo ao Governo do Estado. Noquinha deverá apoiar também os nomes de Júlio Roberto e Aguinaldo Ribeiro para os cargos de deputado estadual e deputado federal, respectivamente.

A maioria dos vereadores da cidade ficarão com a candidatura de João Gonçalves para deputado estadual e André Amaral para deputado federal. Dentre esse grupo de vereadores, destaca-se Jeferson Kita, presidente estadual do PSB, e articulador do governador Ricardo Coutinho na cidade. Já o vereador Adriano Martins, do MDB, remanescente do ex-prefeito Jota Júnior, apoiará as candidaturas de José Maranhão ao Governo do Estado e Veneziano para o Senado.

O ex-prefeito Expedito Pereira havia declarado apoio à candidatura de João Azevedo, mas na última sexta-feira (29) entregou carta de desfiliação ao PSB, alegando falta de diálogo com a direção do partido.

A cidade também conta com nomes tradicionais que vão para a disputa em 2018. O ex-deputado Domiciano Cabral, marido da ex-prefeita da cidade Sara Cabral, sairá como candidato a deputado federal pelo Progressistas. Nos bastidores, comenta-se que ele busca o apoio do ex-prefeito Expedito Pereira.

Leo Micena, que foi pré-candidato a prefeito da cidade na última eleição, será candidato a deputado estadual pelo Democratas. Ele vai votar em Efraim Morais para deputado federal. O vereador Inaldo Andrade, do PR, também é pré-candidato a deputado estadual e apoia Wellington Roberto para a Câmara Federal.

História da cidade e política contemporânea

O surgimento da cidade tem ligação com a história da capital João Pessoa, fundada em 1585, sob o nome de Filipeia de Nossa Senhora das Neves. Os primeiros moradores de Bayeux surgiram anos mais tarde e viviam às margens do Rio Sanhauá. Em 1634, o local recebeu a denominação de “Barreiros” por causa de um engenho localizado na região. Em 1944, o território recebeu o nome de Bayeux após sugestão do jornalista Assis Chateaubriand. Bayeux foi distrito de Santa Rita até o ano de 1948 e foi elevada à categoria de cidade em 1959.

Conhecido pelo carisma e popularidade, Lourival Caetano foi um dos políticos mais influentes e notáveis da cidade, tendo vencido eleições para prefeito por três vezes (1964, 1972, 1988)  e uma vez para o cargo de deputado estadual (1978), sempre com votações expressivas. Ele dominou a política Bayeuxense por quase 30 anos, até seu falecimento, no ano de 1992.

O médico Expedito Pereira, herdeiro político de Lourival, foi eleito para o cargo de prefeito de 1996, tendo sido reeleito no ano de 2000. O mandato dele foi cassado no ano de 2002, após acusações de compra de votos. Ele negou as acusações que lhe foram imputados na época. Em seu lugar, assumiu Sara Cabral. No ano de 2004, Sara Cabral perdeu a eleição para o radialista Jota Júnior, candidato apoiado por Expedito Pereira.

Jota Júnior foi eleito com 30 mil votos, a maior votação da história até aquele momento. Ele foi reeleito em 2008 contra seu ex-padrinho, Expedito Pereira. No ano de 2012, no entanto, o médico voltou ao poder após derrotar novamente Sara Cabral.

Em 2016, Sara Cabral apoiou a reeleição de Expedito Pereira, mas a dominação dos dois grupos políticos sobre a política local acabou após a vitória de Berg Lima, em 2016. Esse novo ciclo, no entanto, foi marcado pelo início da maior crise política da cidade, após a prisão e o afastamento do novo prefeito.

Bayeux de luto

No dia 24 de abril de 2017, Bayeux foi surpreendida com a morte do ex-prefeito e apresentador Jota Júnior, que governou a cidade entre os anos de 2005 e 2012. Ele viajava para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde faria tratamento antes de realizar um transplante de pulmão, quando no avião teve uma parada cardíaca. Ele morreu em um hospital de Minas Gerais. O ex-prefeito sofria de uma doença incurável no pulmão, chamada bronquiectasia.  Um ano antes de sua morte, em decorrência da doença, Jota Júnior havia deixado a apresentação do programa Cidade Alerta, na TV Correio, onde trabalhava.

Enquanto prefeito, Júnior fez uma administração considerada importante, tendo sido o responsável por construir obras como o restaurante popular, creches, além da reforma da rede escolar e o asfaltamento das vias por onde circula o transporte coletivo municipal etc. A cidade parou para acompanhar o cortejo fúnebre de Jota Júnior. O corpo dele foi colocado no mausoléu da família Souza, no cemitério de Bayeux, onde também estão os corpos dos seus pais.

Dados

A cidade de Bayeux pertence à região metropolitana de João Pessoa. De acordo com dados do IBGE, a população da cidade atinge quase 97 mil pessoas das quais quase 67 mil são eleitores. O território do município é constituído em 32 km², sendo um dos menores da Paraíba. Na cidade está localizado o Aeroporto Internacional Presidente Castro Pinto, que atende à demanda da Região Metropolitana de João Pessoa, além do 16º Regimento de Cavalaria Mecanizado (16º RCMEC).

A cidade de Bayeux é banhada pelo Rio Sanhauá e 60% de seu território é coberto por manguezal, de onde parte da população tira o sustento. O município atualmente experimenta um aquecimento do comércio local, além da geração de empregos por meio da iniciativa privada. A cidade também já foi considerada uma das maiores produtoras de Sisal do país. A cultura bayeuxense é representada principalmente por festas ligadas ao Caranguejo, símbolo da cidade, como o Festival do Caranguejo, o Carangafest, a corrida de canoas, dentre outros eventos.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba