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POLÍTICA E RELIGIÃO: presença de religiosos na urna pode ferir a laicidade do Estado?

Desde a Constituição de 1988, o Brasil é considerado um país laico, cujo Estado não pode favorecer ou prejudicar nenhuma religião. O mesmo conjunto de leis aprovados naquele ano, garante a liberdade das crenças, sem qualquer tipo de censura. Por isso, assim como outros segmentos sociais, no parlamento também há pessoas ligadas às religiões, que são eleitas para representarem seus eleitores no debate legislativo. Aqui na Paraíba, alguns nomes já conhecidos estarão nas urnas novamente, colocando-se na disputa por um cargo no legislativo.

É o caso do padre e parlamentar federal Luiz Couto. Católico e militante político de esquerda, Couto divide-se entre as ocupações da deputação federal, do professorado na UFPB e do sacerdócio. Ele já foi deputado federal por dois mandatos e foi eleito quatro vezes como deputado federal. Na última eleição, obteve 69.922 votos. Esse ano, seu nome foi sugerido para concorrer à disputa senatorial, mas o Partido dos Trabalhadores informou que ele deverá mesmo ser candidato à reeleição. Na Câmara, além de defender as pautas ligadas à sua filosofia política e a seu partido, o parlamentar também se destaca na luta contra o crime organizado.

Outro que deverá entrar na disputa desse ano é o deputado estadual Frei Anastácio, também do Partido dos Trabalhadores. Anastácio é um frade franciscano ligado aos movimentos sociais de esquerda e à teologia da libertação. Ele está na militância política desde o ano de 1973, quando participava da Organização do Movimento dos Trabalhadores Rurais, e já foi coordenador da Comissão Pastoral da Terra. Anastácio foi eleito deputado estadual pela primeira vez em 1998, depois em 2002, 2010 e mais uma vez em 2014.

Tanto Luiz Couto quanto Frei Anastácio são adeptos da ‘Teologia da libertação’, corrente nascida no meio católico, e que interpreta o Evangelho a partir de uma cosmovisão política de esquerda. Por acreditar que os ensinamentos de Jesus servem para libertar o homem das injustiças sociais, políticas e econômicas, tal corrente é acusada de deturpação dos evangelhos e é fortemente criticada por sua relação com ideias marxistas.

Além de católicos, há também sacerdotes neo-pentecostais na seara política paraibana, a exemplo do Bispo José Luiz, da Igreja Universal do Reino de Deus, que é vereador de João Pessoa e pré-candidato a deputado federal. Ele faz parte dos quadros da IURD há mais de 30 anos e está licenciado da igreja para atuar na política. Em 2014, foi candidato a deputado federal, obtendo 30 mil votos e ficando na suplência. Elegeu-se para o cargo de vereador no ano de 2016, tendo sido o 11º vereador mais votado, com 4.985 votos.

O pastor Jutay Meneses, também da Universal, é deputado estadual e vai disputar à reeleição em outubro. Ele é presidente do PRB na Paraíba e atualmente está no segundo mandato. Ele é vice-presidente da Comissão de Educação, Cultura e Desportos, e membro da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB).

De acordo com o professor da UFPB e cientista político Pedro Sabino, os religiosos podem fazer política e exercer o poder político, desde que o foco dele seja o interesse público e não o fortalecimento da religião à qual pertencem.  “O interesse religioso, embora não seja o interesse público, abrange uma coletividade, um grupo de adeptos da religião, e isso enseja a participação de sacerdotes ou candidatos pertencentes da religião”, explicou.

Há hoje uma confusão entre os conceitos entre o poder do Estado e o poder religioso, muitas vezes havendo uma relação promíscua entre ambos, de acordo com Pedro Sabino. Ele acredita que a confusão se estende também a outras áreas, quando se criam partidos para servir a interesses de grupos específicos da sociedade, e defende que as agremiações políticas precisam defender os interesses do bem comum.  “O bem comum não pode ser contaminado por nenhum interesse, seja religioso, seja particular, ou qualquer outro”, disse.

Não pode ser considerado um erro a presença de agentes religiosos na política, desde que sejam resguardadas as condições citadas acima, de acordo com o professor. “Ele antes de ser religioso, é um cidadão, e como tal ele tem que ser coerente com a atividade parlamentar. O religioso, se realmente for alguém que acredita na espiritualidade e na transcendência, ele tende a ser um bom estadista, porque ele foca naquilo que temos em comum, que é o espírito. Ele não vai privilegiar o interesse de alguns em detrimento dos demais”, resumiu.

 

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba