JOÃO PESSOA NÃO ERA UM SANTO

JUSTIÇA 87 ANOS DEPOIS: Diário conta como silêncio de um homem tornou João Pessoa herói depois da sua morte

"A questão é que, como revela Osias, todas as notas e matérias sobre as famílias Dantas e Suassuna eram ditadas pelo próprio João Pessoa, que aparecia no jornal sempre no final da tarde para isso. A visita a Recife também foi de responsabilidade do próprio João Pessoa", relata o autor do livro.

José Caitano de Oliveira, escritor, falou com o Master News nessa quarta (20) e comentou o seu último lançamento: O Diário Secreto de Osias Gomes – A Morte Anunciada de João Pessoa.

Na época, Osias, homem forte de João Pessoa,  foi acusado de expor em A União a agenda do governante em Recife, informação que pode ter levado a João Dantas aparecer na Confeitaria Glória e ter assassinado o político. João Dantas, rival político de João Pessoa, teve como motivo para o assassinato a exposição de cartas íntimas com a sua amante, a professora Anaíde Beiriz.

“A questão é que, como revela Osias, todas as notas e matérias sobre as famílias Dantas e Suassuna eram ditadas pelo próprio João Pessoa, que aparecia no jornal sempre no final da tarde para isso. A visita a Recife também foi de responsabilidade do próprio João Pessoa”, relata o autor do livro.

Mas para a construção histórica de que João Pessoa morreu em um crime político, Osias teve que ser silenciado por quase 20 anos. Para não falar sobre o o crime seria motivado pela honra e não pela política, Osias foi preso como mentalmente incapaz no Manicômio Juliano Moreira.  “Ele foi preso para não falar sobre o que sabia e atrapalhar os planos dos governantes da época”, afirma o historiador e advogado. Osias seguiu preso por quase dois anos e ficou por mais vinte em quase que total obscuridade.

Para melhor servir a Revolução de 30, o cadáver de João Pessoa ficou insepulto por quase duas semanas, tempo gasto entre o velório no Palácio do Governo da Paraíba e numa viagem de navio para ser enterrado no Rio de Janeiro, a capital do Brasil. Na tarde do dia 8 de agosto, o líder paraibano foi finalmente enterrado no cemitério São João Batista. Em 4 de setembro do mesmo ano a capital da Paraíba ganhou o nome de João Pessoa. Em outubro,  derrubaram o governo de Washington Luís e colocaram

O escritor revela que os caminhos que levaram o diário de Osias as suas mãos demoraram mais de 20 anos. Osias deixou a responsabilidade de publicação do diário a seu neto, mas sob uma condição: “Publique vinte anos depois da minha morte”. Assim sendo, o mito de que João Pessoa fosse um mártir da política se desfaz quase 87 anos depois.

Créditos: Polêmica Paraíba