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Pessimismo do eleitorado no Brasil desafia os líderes e analistas políticos

 

Líderes e analistas políticos de variadas tendências estão debruçados com uma ponta de inquietação na leitura das entrelinhas de recente pesquisa CNI/Ibope, sinalizando que o eleitorado brasileiro está majoritariamente pessimista em relação às eleições gerais deste ano para presidente da República, senadores e deputados. Há 20% dos entrevistados que constituem a parcela dos otimistas, mas 44% esperam o pior e 23% não têm expectativa nenhuma, “não estão nem aí para a hora do Brasil”, como define Dora Kramer, colunista da revista “Veja”. Na soma dos pessimistas e dos céticos, constata-se que há quase 70% de eleitores “enfadados”, também denominados de “zangados” ou “indiferentes”, para quem não há importância na realização de eleições.

“Nem parece que o Brasil se mobilizou há 34 anos pelo direito ao voto direto para presidente”, avalia Dora Kramer, ponderando que os números desanimadores da pesquisa são condizentes com o rebuliço em curso no país. “Surpreendente, preocupante até, seria se a amostra revelasse um eleitor feliz da vida, confiante num mundo melhor a partir de sete de outubro, no caso de definição do pleito em primeiro turno ou três semanas depois, se houver segunda chamada. Com todas as ressalvas, a colunista sugere que é possível enxergar pontos de luz no cenário sombrio que se descortina. Na sua linha de raciocínio, onde grassa o pessimismo, pode vir a vicejar o realismo e, com ele, uma posição mais rigorosa por parte do eleitorado. Por exemplo: pode muito bem vir a se formar uma tendência pela escolha de candidatos com base em critérios racionais no lugar dos entusiasmados impulsos emocionais tão celebrados pelos defensores dos “perfis carismáticos”.

Nesse quadro, ainda hipotético, prevaleceria o eleitor pé no chão, semelhante àquele que em 1994 escolheu Fernando Henrique Cardoso sem saber direito quem era o homem, mas sabendo perfeitamente quanto haviam caído, desde o ano anterior, os índices de inflação, em contraposição ao eleitor “cabeça de vento” que em 1989 elegeu Fernando Collor a bordo da ilusória caçada aos marajás, entre outras fantasias, e treze anos depois caiu no conto da ética na política escrito pelo PT. Para Dora Kramer, um eleitorado pessimista dá mais trabalho aos candidatos, que antes de qualquer coisa precisam tirar seus potenciais votantes desse estado melancólico. Na atual conjuntura de descrença generalizada, é uma tarefa difícil mas não impossível.

Na amostra, há uma espécie de “programa mínimo” de exigências do cidadão. Nada muito complicado: 89% acham fundamental que o postulante conheça o país, 77% que tenha conhecimento da economia, 74% consideram essencial que conte com uma boa formação escolar, contrariando a tese do outsider, 72% acham necessário que a pessoa tenha experiência em gestão pública, de preferência como prefeito ou governador. E, para 87% conviria que a excelência não mentisse na campanha. O que leva a colunista Dora Kramer a ponderar: “Como se vê, um cardápio de conteúdo bastante racional, o que aproxima a hipótese aventada acima da realidade e indica que do pessimismo não é devaneio esperar bons resultados”.

Por Nonato Guedes

Fonte: OS GUEDES
Créditos: OS GUEDES