providências corretivas

PRIMEIRO MÊS: O tom de João Azevedo e a intervenção cirúrgica nos focos de desgaste - Por Nonato Guedes

O governo Azevedo é que deve se empenhar ao máximo para manter uma boa relação com os deputados situacionistas, tanto porque o gestor não tem tradição política como porque tem a concorrência velada e onipresente do ex-governador Ricardo Coutinho, que se mantém politicamente na ativa.

O tom de Azevedo e a intervenção cirúrgica nos focos de desgaste

Por Nonato Guedes

Há uma expectativa natural sobre o tom que o governador João Azevedo adotará na mensagem ao Poder Legislativo da Paraíba, sobretudo depois da reviravolta que se operou nos bastidores da eleição das Mesas Diretoras para os dois biênios, em que a desarticulação do próprio esquema governista favoreceu a dupla vitória do deputado Adriano Galdino para um mandato de quatro anos, numa operação habilidosa engendrada pelo deputado Tião Gomes, como uma sutil represália ao desprestígio que tem tido na base oficial.

Não se acredita que Adriano e outros parlamentares recalcitrantes com a inabilidade política do Palácio da Redenção vá prejudicar projetos de interesse da nova gestão, que beneficiem a população paraibana. Pelo contrário, o espírito é de cooperação ou de colaboração diante da cobrança a que os próprios deputados estão submetidos no sentido de fazer valer o chamado espírito público.

Em última análise, o presidente Adriano Galdino mantém-se na base governista e não tem emitido declarações de hostilidade ao governador João Azevedo, além do desabafo proclamado no calor da emoção de duas vitórias consecutivas sobre o reconhecimento que o seu papel parlamentar deve ter, até por já ter presidido a Casa de Epitácio Pessoa, antecedendo a gestão de Gervásio Maia, que ele agora sucede.

O governo Azevedo é que deve se empenhar ao máximo para manter uma boa relação com os deputados situacionistas, tanto porque o gestor não tem tradição política como porque tem a concorrência velada e onipresente do ex-governador Ricardo Coutinho, que se mantém politicamente na ativa.

O maior “imbróglio” que não pode ser desconhecido na conjuntura atual diz respeito à controvérsia sobre as denúncias envolvendo a Cruz Vermelha do Brasil na gestão do Hospital de Trauma e Emergência Senador Humberto Lucena. João Azevedo foi rápido no gatilho, diante dos indícios de desvio de volumosa quantia de dinheiro, originalmente destinada à Saúde pública na Paraíba e que foi para o ralo da corrupção, conforme apurações que estão sendo feitas.

É claro que o governo está na berlinda diante do cumprimento de mandados de busca e apreensão em casas de secretários do governo como Waldson de Souza e Livânia Farias, remanescentes da gestão Ricardo Coutinho, bem como a determinação de prisão contra ex-assessor do governo. O assunto foi abordado, ontem, pelo “Fantástico”, da Rede Globo, mas sem a dimensão de escândalo que vinha sendo cogitada nos meios políticos.

A postura oficial do governador João Azevedo tem sido a de demonstrar que está tomando as providências corretivas que a Lei determina – e, mais ainda, que está inteiramente aberto à colaboração com o Ministério Público e com outros órgãos de investigação para elucidação plena dos fatos enunciados. Há um esforço deliberado para evitar a conotação de bomba de efeito retardado que teria sido deixada como suposto presente de grego do antecessor Ricardo Coutinho, mentor da contratação da Cruz Vermelha para administrar hospitais de complexidade, para o sucessor João Azevedo.

Os focos oposicionistas que resistem neste início de governo Azevedo, evidentemente, procuram tirar proveito, até para incompatibilizar Ricardo e João e para fragmentar a chamada unidade situacionista que vinha sendo apregoada.

O secretário de Comunicação, Luís Torres, busca operar como algodão entre cristais, minimizando a extensão das denúncias e desqualificando comparações ou analogias entre o episódio verificado em hospitais da Paraíba e graves irregularidades aparentemente detectadas no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, berço da Cruz Vermelha.

O que não pode, da parte do governo de João Azevedo, é transigir com relação à apuração de irregularidades e, menos ainda, quanto à observância do princípio da transparência, que é elementar, especificamente nestes tempos de intensa cobrança social. Mas não é o caso de ver chifre em cabeça de cavalo.

Vamos aguardar os desdobramentos para aferir até que ponto o novo governo está comprometido com os princípios que alardeou durante a temporada eleitoral.

Nonato Guedes

Fonte: Nonato guedes
Créditos: nonato guedes