AVANÇO DA DIREITA

Sebastián Piñera toma posse hoje como presidente do Chile

Cerimônia está prevista para às 12h e terá presença de Michel Temer, entre outros presidentes latinos. Esta é a segunda vez que Bachelet passa a faixa presidencial a Piñera, que já governou o Chile entre 2010 e 2014

O empresário bilionário Sebastián Piñera toma posse neste domingo (11) como presidente do Chile. Ele, que já foi presidente entre 2010 e 2014, deve enfrentar o desafio de governar com um Congresso dividido e a pressão de movimentos sociais que desejam aprofundar as reformas que a socialista Michelle Bachelet deixou inconclusas.

Piñera venceu em segundo turno as eleições presidenciais de dezembro, derrotando o adversário de centro-esquerda Alejandro Guillier. Sua vitória é vista como o último exemplo do avanço da direita na América Latina.
A cerimônia de posse está prevista para às 12h de Brasília e será realizada no Congresso Nacional chileno, em Valparaíso. Esta é a segunda vez que Bachelet passa a faixa presidencial a Piñera, já que em 2010 ele também sucedeu a mandatária de esquerda.

Entre as presenças confirmadas estão os presidentes Michel Temer, Maurici Macri, da Argentina, Enrique Peña Nieto, do México, Pedro Pablo Kuczynski, do Peru, e Lenín Moreno, do Equador. Depois da cerimônia, Piñera deve ir a Cerro Castillo para almoçar com seus convidados e, depois, viajará à capital Santiago, onde pronunciará seu primeiro discurso como presidente.

Primeira mulher a assumir a presidência do Chile, em 2006, Bachelet termina seu segundo mandato com 30% de popularidade, muito abaixo dos 80% registrados ao final de seu primeiro governo, em meio a opiniões divididas sobre o alcance de suas reformas.

“Sinto que saio pela porta da frente, porque, embora desejássemos fazer algumas coisas mais rápido ou melhor, me sinto orgulhosa do que fizemos”, afirmou a socialista na semana passada.

Gabinete

Em janeiro, Piñera anunciou os membros de seu gabinete, que foi criticado por alguns partidos por ter um aspecto econômico acentuado.

Seu gabinete será composto por 7 ministras incluindo – Cecilia Pérez, a cargo da Secretária-geral de Governo – e 16 ministros, entre eles homens de sua extrema confiança em cargos-chave. Seis membros de seu novo gabinete já tinham sido ministros em seu primeiro governo. Cinco são do partido Renovação Nacional (RN), que representa setores da direita tradicional chilena.

Um dos velhos conhecidos de Piñera é o renomado economista Felipe Larraín, nomeado para mais uma vez ocupar o Ministério da Fazenda.

Piñera venceu as eleições com a promessa de reativar uma economia que com a socialista Michelle Bachelet cresceu cerca de 2% nos últimos anos. Os empresários aguardam com expectativa o início de um governo que prometeu incentivos aos investimentos, recuperação da capacidade de crescimento do país, a reforma da Previdência, a criação de empregos e a redução da pobreza e da desigualdade social.

As medidas econômicas serão beneficiadas pelo aumento do preço do cobre – motor da economia do país – e um Produto Interno Bruto (PIB) que avançou 3,9% em janeiro. Como ministro de Mineração do principal país produtor mundial de cobre foi nomeado o legislador Baldo Prokurica.

Dois dos nomes criticados são Alfredo Moreno, líder empresarial que assumirá o ministério de Desenvolvimento Social, e Gerardo Varela, advogado que se opôs à reforma da Educação e a gratuidade das universidades promovida por Bachelet e que será o futuro ministro da Educação.

Para ocupar o cargo de chanceler, foi nomeado o escritor Roberto Ampuero, que já esteve à frente do Conselho Nacional de Cultura e foi embaixador do Chile no México. O escritor, conhecido por seus romances policiais, terá como principal desafio enfrentar uma etapa-chave do julgamento que o Chile sustenta em Haia pela demanda marítima da Bolívia. A ponta do iceberg de um conflito bilateral histórico que se reativou desde a chegada do boliviano Evo Morales ao poder.

Além disso, Ampuero terá que lidar com a participação ativa do Chile na diplomacia latino-americana, em especial seu papel de garantidor no diálogo entre o governo de Nicolás Maduro e a oposição.

Reformas de Bachelet

Bachelet deixará para o sucessor uma série de reformas – algumas ainda não finalizadas, outras em pleno trâmite de aprovação -, com as quais tentou apagar elementos da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e dotar o Chile de uma rede maior de proteção social.

Em seus últimos dias como presidente, Bachelet assinou e enviou para o Congresso um projeto de reforma que propõe uma nova Constituição para o país – a atual data dos tempos da ditadura de Augusto Pinochet-, uma aspiração antiga dos parlamentares da esquerda e do centro com os quais Piñera terá que governar.

No campo social, Piñera terá que administrar a agenda de direitos civis e de gênero de Bachelet.

O atual governo apresentou um plano de lei de identidade de gênero que estabelece o direito de mudar o nome e o sexo no registro civil. Após a atriz transgênero Daniela Veja ser premiada pelo Oscar de melhor filme estrangeiro (Uma Mulher Fantástica), Bachelet impôs “suma urgência” ao projeto de lei.

O novo presidente também definirá se acelera ou congela a tramitação da lei do casamento igualitário, estimulada pela socialista.

Durante a sua campanha para o primeiro turno, Piñera anunciou que reverterá ou modificará as principais reformas realizadas pela presidente socialista na tributação e na educação. O ex-presidente também disse que mudaria a atual lei do aborto, que descriminaliza a prática em situações específicas.

No entanto, após o resultado do primeiro turno, quando a esquerda conquistou mais votos do que o esperado, mudou algumas de suas principais propostas. Passou a defender a continuidade do sistema de ensino gratuito implementado por Bachelet e ampliá-lo a setores mais pobres. Também deixou de se posicionar em relação à lei do aborto.

Trajetória

Nascido em Santiago em 1949 em uma família de classe média, Sebastián foi o terceiro dos cinco filhos de Magdalena Echenique e José Piñera, um engenheiro e diplomata que participou da fundação da Democracia Cristã.

Piñera se formou em Engenharia Comercial na Universidade Católica do Chile e cursou mestrado e doutorado em Economia na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, onde também foi professor assistente. Também deu aula em universidades chilenas.

Foi consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do Banco Mundial e trabalhou na Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal).

Na década de 1970 Piñera fundou sua primeira empresa, a construtora Toltén, vendida mais tarde por US$ 2 milhões, segundo o jornal “El Mercúrio”. Em 1978 o empresário conseguiu a representação no Chile para os cartões de crédito Visa e Mastercard e, então, criou o Bancard.

Foi gerente-geral dos bancos Talca e Citicorp-Chile, presidente da Apple no Chile e acionista de algumas empresas, entre elas a Lan Chile (agora Latam, após a fusão com a brasileira TAM). Em 2004, comprou a TV Chilevisión e foi o maior acionista da empresa controladora do time de futebol Colo-Colo.

Piñera ingressou na carreira política em 1990, quando foi eleito senador e, depois de eleito com uma candidatura independente, ingressou no partido Renovação Nacional. Em 1993, o partido o considerou lançar como candidato presidencial, o que não ocorreu por causa do escândalo conhecido como “Piñeragate”. Nele, Piñera foi pego em escutas telefônicas pedindo para que fosse privilegiado em um debate.

Foi candidato presidencial em 2005, após presidir o partido entre 2001 e 2004, mas perdeu no segundo turno para Michelle Bachelet com 46,5% dos votos. Em 2009 foi novamente candidato presidencial, sendo eleito no ano seguinte com 51,61% dos votos contra o ex-presidente Eduardo Frei.

Fonte: G1
Créditos: G1