Ditadura bolivariana

Na Venezuela, presidente da Assembleia Nacional é preso, mas acaba liberado pouco depois

Guaidó, um engenheiro de 35 anos, era, até pouco tempo atrás, um deputado pouco conhecido, mas a perseguição aos principais opositores do regime o levou para a liderança das forças contrárias a Maduro. Ele foi eleito deputado em 2015, pelo estado de Vargas, com quase 100 mil votos.

CARACAS — O presidente da Assembleia Nacional (AN) da Venezuela, Juan Guaidó, foi preso neste domingo por agentes do Serviço de Inteligência Bolivariana (Sebin) em uma estrada que liga Caracas a La Guaira, capital do estado de Vargas, no Norte do país, onde ele era esperado para uma reunião. O deputado foi solto quase uma hora depois.

Segundo a mulher de Guaidó, Fabiana Rosales, os agentes de inteligência teriam retirado o presidente da AN à força de seu carro. Um vídeo que mostra a ação foi divulgado no Twitter pelo partido Vontade Popular, fundado por ele, que faz oposição ao presidente Nicolás Maduro.

Na última sexta-feira, Guaidó declarou-se disposto a assumir a Presidência, num possível governo de transição na Venezuela. Em discurso, ele disse que a Constituição venezuelana o legitima a assumir o poder em uma transição depois que o Legislativo, de maioria opositora desde as eleições de 2015, declarou Maduro um “usurpador”.

Solto uma hora dpeois da prisão neste domingo, Guaidó chegou ao palanque onde participaria de um ato público e disse à plateia ter sido vítima de um “golpe de Estado”, reafirmando que tem direito de assumir o poder, segundo a Constituição do país.

— Denunciamos um golpe de Estado contra o presidente legítimo da Assembleia Nacional e toda a Venezuela — afirmou no discurso.

No Twitter, pouco antes, havia escrito: “Já estou no meu berço, no meu estado Vargas. O regime tentou me impedir, mas nada e ninguém vai nos impedir. Aqui continuamos em frente para a nossa Venezuela”.

O ministro de Comunicação e Informação do governo Maduro, Jorge Rodríguez, declarou a detenção de Guaidó como “irregular” e como uma ação “individual” de funcionários da Sebin que, segundo ele, foram “destituídos”.

De acordo com o presidente da Assembleia Nacional, a reeleição de Maduro, cujo novo mandato deve durar até 2025, infringiu três artigos da Constituição de 1999. Por isso, para restituir a ordem constitucional, pediu aos cidadãos, e especialmente às Forças Armadas, a não reconhecerem a posse do presidente.

Manuel Rosales, líder do partido Nuevo Tiempo, que também integra a oposição de Maduro, afirmou no Twitter que a prisão de Guaidó foi “um ultraje”.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, descreveu o incidente como um sequestro. Segundo ele, que chama Guaidó de presidente interino, “a comunidade internacional deve parar os crimes de Maduro e seus asseclas”.

Prisão será discutida no Brasil

O episódio também foi condenado em Buenos Aires. Em nota, o governo argentino afirmou que a prisão de Guaidó “atenta contra as liberdades civis e políticas dos venezuelanos (…) ratifica a imperiosa necessidade de restabelecer na Venezuela uma ordem democrática e o respeito aos direitos humanos”.

Neste sábado, o chanceler argentino, Jorge Faurie, afirmou que Buenos Aires reconhece a Assembleia Nacional, presidida por Guaidó, como “a única autoridade legítima” na Venezuela, já que a reeleição de Maduro teria ocorrido em um “processo manipulado”.

Ainda de acordo com Faurie, o presidente argentino Mauricio Macri e Jair Bolsonaro “emitirão um pronunciamento conjunto” sobre a Venezuela na próxima quarta-feira, quando ambos se encontrarão em Brasília.

Guaidó, um engenheiro de 35 anos, era, até pouco tempo atrás, um deputado pouco conhecido, mas a perseguição aos principais opositores do regime o levou para a liderança das forças contrárias a Maduro. Ele foi eleito deputado em 2015, pelo estado de Vargas, com quase 100 mil votos.

Fonte: O Globo
Créditos: O Globo