Crime descomunal

Há 82 anos os Nazistas começavam o seu repugnante programa de reprodução humana

O nome era A Fonte da Vida - Lebensborn. E a ideia era produzir uma "raça" ideal pelo mesmo método de um criador de cachorros. Na grande criação de gente dos nazistas, no lugar de "buldogues", entravam "arianos".

O Lebensborn tentou criar gente ‘ariana’ como se cria um cachorro de raça – e arrancou crianças dos braços de seus pais para encontrar os genes ‘desejáveis’

O nome era A Fonte da Vida – Lebensborn. E a ideia era produzir uma “raça” ideal pelo mesmo método de um criador de cachorros. Na grande criação de gente dos nazistas, no lugar de “buldogues”, entravam “arianos”.

Padrão ariano

O programa foi desenvolvido em 1935 pelo segundo no comando Heinrich Himmler. E terminaria por ser expandido para os países ocupados pela Alemanha. Inicialmente o projeto “selecionava” e encorajava mulheres a ter relações sexuais com oficiais da SS. Essas mulheres davam a luz em maternidades construídas especificamente para o programa e, caso não quisessem ficar com as crianças, o projeto mediava a adoção por pais “racialmente puros e saudáveis” – particularmente os membros da SS e suas famílias. Mães solteiras também podiam entrar e doar, caso fossem classificadas como “racialmente valiosas”.

Uma das maternidades do programa

Como raças de cachorro tem seus padrões estipulados pelos kennel clubs, nazistas tinham o seu padrão ideal. O que não é preciso muita imaginação para saber qual: os membros do programa (ou seus pais) deviam ser altos, brancos, musculosos, de olhos azuis e cabelos loiros.

Sequestro

Acima, Himmler cumprimenta o patrão. Note como – obviamente ninguém levantaria essa questão então – os alemães nem sempre atendiam às especificações do pedigree favorito dos nazistas. Por isso os nazistas não se contentaram com o estoque genético local. Foram buscar fora as características que queriam.

Em 1939, começaram a arrancar crianças de seus pais. O alvo principal era a Iugoslávia e Polônia, mas também a Rússia, Ucrânia, Checoslováquia, Romênia, Estônia, Letônia. A nórdica Noruega não ficou de fora. Eslavos eram vistos como naturalmente inferiores pelos nazistas, mas eles acreditavam ser capazes de identificar os “arianos” entre eles – afinal, o maior “filósofo” do nazismo, Alfred Rosenberg, era estoniano, só parcialmente alemão.

De acordo com os documentos da Lebensborn, a justificativa dada por Himmler pelos sequestros foi que “É nosso deve tirar as crianças de seu ambiente e levá-las conosco. Ou ganhamos um sangue bom para usar para nós mesmos e damos um lugar para ele em nosso povo, ou o destruímos”. Isto é, era melhor poupar os conquistados com valor genético do destino do resto de sua civilização, a aniquilação.

Chegando na Alemanha, essas crianças passavam por testes onde eram dividas em três grupos: as desejáveis e aceitáveis, que seriam futuramente mescladas à população alemã.

E as indesejáveis.

A captura de uma criança em Zamość, Polônia

Crianças rejeitadas eram executadas imediatamente por injeções letais ou gás – o mesmo método usado para se livrar dos deficientes mentais e físicos. Ou enviadas a trabalhar até a morte em campos de extermínio.

As aceitas, se entre 2 e 6 anos, eram colocadas para adoção por famílias de voluntários do programa. As mais velhas eram mandadas para internatos alemães. Elas recebiam um nome em alemão e eram forçadas a apagar da mente sua língua, cultura e origem.

Uma das crianças no segundo grupo foi Erika Matko, que chegou aos 9 meses de idade da Eslovênia e foi transformada em Ingrid von Oelhafen. Aos 58 anos, descobriu a farsa de sua adoção e começou uma caçada pelos documentos que indicavam sua origem. Matko contou toda a sua trajetória no livro As Crianças Esquecidas de Hitler. Veja um trecho de seu depoimento:

A dor e sofrimento que reprimi a vida inteira vieram á tona. Eu estava com raiva de todas as pessoas envolvidas na minha história. Raiva de Hitler e Himmler pela ordem de me raptar e me negar o amor de minha família; raiva de Inge Viermetz e dos oficiais de Lebensborn por esconder minha verdadeira identidade e me reinventar como uma criança alemã. Eu tinha ódio do que os nazistas fizeram comigo e com todas as vítimas de sua obsessão pelo sangue puro e pela raça ariana dominante.
Ingrid von Oelhafen

Fim do programa

Não se sabe quantas crianças foram sequestradas. Ao perceberem que iriam perder, os nazistas trataram de queimar os arquivos.

Estimativas feitas pelo governo polonês sugerem que 10 mil crianças foram tomadas e menos de 15% devolvidas a suas famílias biológicas. Já estimativas feitas pelo historiador australiano Dirk Moses sugerem que esse número é o dobro. A maioria dessas crianças não teve a (duvidosa) sorte de Matko em descobrir seu passado.

Quanto às mulheres que participaram do programa, foram escorraçadas pela sociedade. Tinham o cabelo raspado, as roupas rasgadas, foram espancadas e desfiladas pela cidade – por uma população que, dias antes, ainda jurava fidelidade ao Fuhrer. Certamente alguns deles ainda cuidando de crianças tomadas de longe.

Saiba mais

 

Fonte: Aventuras na História
Créditos: nome era A Fonte da Vida – Lebensborn. E a ideia era produzir uma “raça” ideal pelo mesmo método de um criador de cachorros. Na grande criação de gente dos nazistas, no lugar de “buldogues”, entravam “arianos”. Padrão ariano O programa foi desenvolvido em 1935 pelo segundo no comando Heinrich Himmler. E terminaria por ser expandido para os países ocupados pela Alemanha. Inicialmente o projeto “selecionava” e encorajava mulheres a ter relações sexuais com oficiais da SS. Essas mulheres davam a luz em maternidades construídas especificamente para o programa e, caso não quisessem ficar com as crianças, o projeto mediava a adoção por pais “racialmente puros e saudáveis” – particularmente os membros da SS e suas famílias. Mães solteiras também podiam entrar e doar, caso fossem classificadas como “racialmente valiosas”. Wikimedia Commons Uma das maternidades do programa Como raças de cachorro tem seus padrões estipulados pelos kennel clubs, nazistas tinham o seu padrão ideal. O que não é preciso muita imaginação para saber qual: os membros do programa (ou seus pais) deviam ser altos, brancos, musculosos, de olhos azuis e cabelos loiros. Getty Images Sequestro Acima, Himmler cumprimenta o patrão. Note como – obviamente ninguém levantaria essa questão então – os alemães nem sempre atendiam às especificações do pedigree favorito dos nazistas. Por isso os nazistas não se contentaram com o estoque genético local. Foram buscar fora as características que queriam. Em 1939, começaram a arrancar crianças de seus pais. O alvo principal era a Iugoslávia e Polônia, mas também a Rússia, Ucrânia, Checoslováquia, Romênia, Estônia, Letônia. A nórdica Noruega não ficou de fora. Eslavos eram vistos como naturalmente inferiores pelos nazistas, mas eles acreditavam ser capazes de identificar os “arianos” entre eles – afinal, o maior “filósofo” do nazismo, Alfred Rosenberg, era estoniano, só parcialmente alemão. De acordo com os documentos da Lebensborn, a justificativa dada por Himmler pelos sequestros foi que “É nosso deve tirar as crianças de seu ambiente e levá-las conosco. Ou ganhamos um sangue bom para usar para nós mesmos e damos um lugar para ele em nosso povo, ou o destruímos”. Isto é, era melhor poupar os conquistados com valor genético do destino do resto de sua civilização, a aniquilação. Chegando na Alemanha, essas crianças passavam por testes onde eram dividas em três grupos: as desejáveis e aceitáveis, que seriam futuramente mescladas à população alemã. E as indesejáveis. A captura de uma criança em Zamość, Polônia Crianças rejeitadas eram executadas imediatamente por injeções letais ou gás – o mesmo método usado para se livrar dos deficientes mentais e físicos. Ou enviadas a trabalhar até a morte em campos de extermínio. As aceitas, se entre 2 e 6 anos, eram colocadas para adoção por famílias de voluntários do programa. As mais velhas eram mandadas para internatos alemães. Elas recebiam um nome em alemão e eram forçadas a apagar da mente sua língua, cultura e origem. Uma das crianças no segundo grupo foi Erika Matko, que chegou aos 9 meses de idade da Eslovênia e foi transformada em Ingrid von Oelhafen. Aos 58 anos, descobriu a farsa de sua adoção e começou uma caçada pelos documentos que indicavam sua origem. Matko contou toda a sua trajetória no livro As Crianças Esquecidas de Hitler. Veja um trecho de seu depoimento: A dor e sofrimento que reprimi a vida inteira vieram á tona. Eu estava com raiva de todas as pessoas envolvidas na minha história. Raiva de Hitler e Himmler pela ordem de me raptar e me negar o amor de minha família; raiva de Inge Viermetz e dos oficiais de Lebensborn por esconder minha verdadeira identidade e me reinventar como uma criança alemã. Eu tinha ódio do que os nazistas fizeram comigo e com todas as vítimas de sua obsessão pelo sangue puro e pela raça ariana dominante. Ingrid von Oelhafen Fim do programa Não se sabe quantas crianças foram sequestradas. Ao perceberem que iriam perder, os nazistas trataram de queimar os arquivos. Estimativas feitas pelo governo polonês sugerem que 10 mil crianças foram tomadas e menos de 15% devolvidas a suas famílias biológicas. Já estimativas feitas pelo historiador australiano Dirk Moses sugerem que esse número é o dobro. A maioria dessas crianças não teve a (duvidosa) sorte de Matko em descobrir seu passado. Quanto às mulheres que participaram do programa, foram escorraçadas pela sociedade. Tinham o cabelo raspado, as roupas rasgadas, foram espancadas e desfiladas pela cidade – por uma população que, dias antes, ainda jurava fidelidade ao Fuhrer. Certamente alguns deles ainda cuidando de crianças tomadas de longe. Saiba mais