"Nem fama, nem dinheiro"

Lyoto Machida diz que chance de ser campeão é a sua maior motivação

Em 2009, Lyoto Machida se tornava campeão meio-pesado do UFC, mas perderia o título um ano depois. Em 2011, voltou a disputar o cinturão da categoria com Jon Jones, quando acabou derrotado. Três anos depois, uma nova chance, dessa vez no peso-médio, com derrota para Chris Weidman. Suficiente na carreira do lutador de 39 anos? Não. Às vésperas de retornar ao octógono depois de um ano e meio suspenso por doping, o carateca garante que o que o mantém na ativa é o sonho de poder ostentar o cinturão novamente.

– Sonho de ser campeão é o que me sustenta. Voltar a lutar por uma questão de fama, ou por uma questão financeira, só por algo assim, não faz sentido para a minha vida. Sou um cara que foi criado dentro do esporte, fui criado dentro da filosofia oriental, em que ela é muito mais interna do que externa. Não tem esse negócio de querer mostrar para os outros, é um desafio interno meu. Esse pensamento é o que eu vivo.

Lyoto, que enfrenta Derek Brunson na luta principal do UFC São Paulo, no sábado, sabe que o tempo é curto para isso, e quer ter uma nova chance o mais rápido possível. Antes, precisa passar pelo americano número 7 do ranking na lista até 84kg, e se recuperar das duas derrotas que tem nas últimas lutas, contra Luke Rockhold e Yoel Romero.

– Quero lutar pelo cinturão o mais rápido que puder, assim que tiver oportunidade. Quero fazer uma grande luta sábado, primeiro é essa luta. Lógico que é meu objetivo maior (lutar pelo cinturão), mas a luta sábado é o mais importante para mim hoje.

No dia 16 de novembro do ano passado, a USADA (Agência Antidopagem dos EUA) anunciou que o lutador havia aceitado a suspensão de 18 meses lhe imposta, por uso da substância proibida 7-keto-DHEA, flagrada fora de competição quando o brasileiro se preparava para enfrentar Dan Henderson. Lyoto Machida alegou que a substância estava num suplemento. Sobre o assunto, admitiu que foi difícil no início lidar com as dúvidas e acusações.

– Principalmente o lado emocional (foi complicado lidar), foi muito difícil no início. As pessoas que me conhecem, tudo bem, mas as pessoas que não me conhecem rotulam você como um trapaceiro. Mas tive tempo para superar isso tudo. Foi um grande ensinamento de vida, não só na minha carreira profissional. Lógico que num primeiro momento sempre é difícil, mas não deixa de ser uma oportunidade também de abrir novos caminhos e desenvolver outras habilidades. (Críticas de outras pessoas) é uma coisa que não tenho como controlar. Tenho como me controlar, mas não controlar as pessoas que me cercam. Como fiz uma coisa, na minha visão, muito transparente e justa, e infelizmente não fui interpretado dessa forma, não tenho que estar achando muito o que estão achando de mim.

O tempo longe do UFC ainda traz prejuízos não só desportivos, mas financeiros. No caso de Lyoto, o período sem receber para lutar foi bem administrado por ser uma pessoa comedida.

– Sempre fui um cara muito programado. Faço investimentos e outros tipos de trabalho, tenho a minha academia. Lógico que se, financeiramente, você conta com uma coisa e para de acontecer, você tem que se reprogramar. Mas, como sempre fui muito bem programado, a surpresa não foi tão grande. Conseguir me estabilizar e seguir a minha vida.

Mas o “Dragão” também quer virar essa página afastado do Ultimate e das competições. Se ressalta que esse período serviu para aprimorar a técnica, também quer deixar de lado essa história de inatividade e pensar no próximo passo: a luta.

– As expectativa são as melhores, passei um tempo fora e esse tempo, na verdade, me alimentou bastante, com melhora técnica e em termos emocionais também. Tudo tem uma razão. Tentei tirar proveito do que eu tinha no momento, que era o tempo. Tanto tempo assim (sem lutar), nunca tinha ficado. Sempre existe a ansiedade, mesmo quando você está em ritmo de luta, e agora não é diferente. Sou um cara acostumado a competir desde muito jovem. Mas esse período fora foi realmente longo, tenho que reconhecer isso. Mas não quero focar muito nisso, para mim é como se fosse mais um dia de competição. As pessoas focam no “muito tempo fora”, e meu objetivo não é esse, meu foco é lutar.

Para enfrentar Brunson, que perdeu para Anderson Silva no início do ano e depois venceu Daniel Kelly na última luta, Lyoto fez seu camp sob o comando do mestre Rafael Cordeiro, na Kings MMA, nos Estados Unidos, mas ainda treinou em outros lugares. Ele acredita que é um bom duelo para o seu jogo de contragolpes.

– O Brunson é um grande adversário, é um “well-rounded” (cara completo), um cara preparado. Acho que é uma luta boa para mim também, uma luta que casa bem com o meu jogo. Mas vamos ver sábado, sábado que vai ver se sai tudo certinho.

E como ele acha que vai terminar? A resposta é curta.

– Essa luta aí…se entrar a mão, é nocaute.
Créditos: Globo Esporte