Desabafo

Jornalista gay que atuou na Paraíba pede fim de gritos homofóbicos contra time do São Paulo

“Ser gay nessa sociedade heteronormativa [que vê a heterossexualidade como norma] que a gente vive é um exercício constante de coragem e força. E eu não me calo ante a homofobia, seja de uma ou de 40 mil pessoas, porque a gente já se calou por muito tempo. A gente vai em estádios desde de sempre, e sempre calados. Precisamos falar sobre isso”, comentou

Quase todos os torcedores presentes no Allianz Parque na noite desta quinta-feira (8), na vitória do Palmeiras por 2 a 0 sobre o São Paulo, entoaram cantos homofóbicos contra a torcida adversária. Mas não todos: frequentador assíduo da arena alviverde, William De Lucca é gay, palmeirense e pede o fim dos gritos que atingem o principal rival.

“Isso impede que outros LBGT (lésbicas, bissexuais, gays e trans) vão ao estádio, e eu penso muito nessas outras pessoas. Aliás, os LGBT se afastam do futebol exatamente por isso, porque é um ambiente hostil, como ainda é em certa maneira para mulheres, negros e outras minorias”, disse William, que por vários anos atuou no jornalismo paraibano, inclusive na condição de editor do Paraíba Já.

A reportagem chegou até este palmeirense graças a um tweet no qual ele ironiza um dos cantos da torcida do seu time do coração. “A torcida do Palmeiras, em sua homofobia típica, canta que ‘todo viado nessa terra é tricolor’. Parece que encontrei uma exceção à regra: eu mesmo, viado e palmeirense, e que cola no estádio em TODOS os jogos”, escreveu no Twitter.

Jornalista gay que atuou na Paraíba pede fim de gritos homofóbicos contra time do São Paulo

 

Neste ponto, é importante ressaltar uma explicação dada pelo torcedor em relação ao uso do termo “viado”, que ele não usa em tom pejorativo. Ao contrário da multidão que entoou gritos homofóbicos nesta quinta – 34.916 palmeirenses foram ao Allianz Parque para o clássico, que teve torcida única –, William não está se ofendendo: ele tem um motivo ideológico para usar esta palavra.

“Eu uso como forma de afirmação, eu uso porque acham que ofende, e eu quero mostrar que não ofende. Ser gay, viado, bicha é tão normal quanto ser hetero ou bi. O termo é usado como ofensa, então a gente subverte a lógica e usa como afirmação de orgulho”, explicou.

 

“Ser gay nessa sociedade heteronormativa [que vê a heterossexualidade como norma] que a gente vive é um exercício constante de coragem e força. E eu não me calo ante a homofobia, seja de uma ou de 40 mil pessoas, porque a gente já se calou por muito tempo. A gente vai em estádios desde de sempre, e sempre calados. Precisamos falar sobre isso”, comentou.

 

Jornalista gay que atuou na Paraíba pede fim de gritos homofóbicos contra time do São Paulo

 

William também fez um desabafo destinado à própria torcida do São Paulo; segundo ele, muitos tricolores têm motivos errados quando se incomodam com a postura homofóbica dos rivais. E faz um apelo para que Palmeiras, São Paulo e seus rivais, enquanto instituições, entrem na briga contra a homofobia.

“Eu estou certo de que os são-paulinos se sentem incomodados, mas por motivos diferentes. Eles se sentem ofendidos porque acham que ser gay é uma ofensa, e eu me sinto incomodado por ainda acharem que ser gay é pior que ser hetero e que o futebol não tem espaço para pessoas que não sejam hetero”, completou o jornalista de 32 anos.

Ao lado de outros dois palmeirenses, William é administrador do coletivo “Palmeiras Livre”, que levanta pautas como homofobia, racismo, machismo e xenofobia no futebol. Ele não teme ameaças: “Espero que os outros palmeirenses gays que vão a estádios também levantem sua voz. Eu vejo muitos palmeirenses no Tinder [aplicativo de relacionamento] com foto no Allianz, então sei que somos muitos.” As informações são do UOL.

Fonte: Paraiba ja
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