Olimpíadas

Após denúncias de corrupção na Rio 2016, Paris 2024 garante transparência

Às vésperas de ser confirmada sede da Olimpíada de 2024, capital francesa afirma: "O objetivo desta equipe é promover os valores da Olimpíada"

Pouco da Olimpíada do Rio de Janeiro em xeque com a acusação de compra de votos, Paris se prepara para ser confirmada como sede dos Jogos de 2024. Não vai haver uma real votação na sessão do Comitê Olímpico Internacional (COI) na quarta-feira, em Lima. A capital francesa é candidata única após acordo para que Los Angeles já fique com a edição de 2028. Ainda assim, ao chegar ao Peru, a comitiva francesa prometeu transparência na organização da Olimpíada de Paris.

– Queremos destacar que desde o primeiro dia temos a responsabilidade de ser o mais transparente possível. O objetivo desta equipe é promover os valores da Olimpíada. Pessoalmente, as Olimpíadas mudaram minha vida. Estou seguro que trará grande benefício para a França e sua população – disse Tony Estanguet, presidente da candidatura de Paris 2024 e dono de três ouros olímpicos na canoagem slalom.

O ex-atleta afirmou que, por não haver uma real votação, Paris 2024 não está preocupada com o lobby para obter votos e sim com entregar a mensagem que será um bom parceiro do Movimento Olímpico. O discurso de transparência tenta recuperar a reputação do Olimpismo, abalada por seguidos casos de corrupção, como o esquema de doping da Rússia.

– Transparência é muito importante. Não sou uma atleta, sou uma política. Precisamos ter a confiança dos nossos cidadãos. No nosso time, a transparência tem sido forte e vai continuar a ser, claro – disse Anne Hidalgo, prefeita de Paris.

Entenda o caso da Operação Jogo Sujo

Foi deflagrada na terça-feira a Operação Unfair Play (chamada de Jogo Sujo por investigadores brasileiros), um desdobramento da Operação Lava Jato para investigar o uso de dinheiro público no pagamento de propina para compra de votos na eleição que apontou o Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016.
Mais de 70 agentes da Polícia Federal (PF) cumpriram 11 mandados de busca e apreensão e de prisão preventiva dos empresários Arthur Soares e Eliane Pereira Cavalcante – o Rei Arthur, como é mais conhecido, é considerado foragido. Um dos locais revistados foi a residência do presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, que posteriormente foi conduzido à sede da PF para prestar depoimento.

O trio acima citado teve cerca de R$ 1 bilhão em bens bloqueados a título de danos morais coletivos ao povo brasileiro, nas palavras da procuradora Fabiana Schneider. Na casa de Nuzman foram apreendidos cerca de R$ 480 mil em espécie em cinco moedas diferentes.

Segundo investigação da Justiça Francesa em parceria com a Justiça Brasileira, Nuzman teria sido o elo entre Arthur Soares e membros votantes da eleição do Comitê Olímpico Internacional (COI) para a eleição da sede dos Jogos de 2016.

Transações bancárias mostram que a empresa Matlock Capital Group, pertencente a Arthur, pagou US$ 2 milhões a duas empresas de Papa Massata Diack dias antes da votação do COI. O valor teria sido usado para a compra do voto de Lamine Diack, pai de Papa e então presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) e membro do COI. Acredita-se que o alto montante indica o pagamento a outros votantes na assembleia, mas ainda não há provas a respeito.

O Rio de Janeiro foi escolhido sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 em 2 de outubro de 2009 em cerimônia realizada em Copenhague, na Dinamarca. Na ocasião, a cidade teve como concorrentes Madri, na Espanha, Chicago, nos Estados Unidos, e Tóquio, no Japão. A vitória impulsionou uma série de obras na cidade, grande parte delas financiadas com dinheiro público – e que, segundo o Ministério Público, renderam milhões em pagamento de propinas ao ex-governador Sérgio Cabral, com quem Arthur Soares trabalhava em parceria, e outros investigados da Lava-Jato.
Créditos: Globo Esporte