Polêmica dos astros

Ozzy, Shaun Ryder e Keith Moon: quando gravadoras dão fortunas nas mãos de psicopatas

É a velha história: meninos pobres montam uma banda, se matam para lançar um disco, o disco é um sucesso, os meninos subitamente não são mais pobres, e a gravadora acha uma ótima ideia jogar uma pilha de dinheiro no colo deles para fazer o disco seguinte.

Na história do rock, poucos temas são mais interessantes e rendem histórias melhores do que os excessos causados pela ganância e irresponsabilidade de gravadoras quando estas perdem a razão e confiam sua grana a uma cambada de loucos.

Aqui vão três histórias de discos em que os loucos tomaram conta do hospício – ou melhor, do estúdio.

BLACK SABBATH – VOLUME 4 (1972)

Em 1972, o Sabbath havia lançado três discos de sucesso e estava na crista da onda. Os discos haviam sido gravados na Inglaterra e produzidos por Rodger Bain. Mas a gravadora Vertigo achou que não haveria problema em dar 75 mil dólares (uma boa grana hoje, mas uma fortuna absurda em 1972) para o Sabbath ir a Los Angeles gravar seu quarto LP. E mais: deixou que a banda produzisse a bagaça.

Ozzy trabalha na planilha de custos de “Volume 4”

O resultado: Ozzy, Iommy, Butler e Ward gastaram 20% no disco e 80% em brincadeirinhas como fretar pequenos aviões para trazer tijolos de cocaína diretamente da Colômbia, contratar haréns de prostitutas, alugar a mansão do bilionário John Du Pont (o mesmo que, em 1996, mataria o lutador Dave Schultz e inspiraria o filme “Foxcatcher”) e comprar um imenso doberman, que sofreu um surto psicótico ao acidentalmente cheirar um saco de cocaína.É um verdadeiro milagre que o disco tenha sido concluído. Bill Ward estava tão anestesiado pelas drogas (havia heroína também, claro) que frequentemente caía desacordado no chão e tornava-se alvo fácil de piadinhas inocentes dos colegas de banda, como pintá-lo inteiramente com tinta dourada e incendiar sua barba. Ozzy conta que estava tão paranoico de pó que foi assistir a “Operação França” e saiu do cinema com a certeza de que seria preso por Gene Hackman.

Em homenagem ao combustível do disco, o Sabbath queria batizá-lo de “Snowblind”, mas a gravadora não deixou. Ficou “Volume 4” mesmo.

 

 

HAPPY MONDAYS – YES, PLEASE! (1992)

Shaun Ryder na Cidade Maravilhosa

Em 1991, o Happy Mondays veio ao Brasil para a segunda edição do Rock in Rio. A banda encontrou-se no Rio com Ronnie Biggs, o famoso assaltante do Trem Pagador, e praticamente esgotou o estoque de cocaína da Cidade Maravilhosa. Lendas (nunca negadas pela banda) dizem que, no dia do embarque de volta à Inglaterra, havia sobrado tanto pó que eles o usaram de talco e passaram o voo cafungando os próprios sovacos.

Pois bem: foi nessa banda que a gravadora Factory concordou em investir uma pequena fortuna para gravar “Yes, Please!”, quarto álbum de estúdio dos Mondays. Na época, os irmãos Shaun e Paul Ryder, líderes do grupo, passavam por tratamentos de metadona para se livrarem do vício em heroína, e sugeriram à gravadora fazer o disco em Barbados, onde pudessem ficar longe da droga. A tática deu certo: os Ryder realmente pararam de usar heroína. Em compensação, ficaram viciados em crack.

O disco foi gravado no estúdio do cantor Eddy Grant (aquele mesmo, do sucesso “Electric Avenue”), e o pobre Eddy deve ter se arrependido muito: em poucos dias o grupo havia trocado quase toda a mobília do estúdio por crack. Depois de serem ameaçados por traficantes e se envolverem em um acidente de carro que quase matou Bez, o tocador de maracas da banda, os Mondays foram expulsos do país. Shaun e Paul voltaram à Inglaterra com o disco incompleto (haviam simplesmente esquecido de gravar vocais) e ameaçaram queimar as fitas se a Factory não pagasse um extra. O chefão da Factory, Tony Wilson, deu 50 libras a Shaun pelas fitas.

“Yes, Please!” foi lançado em setembro de 1992. Dois meses depois, a Factory faliu.

KEITH MOON – TWO SIDES OF THE MOON (1975)

Keith Moon (1946-1978), baterista do The Who, gravou um único disco solo, este “Two Sides of the Moon”. O LP é tão ruim que pouca gente lembra que existe. Confesso que eu mesmo havia apagado essa joça da memória, até que uma matéria de meu site favorito, o Dangerous Minds, ressuscitou sua história.

Moon (esq.): você daria 200 mil dólares na maõ deste homem?

Moon foi um dos maiores bateristas do rock, mas não era um sujeito dos mais equilibrados: bebia como um peixe, tinha um apetite por drogas que só rivalizava com o de Keith Richards, e curtia hobbies dos mais peculiares, como destruir quartos de hotel com machados e dirigir carros de luxo para dentro de piscinas.Nada disso impediu a gravadora MCA de dar 200 mil dólares para Moon gravar seu disco solo. E isso foi só o custo de gravação: além dessa fortuna, Moon recebeu outra quantia nababesca de salário.

O resultado foi um disco de dez faixas que, somadas, não chegavam a 30 minutos. Moon só tocou bateria em três músicas e achou por bem cantar. Quando Brian Wilson, líder dos Beach Boys e que passava por um momento psicológico dos mais delicados (estava morando numa caixa de areia em casa, simulando uma praia) ouviu a versão que Moon gravou de sua “Don’t Worry Baby”, caiu em prantos. Não é para menos:

Na história da música pop é difícil achar um disco tão ruim feito por tanta gente talentosa. Participaram da gravação cerca de 60 músicos, incluindo Ringo Starr, Ricky Nelson, Harry Nilsson, Joe Walsh, John Sebastian, Klaus Voorman, Ronnie Wood, Bobby Keys e Jim Keltner, entre muitos outros. Boa parte deles só apareceu no estúdio para encher a cara.

O estado mental de Moonie não era dos melhores: a cada nota que sua voz falhava em atingir, ele destruía uma lâmpada do estúdio. Segundo relatos, toda a iluminação teve de ser trocada várias vezes. Quando a gravadora ameaçou não pagar a mais pela pavorosa foto de capa que ele exigia, o baterista entrou no escritório do presidente da gravadora com um machado e ameaçou destruir sua mobília.

Keith Moon fez sua última turnê com o The Who em 1976. Dois anos depois, morreria de uma overdose.

Fonte: UOL