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'Os Trapalhões' voltam à TV em versão comportada e com novos personagens

Em 13 de março de 1977, na estreia de “Os Trapalhões” na Globo, Didi e Dedé conversavam à beira da piscina sobre mulheres de biquíni: “Quanta mulher boa”, “Delícia aquela ali.” Em 2017, a emissora lança nesta segunda (17) no Viva um remake da série com nove episódios, agora preocupados com o politicamente correto.

“Não precisamos falar de bebida, por exemplo, para fazer humor. A gente vivia uma época em que isso fazia parte do momento, mas o tempo andou e nós andamos juntos. O programa não perde a graça por não falar de cerveja”, diz o diretor Fred Mayrink.

Além de Renato Aragão, 82, e Manfried Sant’Ana, o Dedé, 81, o programa também tinha Mussum (1941-1994), e Zacarias (1934-1990).

Fora as cenas de cunho sexual e exaltação de um corpo feminino estereotipado, o programa fazia piadas com gays (quase sempre envolvendo com Zacarias, por vezes afeminado) e negros (com Mussum).

À vontade, “Os Trapalhões” também consumiam “suco de cevadis” e “mé” –bordões criados por Mussum que significam cerveja e cachaça, respectivamente.

Para Aragão, o programa receberia críticas se os episódios antigos fossem reexibidos hoje. “Não tínhamos a intenção de ofender ninguém. Era um humor circense e ingênuo”, afirmou o humorista à Folha em 2015.

CANÇÕES

As famosas músicas também se atualizaram e incorporaram o noticiário atual. É o caso de “A Filha do Seu Faceta” –do refrão “papai eu quero me casar”. Na nova letra, Zaca cantará “Eu quero me casar com Sergio Moro”, se referindo ao juiz da Lava Jato.

Até os nomes dos personagens mudaram. Ficam Didi e Dedé, mas entram Didico (Lucas Veloso), Dedeco (Bruno Gissoni), Mussa (Mumuzinho) e Zaca (Gui Santana). “Fiquei preocupado de o programa ter uma rejeição do público que assistiu a ‘Os Trapalhões’. Tivemos cuidado pra dizer que eles [os atores] são Didico, Dedeco, Mussa e Zaca porque os quatro originais são insubstituíveis”, diz Renato Aragão.

Na TV aberta, o novo “Os Trapalhões” será exibido em setembro. “O Viva se alicerça como lugar de memória. E, a partir do momento que o programa vai ao ar, todas as mídias começam a se abastecer do programa”, afirma o diretor da atração.

ALÉM DA TV

“Os Trapalhões” também marcaram época com mais de 40 filmes e HQs. Os gibis tiveram duas fases. Os quadrinhos sobre a trupe foram publicados, primeiro, pela editora Bloch, onde as piadas seguiam a linha da TV. Depois, pelo grupo Abril, quando “se infantilizaram”.

“O intuito da mudança de casa era tentar pegar uma fatia do público da ‘Turma da Mônica'”, diz Rafael Spaca, autor de “As HQs dos Trapalhões” (ed. Estronho), de 2017.

Vistos pelos críticos como escrachado demais, o grupo viu o jogo virar graças ao poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-87). Reza a lenda que, certo dia, o poeta dispensou um repórter ao telefone porque estava assistindo ao humorístico. “A partir dali, muitos telespectadores passaram a assumir que viam o quarteto na TV”, afirma Spaca.

A fama da trupe ganhou respaldo de intelectuais. Caetano, por exemplo, homenageou o grupo na canção “Jeito de Corpo”, de 1981. Já Chico Anisyo (1931-2015) deu uma definição afetiva: para ele, Didi era um antídoto contra a amarga realidade do Brasil.

Fonte: UOL
Créditos: UOL