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Luta anti-racista e a vida com Mandela: O que aprender com Winnie Madikizela-Mandela

A ativista Winnie Mandela morreu aos 81 anos desta segunda-feira, conheça sua trajetória de luta

A ativista Winnie Mandela morreu aos 81 anos nesta segunda-feira (2), de acordo com informações do porta-voz oficial da família à BBC.

Winnie Madikizela-Mandela foi a segunda esposa de Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul.

Em entrevista ao jornal frânces Le Journal du Dimanche, Winnie destacou a sua importância na vida do líder político.

“Se eu não tivesse lutado, Mandela não teria existido, o mundo inteiro o teria esquecido e ele teria morrido na prisão como queriam as pessoas que o prenderam”, afirmou Winnie.

 

A ativista divergia de Mandela na luta contra o regime segregacionista.

“O que fiz deliberadamente foi manter vivo o nome de Mandela e de seus companheiros de prisão. Para alimentar a luta, tinha de me expor à violência e à brutalidade do apartheid. Eles, na prisão, nunca foram torturados como nós fomos”, compartilha em entrevista ao jornal frânces. “Ele era livre para acreditar na paz e nós, que sofríamos a violência do apartheid, não estávamos tão à vontade com esta noção. Não restou outra opção a não ser responder à violência com violência.”

O casal se separou em 1996. Eles estavam casados desde 1958, 6 anos antes de ele ser condenado à prisão perpétua pelo regime segregacionista.

Winnie, a carismática e polêmica esposa de Nelson Mandela

O percurso de Nomzamo Winifred Madikizela Zanyiwe, conhecida sob o nome de “Winnie”, é indissociável do primeiro presidente negro da África do Sul, com quem foi casada por 38 anos, incluindo os 27 que ele esteve na cadeia.

Nascida em 26 de setembro de 1936, na província de Cabo Oriental (sul), de onde Nelson Mandela também é natural, obteve diploma universitário em Serviço Social, uma exceção para uma mulher negra na época.

Seu casamento em junho de 1958 com Nelson Mandela – ela com 21 anos e ele, divorciado e pai, com quase 40 – foi rapidamente perturbado pelo engajamento político de seu marido.

“Nunca tivemos uma vida familiar (…) não podíamos tirar Nelson de seu povo. A luta contra o Apartheid, pela Nação, vinha primeiro”, escreveu ela em suas memórias.

Logo depois do casamento, Nelson Mandela passou à clandestinidade. Deixada sozinha com suas filhas após sua prisão em agosto de 1962, Winnie manteve viva a chama da luta contra o regime racista branco.

A jovem assistente social foi, então, alvo de intimidações e pressões. Viu-se presa, forçada a ficar em casa, banida em um vilarejo distante do mundo, onde sua casa foi alvo de dois ataques a bomba.

‘Passional’

Mas nada abalava sua resistência. Contra todas as probabilidades, tornou-se uma das principais figuras do Congresso Nacional Africano (CNA), a ponta de lança da luta contra o Apartheid.

Em 1976, convocou os estudantes de Soweto revoltados a “lutar até o fim”.

Com o tempo, a radical “paixão dos townships” se revelou, porém, uma desvantagem e um constrangimento para o CNA.

Enquanto supostos traidores da causa anti-Apartheid eram queimados vivos com um pneu no pescoço, ela dizia que os sul-africanos deveriam se libertar com “caixas de fósforos”. Um verdadeiro chamado ao assassinato.

Winnie se cercou de um grupo de jovens, formando sua própria guarda, o “Mandela United Football Club” (MUFC), com métodos particularmente brutais.

Em 1991, foi considerada culpada de cumplicidade no sequestro do jovem ativista Stompie Seipei. Winnie foi condenada a seis anos de prisão, uma sentença mais tarde comutada para uma multa simples.

Em 1998, a Comissão da Verdade e Reconciliação (TRC) encarregada dos crimes políticos do Apartheid declarou Winnie “culpada política e moralmente pelas enormes violações dos direitos humanos” cometidas pelo MUFC.

“Grotesco”, repete aquela apelidada de “Mãe da Nação”, mesmo que testemunhas a acusassem de tortura.

‘Algo deu terrivelmente errado’

“Ela foi uma formidável defensora da luta, um ícone da libertação”, disse Desmond Tutu, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, presidente da TRC e amigo de Nelson Mandela.

“E, então, algo deu terrivelmente errado”, reconhece.

Nomeada vice-ministra da Cultura após as primeiras eleições multirraciais de 1994, Winnie foi demitida por insubordinação pelo governo de seu marido um ano depois.

Banida pela liderança do CNA, sentenciada novamente em 2003 por fraude, Winnie ainda retornou à política quatro anos depois, juntando-se ao Comitê Executivo do partido, o corpo administrativo do CNA.

Multiplicam-se as contradições. Deputada desde 1994 e reeleita em cada eleição, sua ausência no Parlamento chama atenção.

Ela critica severamente o acordo histórico assinado por seu marido com os brancos para pôr fim à segregação. “Mandela nos abandonou”, afirmava. “O acordo que ele fez é ruim para os negros”, insistia.

A imagem do casal Mandela, marchando de mãos dadas após a libertação do herói anti-Apartheid em 1990, viajou pelo mundo. Mas os cônjuges nunca se encontraram. Eles finalmente se divorciaram em 1996 após um processo sórdido que revelou as infidelidades de Winnie.

A animosidade continuou mesmo após a morte de Nelson Mandela em 2013. Ele não deixou nenhuma herança para a ex-mulher.

Furiosa, Winnie iniciou uma batalha para recuperar a casa da família em Qunu (sul). Recentemente, a Justiça rejeitou seus pedidos.

Fonte: Com Huffposti e Jornal do Brasil
Créditos: Com Huffposti e Jornal do Brasil