Carnaval

Escola de samba comandada por padre em Itaquera não tem cerveja nem biquíni

O ensaio geral da Dom Bosco atrasou um pouco, pois o presidente da escola de samba estava rezando uma missa. Padre Rosalvino Morán Viñayo é quem está à frente do Grêmio Recreativo, localizado em Itaquera (zona leste), há mais de 20 anos. "Chegou a hora de a onça beber água. Quero ver quem é que tem samba no pé", anuncia ele, no microfone.

O ensaio geral da Dom Bosco atrasou um pouco, pois o presidente da escola de samba estava rezando uma missa. Padre Rosalvino Morán Viñayo é quem está à frente do Grêmio Recreativo, localizado em Itaquera (zona leste), há mais de 20 anos. “Chegou a hora de a onça beber água. Quero ver quem é que tem samba no pé”, anuncia ele, no microfone.

Rosalvino chegou ao Brasil em 1953, aos 10 anos, junto da família. “A vida de um imigrante não era fácil. Não deixavam a gente ficar na cidade, tínhamos de ir para as fazendas, em lugares onde não tinha escola, comércio, não tinha nada. Então, meu pai decidiu colocar os filhos no internato”, conta o padre, hoje com 77 anos. Foi ali que ele conheceu trabalho e se encantou pelas obras sociais de Dom Bosco, padroeiro da juventude.

A ideia de uma escola de samba foi surgindo aos poucos. Tudo começou com um projeto social para atrair adolescentes e jovens, com a intenção de tirá-los da rua. O programa ganhou força e cresceu. Neste ano, a intenção dos integrantes da escola é vencer o Grupo de Acesso 2 da Liga das Escolas de Samba de São Paulo.

A partir daí, a escola terá que continuar lutando para subir no pódio e desfilar, um dia, na elite do Carnaval, no Grupo Especial. “Sei que entre as escolas grandes é tudo diferente. Estaremos entrando em um ninho de cobras. Salve-se quem puder”, diz, em tom brincalhão, porém sem desviar o foco.

“Nosso objetivo maior não é ser campeão do Carnaval, mas integrar a comunidade. Ensinar a bondade, a honestidade, os valores essenciais, como priorizar a família”, defende o padre.

Além da preocupação em tirar crianças da rua, o padre faz questão de manter um ambiente respeitoso. “Aqui não tem essa questão de ego, não. Cada um sabe o que tem de ser feito e é preciso que todos se respeitem.” O carnavalesco Danilo Dantas, por exemplo, é evangélico, e Luana Poletti, coreógrafa da Comissão de Frente, é umbandista. “Não houve nenhuma imposição da escola quanto ao tema do enredo, roupa ou execução. O padre e toda a diretoria me dão muita liberdade na criação. Estou em casa!”, diz o carnavalesco.

Bebidas alcoólicas e biquínis não são bem-vindos

Diferentemente dos ensaios de outras escolas de samba, na Dom Bosco o Carnaval não é regado a cerveja ou outro tipo de bebida alcoólica. Essa decisão aconteceu porque muitos frequentadores são menores assistidos pelos projetos sociais ligados à igreja.

“Muita gente vem aqui e muda de opinião. Carnaval não é só bagunça, faz parte da nossa cultura. Aqui, ele [o padre] consegue manter a garotada próxima”, diz Vera Regina, da Comissão de Carnaval da escola.

Musas e madrinha de bateria também se vestem de forma mais comportada nos ensaios. “Aqui [na quadra] o padre não gosta, mas no dia do desfile pode usar biquíni”, conta Ágatha Cristine, musa que desfila ao lado do passista Tomaz de Aquino e da madrinha Aline Dias. “Somos cria da escola. Quando éramos crianças, passávamos todos os dias das férias aqui”, conta Tomaz, elogiando em seguida as obras sociais Dom Bosco: “Se não fosse esse trabalho do padre, Itaquera não seria como é hoje”.

A Dom Bosco desfila na madrugada do dia 5/3, no Anhembi, às 4h20.

Fonte: UOL
Créditos: UOL