opinião

Eliza Samudio, presente! - Por Mabel Dias

Bruno ficou preso quatro anos e agora teve liberdade concedida pelo STF

Indefensável. Não poderia haver título mais apropriado para o livro que conta a história do assassinato da modelo Eliza Samudio pelo goleiro Bruno Fernandes.É realmente difícil defender um crime como esse, principalmente pelos requintes de crueldade utilizados.

Eliza foi assassinada em 2010, a mando de Bruno, pelo ex- policial militar, Marcos Aparecido dos Santos, conhecido por “Bola”, seu corpo teria sido esquartejado e entregue a cachorros. Em janeiro de 2013, após determinação da Justiça, o Cartório do Registro Civil de Vespasiano (MG) emitiu a certidão de óbito de Eliza. O documento confirma a morte da modelo por “emprego de violência aplicada na forma de asfixia mecânica (esganadura)”, e indica como local do crime o endereço do ex-policial civil Marcos Aparecidos dos Santos, na rua Araruama, em Vespasiano, e a data do dia 10 de junho de 2010.

O livro “Indefensável – o goleiro Bruno e a história da morte de Eliza Samudio”, foi lançado em 2014 pelos jornalistas, Paula Sarapu, Leslie Leitão e Paulo Carvalho e traz informações detalhadas sobre um dos crimes contra a mulher que teve grande repercussão no Brasil. Eliza sempre procurava Paulo Carvalho, do jornal Extra, para relatar as ameaças de Bruno. Paula e Leslie publicaram matéria no jornal Dia, informando sobre o desaparecimento da modelo, que tinha apenas 25 anos. Esse é um dos vídeos que mostra Eliza concedendo entrevista ao repórter do Extra, em 2009, falando sobre as agressões e ameaças de Bruno contra ela, que na época era goleiro do Flamengo.

Os jornalistas reuniram um vasto material sobre o caso e consideraram importante publicar um livro que contasse toda a história, desde a infância de Bruno Fernandes até o planejamento e morte de Eliza Samudio. Para Leslie Leitão, o livro é um documento histórico de um crime brutal, cruel, que joga luz sobre um problema grave no país: o das mulheres que morrem (ou apanham) nas mãos dos próprios companheiros.

Bruno ficou preso quatro anos e agora teve liberdade concedida pelo ministro do STF, Marco Aurélio de Mello. Tal decisão provocou a revolta da sociedade e do movimento feminista, que tem realizado manifestações em diversas cidades e abaixo assinados online, pedindo a volta de Bruno para a cadeia.

Segundo o jornalista, Leslie Leitão, a decisão do ministro foi tecnicamente correta. O judiciário de Minas Gerais é que está lento para julgar o caso. Enquanto isso, Bruno continua sua vida normalmente, foi contratado pelo Boa Esporte Futebol Clube, da cidade de Varginha, em Minas Gerais e terá sua primeira partida no próximo sábado, dia 08. Uma parte dos torcedores, inclusive mulheres e crianças, já o acolheram e até pediram autógrafos. Porém, a maioria da população de Varginha repudia a contratação do assassino de Eliza. Devido a pressão popular, três patrocinadores do Boa Esporte retiraram o apoio ao time.

Bruno demonstra tranquilidade nos treinos e nas entrevistas que concede. Nem parece que cometeu um dos crimes mais bárbaros contra a mulher que tinha acabado de ter um filho seu e queria apenas ter seus direitos reconhecidos.
A violência contra a mulher no Brasil atinge índices preocupantes. De acordo com o Mapa da Violência 2015, hoje, contabilizamos 4,8 assassinatos a cada 100 mil mulheres, número que coloca o Brasil no 5º lugar no ranking de países nesse tipo de crime. Dos 4.762 assassinatos de mulheres registrados em 2013 no Brasil, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo que em 33,2% destes casos, o crime foi praticado pelo parceiro ou ex. Essas quase 5 mil mortes representam 13 homicídios femininos diários em 2013.

Eliza Samudio, como boa parte das brasileiras, denuncia os agressores , mas são mortas antes de conseguirem apoio. No vídeo de 2009, ela relata que Bruno a ameaçou de morte, dizendo que a mataria e daria sumiço em seu corpo e ninguém ligaria ele ao crime. Bruno fez o que prometeu, mas a Justiça brasileira conseguiu incriminá-lo. Essa mesma justiça que o colocou de volta às ruas, assim como a maioria dos agressores de mulheres. Algo está errado.

As mulheres tiveram uma conquista em 2006 com a implantação da Lei Maria da Penha e outra em 2015, a Lei 13.104, que alterou o Código Penal para incluir mais uma modalidade de homicídio qualificado, o feminicídio. Mesmo assim, meninas e mulheres continuam sendo mortas no Brasil. No momento em que estou escrevendo este texto, mulheres estão morrendo ou sendo vitimas de agressões. Além das medidas punitivas, é preciso que haja uma revolução na educação e na cultura do país, pois em pleno século XXI, o machismo ainda é muito forte na sociedade brasileira, colocando a mulher como propriedade do homem. Uma realidade preocupante e que precisa ser mudada urgentemente.

Fonte: Mabel Dias