AQUELA FEDERAÇÃO ? O único problema é que tem gente se vendendo a mais de um freguês e não entrega a mercadoria que é pra vender pra outro” - Por Rubens Nóbrega

O único problema é que tem gente se vendendo a mais de um freguês e não entrega a mercadoria que é pra vender pra outro”, advertiu o analista.

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Black Friday da corrupção

A Corruptolândia comunicou ontem que não haverá o Black Friday programado para esta sexta-feira. Mediante nota vaga e nada esclarecedora veiculada pela mídia mais venal e comprometida que existe, a organização da SuperSexta de mega descontos limita-se a atribuir o cancelamento da promoção a um “desentendimento incontornável entre corrompidos e corruptores”.
Soube, contudo, que o bicho pegou principalmente no meio político. Em determinado Parlamentode uma das mais pobres províncias da Corruptolândia, por exemplo, deputados puseram-se em oferta. ‘50% off’. Mas no anúncio botaram que uma adesão sairia por “módicos R$ 300 mil”. Diante desse preço, logo os potenciais interessados perceberam a mutreta.
“Esse povo pensa que a gente é imbecil. Por R$ 300 paus eles já se vendiam, conforme a cotação revelada durante a última campanha eleitoral por um dos mais ricos compradores da praça”, disse-me ontem representante de um grupo interessado em eleger a diretoria da próxima legislatura.
Outro desassossego grande foi sentido na administração da província, especialmente nos setores que cuidam de obras e aquisições de produtos em larga escala. Contratos foram adiados e licitações suspensas. Não houve consenso entre as partes quanto aos valores de propinas e superfaturamentos. Não vingou a proposta de uniformizar a bola em 15% nem o sobrepreço em 40%.

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Acostumados a subornos que correspondem a no mínimo 30% do valor da obra, do serviço ou fornecimento, os promotores das concorrências públicas concordaram a abrir mão de, no máximo, 10% do toco. “Menos que isso e não junto o suficiente para comprar minha Land”, argumentou um que participou da reunião preparativa do Black Friday nesse pedaço. Os licitantes, por sua vez, não aceitaram combinar a elevação do custo do ‘objeto’ para tão somente em 40% acima do que é praticado pelo mercado.
“Pelo visto, essa galera de governo não se emenda mesmo. Onde já se viu, por aqui, superfaturamento de uma estrada por menos de 100%, uma compra de kit escolar ou fardamento por menos de 150%, serviço de informática por menos de 200%? Eles estão certos de que os corruptores não sabem dos 300% nos contratos de terceirização de hospitais”, comentou comigo experiente analista do mercado da corrupção que cobriu o encontro de preparação da Super Sexta que gorou.
Por essas e outras, ele acredita que o Black Friday da Corruptolândia só deve valer mesmo na disputa pelo comando de certa federação de esporte muito popular na província em questão. “Como é um troço que só acontece de 25 em 25 anos, os votantes, coitados, submetem-se a um queima total. É liquidação de até 80%. O único problema é que tem gente se vendendo a mais de um freguês e não entrega a mercadoria que é pra vender pra outro”, advertiu o analista.

 

 

O grande coletor

Entre os concorrentes à presidência da tal entidade um está ‘passando o rodo’. O sujeito, aparentemente um liso, porque sua única renda conhecida seria oriunda de uma aspone em gabinete federal, tornou-se de repente o favorito da peleja. “E deve bater a parada, porque o homitem pinta de ser o grande coletor do esquema e, como dizem lá na sua terra, tem a feira encanada”, disse o consultor da coluna, que também é um dos maiores estudiosos dos usos, abusos e costumes da Corruptolândia.
Ação e presença

Em meio à desqualificação geral promovida pelo denuncismo lacerdista e a falsa moral udenista tão revivida no Brasil de agora, a chamada classe política nunca esteve tão em baixa. Nesse tsunami, ou arrastão, algumas vítimas preferenciais. Ou mais fáceis. Vereadores, por exemplo, que muitos consideram completamente desnecessários e absurdamente caros para o serviço que prestam à comunidade que dizem representar.
Sou daqueles que há decênios rema contra essa maré.Dou ponto às câmaras municipais, sempre na esperança de que elas se comportem como um poder digno do nome e trabalhem efetivamente em favor dos interesses da população. Não apenas e tão somente de quem senta na cadeira de prefeito.
Temos bons vereadores, inclusive aqui em nossa Capital. Poucos, mas temos. Não vou citá-los, porque poderia cometer injusta omissão em relação a um ou outro cujo mandato não acompanha com a frequência que gostaria. De qualquer modo, trago o assunto a este espaço hoje porque ontem uma discussão entre amigos em torno da serventia desses parlamentares gerou uma proposta interessante.
Segundo as sugestões colhidas, em futuro breve, após as devidas adequações ou modificações legais, o vereador passará a ser remunerado por produção e assiduidade, entre outros critérios. Algo mais ou menos assim: compareceu e permaneceu do começo ao fim em todas as sessões e reuniões de comissão da Casa realizadas durante o mês, um salário mínimo; apresentou e conseguiu aprovar projeto de lei de reconhecida valia para o povo, mais um mínimo; promoveu ou participou ativamente de sessões extraordinárias convocadas por movimentos sociais ou entidades representativas de trabalhadores públicos e privados ou de empreendedores, mais um salário…
E assim por diante, até o limite de dez salários mínimos (mais de R$ 7 mil reais). Um bom salário, convenhamos. Um ganho de mérito, esforço e dedicação. Evidente que esse desempenho teria controle social, acompanhamento e avaliação permanentes. E, lógico, seria estendido a todas as esferas, da Assembleia à Câmara Federal e ao Senado. Na sequência, o sistema seria implantado nos demais poderes, Executivo e Legislativo, de acordo com as especificidades, características e missões de cada um.