você já prestou atenção?

Adoniran Barbosa ensinou mais sobre relacionamentos do que poderíamos supor

Você já se arrumou pra um encontro escutando Adoniran Barbosa? Eu já. Trago más notícias.

“Trem das Onze” é um pesadelo para quem duvida da boa-fé alheia (ou da possibilidade de amor em tempos líquidos) e não é uma boa ideia escutá-la nessas ocasiões, apesar de trazer aprendizados.

Desde que um paulistano se conhece por gente, ele escuta as músicas do Adoniran, acha graça do sotaque, reconhece os bairros mencionados… Ele se vê um pouco no espelho, enfim. Acontece que, embalados pelo ritmo contagiante, pode ser que a gente tenha deixado alguns detalhes importantes da letra passarem batidos esses anos todos.

No caso de “Trem das Onze”, abrindo bem a escuta, você vai reparar um certo tom de desespero nas frases do intérprete — que faz de um tudo para escapar das garras daquele amor gostoso: o cara dá pelo menos cinco motivos diferentes para sair CORRENDO da cama da mulher e voltar para a casa dele. Você já viu esse filme que eu sei.

Vem comigo:

Primeiro, o sujeito já chega dizendo que não pode ficar nem mais um minuto com a moça. Meio radical para uma situação de pegação, né? Mas piora.

Em seguida, ele diz que sente muito e coisa e tal, mas que mora longe e tem que vazar. Estaria de bom tamanho para ir embora sem grandes problemas, mas aí o homem desembesta com uma salada de justificativas desconexas “minha mãe não dorme enquanto eu não chegar”, “sou filho único”, “tenho minha casa pra olhar”… Calma cara! Às vezes a mulher nem liga que você se mande, não. Respira aí!

Escutar “Trem das Onze” com atenção também revela muito sobre situações de paquera dolorosamente familiares. Se existe um indício de ghosthing iminente nesse mundo é aquela em que a pessoa quer tanto sair de perto de você que ela começa a ficar tensa e desenrola um pergaminho de motivos para sair fora. Mais de 50 anos se passaram desde que Adoniran gravou esse hino do desespero por fuga, mas a gente continua repetindo os mesmos padrões.

De tudo isso — em apenas três minutos de música — podemos tirar duas conclusões importantes sobre amor: não seja o mala que age como se a sua saída fosse o fim do mundo para o outro, mas, principalmente, não seja a pessoa que dá moral para quem aplica um “Trem das Onze”.

Fonte: Universa
Créditos: Luiza Sahd