Apagando rastros

PT usou sistema de WhatsApp; campanha de Bolsonaro apagou registro de envio

Dados de um serviço de disparo de mensagens em massa via WhatsApp a que a reportagem do UOL teve acesso trazem novos indícios sobre o esquema revelado na semana passada pelo jornal Folha de S.Paulo

Reportagem do UOL teve acesso a dados que indicam relação entre campanhas de Bolsonaro e Haddad com agência sob investigação

Dados de um serviço de disparo de mensagens em massa via WhatsApp a que a reportagem do UOL teve acesso trazem novos indícios sobre o esquema revelado na semana passada pelo jornal Folha de S.Paulo. Os dados revelam que o sistema deixou rastros que mostram que, na tarde de 18 de outubro, foram apagados os registros de envio de mensagens disparadas pela campanha de Bolsonaro – horas depois da publicação da reportagem da Folha. A reportagem do UOL apurou que as campanhas dos presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) fizeram uso da mesma plataforma digital. As duas campanhas negam ter cometido irregularidades.
As campanhas dos dois candidatos que disputam neste domingo o segundo turno da eleição presidencial trabalharam com a agência de publicidade digital Yacows, que oferece um serviço de disparos de mensagens em massa pelo WhatsApp. A Yacows é uma das agências apontadas por uma reportagem da Folha como participante de um  esquema financiado pro empresários que apoiam Bolsonaro para divulgar conteúdo.

 

Tanto a AM4 Brasil Inteligência Digital, empresa contratada pela campanha presidencial do PSL, quanto Bolsonaro haviam negado, após a reportagem da Folha, que a campanha do capitão reformado tivesse alguma ligação com agências que fazem disparos de mensagens. A AM4 negou que usasse a ferramenta.
Bolsonaro também negou a utilização e disse na ocasião que não controla o que fazem “seus apoiadores”.
Nesta sexta (26), ao UOL, a AM4 admitiu pela primeira vez que usou um serviço desse tipo. A empresa alega que fez um único envio de mensagem por meio do serviço da Bulk Services, sistema criado pela Yacows, diz que a mensagem foi enviada “para 8.000 doadores cadastrados na base própria da empresa” e versava “sobre mudanças de seu número de cel. reformado, Gustavo Bebbiano, descartou que a campanha de seu partido tenha usado a ferramenta durante as eleições e negou qualquer vínculo com a Yacows
(veja abaixo a resposta completa).

A fonte
Um especialista em segurança virtual forneceu ao UOL, sob a condição de sigilo, dados do sistema de mensagens em massa pelo WhatsApp chamado Bulk Services, de propriedade da agência Yacows.
AM4 tem cadastro pelo menos desde setembro. Com sede na cidade de Barra Mansa (RJ), a AM4 aparece na prestação de contas da campanha de Bolsonaro como responsável pela criação do site da candidatura e outras ações em mídia digital, pelas quais recebeu R$ 115 mil declarados ao TSE, até o presente momento.
A empresa tem cadastro como cliente do sistema com ações registradas desde pelo menos o dia 25 de setembro deste ano, de acordo com os dados obtidos pelo UOL.
O login de usuário no sistema está em nome de uma funcionária da AM4, cujo nome foi confirmado à reportagem pela empresa. Em uma das listas de contatos apagadas estavam registrados pouco mais de 8.000 números de telefone.
Uma das mensagens apagadas, de acordo com a fonte do UOL, dizia respeito a pedidos de doação para a campanha do candidato do PSL.
Campanha de Haddad usou plataforma Pessoas ligadas à campanha petista confirmam que a agência de marketing contratada por eles usou serviços da Yacows, mas negam que tenham usado qualquer lista de contatos que não fosse do próprio PT. “Temos milhões de contatos no cadastro ativo do PT em todo Brasil, nunca iríamos correr o risco de fazer uma besteira dessa por causa de uma lista com cem mil números. Não faz sentido”, disse um contratado pela campanha petista, que pediu sigilo.
Procurada pela reportagem, a agência de comunicação digital Um Por Todos encaminhou nota onde afirma que foi contratada pela agência M Romano, relacionada na prestação de contas oficial da campanha petista no TSE como tendo  recebido ao todo R$ 4,814 milhões (para fazer a campanha na TV, rádio e internet), para envio de mensagens com informações para os filiados do PT.
Uma das bases utilizadas para o disparo de campanhas do PT tinha o nome: “PT (11.09)Base-Richard”. De acordo com a fonte ouvida pelo UOL, “Richard” é uma referência a Richard Papadimitriou, que segundo um dos sócios da Yacows, Lindolfo Alves, trabalhou na empresa. “É uma prática comum nesse tipo de serviço as empresas disparadoras oferecerem listas próprias com contatos, às vezes segmentados por idades, aos seus clientes. Neste caso, a negociação da lista é feita de forma separada”, diz o especialista em segurança virtual que forneceu os dados ao UOL.

Fonte: Uol
Créditos: uol