partiu pro "ataque"

VEJA O VÍDEO: Marina deixa Bolsonaro constrangido durante debate, diz cientista político

O confronto entre os candidatos à presidência da República, Marina Silva (Rede) e Jair Bolsonaro (PSL) no debate da RedeTV

O confronto entre os candidatos à presidência da República, Marina Silva (Rede) e Jair Bolsonaro (PSL) no debate da RedeTV! que foi exibido na noite de ontem (sexta, 17) favoreceu a candidata da Rede e deixou o ex-capitão do Exército constrangido, na avaliação do cientista político Leonardo Barreto.

“A Marina conseguiu resolver ali [no enfrentamento com Bolsonaro] a suspeição de que ela é frágil. No momento que ela encara o Bolsonaro, ela se mostra uma mulher forte, que não tem medo de homem, de machismo e deixa o Bolsonaro constrangido”, diz Leonardo, que é doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB).

 

O confronto entre os candidatos da Rede e do PSL aconteceu quando Bolsonaro perguntou a opinião de Marina a respeito do porte de arma. Marina se disse contrária e voltou à discussão sobre a diferença salarial entre homens e mulheres. O candidato do PSL havia dito, em outro momento do debate, que não era preciso se preocupar com a questão, visto que a CLT garantia direitos iguais a homens e mulheres. “Precisa se preocupar sim. O presidente da República tá lá para combater injustiça”, rebateu a candidata da Rede.

Segundo Leonardo, Marina se saiu muito bem ao voltar à questão porque essa é uma agenda que ela defende e pode ser uma oportunidade para usar na campanha. “Ela foi muito bem porque ela discorre sobre a função que um presidente da República deve ter. Por mais que você tenha leis, você tem que ter políticas públicas para garantir a implementação da lei”, avalia o cientista.

“O objetivo dela ali foi, além de pautar a agenda da mulher, mostrar que o Bolsonaro não tem estatura para aquilo que ele está propondo.”

Bolsonaro disse que “é mentira” que ele defendia que mulheres deveriam ganhar menos do que os homens. Mas a agência de checagem de fatos Lupa, que fez a verificação das falas dos candidatos em tempo real durante o debate, revelou que em 2016 Bolsonaro disse durante uma entrevista que “não empregaria [homens e mulheres] com o mesmo salário”.

Debate

Oito presidenciáveis participaram na noite de ontem do debate da RedeTV!: Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede), que teve um pouco mais de duas hora de duração.

Em um primeiro momento, os candidatos deveriam responder à pergunta “Por que você quer ser presidente do Brasil?”. Nos outros blocos, os presidenciáveis deveriam fazer perguntas uns para os outros e responder questionamentos dos jornalistas.

Para Leonardo, o formato do encontro favoreceu os candidatos, porque permitiu que eles passassem mensagens “rápidas e ensaiadas” e com pouca capacidade de “explorar o candidato”.

“Isso explica um pouco porque a gente tem a impressão que o debate foi morno.”

O cientista político ainda acrescentou que a ausência do Partido dos Trabalhados (PT) “esfriou” o debate. Lula, o candidato do PT, está preso em Curitiba desde abril por corrupção e lavagem de dinheiro e, mesmo com tendo registrado a candidatura no TSE, foi impedido pela Justiça de participar do encontro.

O governo do PT foi alvo de ataque pelos candidatos durante o encontro, que o responsabilizaram pela crise que levou o Brasil à recessão. “A ausência do PT tira um pouco de conteúdo do debate porque não tem um contraponto para a questão da crise.” Para o cientista, Ciro foi o candidato que mais se beneficiou com a ausência do partido.

 ANÁLISE:

Análise: veja como foi o desempenho dos candidatos no debate da ‘RedeTV!’

Encontro foi marcado por embate entre Marina e Bolsonaro sobre salários das mulheres

Um confronto entre Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) sobre a igualdade de salários entre homens e mulheres fez com que o segundo debate entre presidenciáveis, transmitido na noite desta sexta-feira pela “RedeTV!”, fosse mais movimentado que o primeiro debate, na semana passada.

Mais uma vez, participaram oito presidenciáveis. Embora a emissora de TV tenha anunciado que deixaria um púlpito vazio para representar o ex-presidente Lula, o banco destinado ao petista foi retirado após um pedido de Bolsonaro que contou com a anuência de todos os competidores, menos Guilherme Boulos (PSOL).

Jair Bolsonaro (PSL) — Depois de três atuações na TV nas quais não se comprometeu — o debate da Band e as entrevistas para o “Roda Viva” e GloboNews —, Bolsonaro teve dificuldade ao falar de um assunto que não conhecia, a dívida pública, foi flagrado com uma cola escrita na mão esquerda, com perguntas que pretendia fazer, e, no final, foi confrontado por uma professora de História (profissão de Marina Silva). Bolsonaro tinha acabado de aproveitar uma dobradinha com Cabo Daciolo sobre aborto, drogas e ideologia de gênero quando foi questionado por um jornalista sobre uma questão econômica espinhosa. De pé, no centro do estúdio, se mexia o tempo todo, denunciando o nervosismo. No bloco seguinte, abriu um flanco ao dizer que o governo não precisa fazer nada para garantir a igualdade de salário entre homens e mulheres, pois isso já está na Constituição: ouviu Marina rebater, no embate direto entre os dois, que essa igualdade não existe. Ao final do debate, foi ríspido com um repórter que perguntou o que escrevera na cola da sua mão: “Vá plantar batata”. O candidato do PSL não voltou a ser questionado sobre o caso da servidora que contratou para seu gabinete na Câmara, mas continuava morando em Angra dos Reis.Marina Silva (Rede) — Frequentemente taxada de frágil, Marina rasgou o clima morno do debate ao confrontar Bolsonaro sobre a igualdade salarial entre homens e mulheres, além de dizer que ele ensina os jovens que podem “resolver tudo na violência”. Única mulher presente no debate, ela já vinha dedicando espaço ao eleitorado feminino em suas agendas públicas dos últimos dias. No mesmo embate com o deputado, ela ainda usou uma frase que pode servir de resposta a quem usa sua religião para criticá-la. Quando Bolsonaro disse que ela era uma evangélica que defendia o aborto, a ex-senadora afirmou que o “Estado é laico”. O embate, já próximo ao fim do programa, salvou a participação de Marina, que até então estava esquecida pelos adversários e apagada em meio a manifestações genéricas contra a corrupção e medidas de Temer.

Ciro Gomes (PDT) — Pela segunda vez, Ciro deixou para trás a fama de um sujeito “esquentado” no debate da RedeTV!. Trocou um aperto de mão com Bolsonaro após uma pergunta e deu risada ao presenciar um embate entre o capitão e Daciolo. Aparentemente à vontade, fez brincadeira com o tempo curto para responder e escolheu como seu principal interlocutor o tucano Alckmin, buscando relacionar o ex-governador paulista a medidas do governo Temer como o teto de gastos. Assumiu tons professorais ao explicar a Bolsonaro como a dívida pública é formada, voltou a prometer tirar o nome de endividados do SPC, minimizou a ligação de Katia Abreu com o agronegócio e se comprometeu a revogar o teto de gastos.

Geraldo Alckmin (PSDB) — Questionado pelo apoio do blocão e medidas de apoio ao governo Michel Temer, Alckmin reagiu com críticas ao PT e seus aliados que, nas suas palavras, “quebraram o Brasil”. Passou boa parte do debate discutindo economia com Ciro, que respondia de forma mais clara e enérgica e menos técnica. Citou menos siglas que no programa da semana passada, mas insistiu na proposta do IVA, um imposto único sobre o consumo, sem esclarecer como isso muda a vida do eleitor. Antes de sair de cena, fez um breve aceno ao Nordeste, ao falar da transposição do São Francisco. A região, órfã de Lula, é historicamente um problema para o PSDB, que amarga índices baixíssimos de voto em praticamente todos os estados nordestinos. Mesmo mantendo o discurso técnico, Alckmin pareceu seguro no debate. Ao não ser questionado sobre corrupção no PSDB e envolvendo pessoas que trabalharam com ele, ficou mais liberado para um debate de propostas.

Álvaro Dias (Pode) — O senador começou o debate tropeçando em algumas palavras, mas logo engatou ao entrar em um tema recorrente em seus últimos discursos: a Lava-Jato. Embora não tenha citado o juiz Sergio Moro, a quem cogitou colocar no Ministério da Justiça no debate anterior, aproveitou a ausência de Lula para criticar a corrupção e emplacar uma frase de efeito: “Essa encenação de candidatura é uma afronta ao país”. Jogou pelo empate: não foi provocado, mas também não provocou nenhum candidato.
Guilherme Boulos (PSOL) — O líder do movimento dos sem-teto repetiu o bordão dos “50 tons de temer” para se referir aos adversários. Tentou ser didático e se fazer entendido: falou sobre o preço do gás e explicou a diferença de imposto pago por quem aluga uma casa e quem tem um fundo imobiliário. Não teve chance de um confronto direto com Jair Bolsonaro, como havia feito no debate da Band, mas pegou carona no embate de Marina Silva com o candidato do PSL para dizer a ele que “eleição não se ganha no grito”. Ficou isolado no voto a favor do púlpito vazio para Lula, mas não mencionou o petista no debate.

Henrique Meirelles (MDB) — O ex-ministro da Fazenda foi mais incisivo do que no debate da Band. Levou praticamente todas as respostas para o campo econômico, ainda que tenha mantido o tom acadêmico. Mais uma vez, tentou se ligar aos resultados positivos do governo Lula, mas foi colocado em uma encruzilhada ao ser questionado por Boulos sobre os 13 milhões de desempregados atuais — ele deixou o Ministério da Fazenda de Temer em abril. Numa tentativa de tentar se desligar de Temer, afirmou, ao menos duas vezes, que nunca foi investigado e nem enfrentou escândalos. No início do debate, flertou com a ideia que ajudou a eleger João Doria (PSDB) como prefeito de São Paulo dois anos atrás: “Não sou político”.

Cabo Daciolo (PATRI) — Com uma atuação que lembra a de pastores de programa de TV, o deputado federal limitou sua participação a temas religiosos. Carregando uma Bíblia enquanto circulava pelo estúdio, Daciolo falou sobre uma suposta farsa das urnas eletrônicas aliada à “nova ordem mundial” na escolha do próximo presidente, prometendo “baixar o combustível” e convocar os trabalhadores para unidades militares sem dar qualquer pista de como isso aconteceria. Foi alvo de piada de Boulos sobre a Ursal, união socialista de nações sul-americanas que ele citou no primeiro debate. Justificou sua corrida ao Planalto dizendo que o Brasil “precisa de Jesus”.

Fonte: Congresso em Foco
Créditos: Congresso em Foco