Eleições 2018

DataFolha expõe dilema de Haddad: ganha ou perde se descolar de Lula?

Quando as coisas começam a dar errado em campanhas eleitorais, e todos se sentem à vontade para meter o bedelho, a tendência é que elas desandem ainda mais. O naufrágio de Geraldo Alckmin, que zarpou com pretensão de transatlântico e se tornou uma canoa à deriva, é nessa eleição o exemplo mais óbvio.

Só Jair Bolsonaro conseguiu cruzar os mares do primeiro turno com bom vento de popa. Todos seus concorrentes passaram por marés complicadas. Ao longo dessa primeira travessia, comandantes e tripulantes da nau Fernando Haddad se desentenderam sobre as rotas.  Às segundas-feira, as desavenças eram expostas a Lula, que sempre optou pelo caminho em que ele continuava como protagonista.

Mesmo a contragosto, o contramestre Haddad teve que aguardar sua vez de assumir o leme. Soou patético na entrevista ao Jornal Nacional na segunda-feira (8) quando se disse candidato há apenas 20 dias. Sua tropa sempre quis navegar nas ondas de Lula mas exibindo, aqui e ali, seu próprio potencial de tocar o barco. A burocracia do PT, Gleisi Hoffmann à frente, sempre se opôs a essa navegação solo, e obteve o aval de Lula.

Os mares ficaram bravios no final do primeiro turno. Um vendaval encheu as velas de Bolsonaro e sua turma país afora. Diante desse tsunami, Lula finamente resolver largar as rédeas. Na versão petista, ao liberar Haddad para se aventurar com os próprios remos no segundo turno, estaria dando uma mão para ele ampliar sua base de apoio. Daí trocar o vermelho pelo verde-amarelo, investir na principal bandeiras de Bolsonaro, como apresentar propostas mais duras para os problemas de segurança pública, e esconder o próprio Lula na campanha.

Na noite dessa quarta-feira (10), ao esmiuçar a pesquisa em que Bolsonaro, que obteve 16 pontos percentuais de frente no confronto direto com Haddad, Mauro Paulino, diretor-geral do DataFolha, fez um diagnóstico oposto. Disse ele que as chances remotas de uma virada de Haddad viriam justamente dele crescer em nichos lulistas como mulheres pobres e eleitores como menos renda e grau de instrução.

Esse aparente paradoxo pode ter outra interpretação: Lula estar se distanciando de um possível desastre eleitoral do pupilo. Quem conhece bem Lula, avalia que mais do que uma derrota de Haddad vai doer mais nele um abalo na crença de seus devotos.

Essa suposta saída de Lula do controle dos cordões nos bastidores, abre a cena para outros protagonistas. Um deles é Jaques Wagner, senador eleito, que depois de escanteado pela turma de Gleisi Hoffmann, voltaria a dar as cartas na campanha, como se nada tivesse acontecido nesses meses  em que o PT chutou a canela de parceiros e de possíveis aliados.

Bolsonaro recebe o apoio do governador eleito de Goiás Ronaldo Caiado
Como uma varinha mágica apagasse mágoas acumuladas. Lanço-se ao vento a ideia de uma frente democrática, com a participação de Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes Marina Silva, para, em nome da democracia, apoiar Haddad no segundo turno. Dirigentes petistas e sua turma nas redes sociais passou a tratar disso como se os três — e todos os demais amantes da democracia — tivessem obrigação de se alinhar agora ao PT.

Eles não entenderam que o fato de Lula e o PT até agora não terem feito sequer um autocrítica por sua participação no maior escândalo de corrupção do planeta não é um simples detalhe. Simplesmente não há garantia que, no poder, possam repetir os mesmos “erros”.

Também não entenderam que, só para ficar nos três protagonistas que escolheram para compor a tal frente democrática pró-Haddad, que sem pedir desculpas a cada um deles, não vão chegar a lugar algum. Desde que FHC a faixa presidencial para Lula, virou saco de pancada toda vez que os petistas estão em dificuldade. Dilma Rousseff e o PT nunca se desculparam pelas baixarias contra Marina Silva na campanha de 2014. No primeiro turno presidencial de 2018, simplesmente passaram a perna em Ciro Gomes.

Ciro Gomes e Kátia Abreu
Em política, os interesses costumam falar mais alto que o troco. Em campanhas tidas como perdidas é o contrário. FHC e Marina Silva estão cozinhando o galo. Pelas circunstâncias, e projetos futuros, Ciro Gomes e o PDT aprovaram um tal de “apoio crítico” a Haddad. Ciro sequer quis dar entrevista. Mandou avisar que está tirará férias no exterior durante a toda a campanha no segundo turno. Deixou o veneno saideiro para a senador Katia Abreu, candidata a vice de sua chapa. Ela disse simplesmente que todo esse esforço para derrotar Bolsonaro no segundo turno só faz sentido se for em torno de alguém capaz de vencê-lo e propôs que Haddad renuncie à candidatura e apoie Ciro.

Simples assim.

Fonte: osdivergentes
Créditos: osdivergentes