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Testes em ratos mostram que "pílula do câncer" não faz mal, mas é ineficaz

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Os testes mais recentes para medir a eficácia e a toxicidade da fosfoetalnolamina sintética, principal composto da chamada “pílula do câncer”, em organismos vivos indicam que a substância, apesar de não ser tóxica, não possui nenhuma eficácia no tratamento do câncer. Os estudos foram realizados no tratamento de tumores de ratos em laboratórios em Santa Catarina e no Ceará, com patrocínio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (que foi fundido ao Ministério das Comunicações).

Em março, outro relatório do grupo de estudo já indicava que a pílula não tinha efeitos contra o câncer em células em laboratório. Na época, defensores do composto diziam que ele agia no metabolismo de um organismo vivo e, por isso, não teria efeito in vitro.

De acordo com os experimentos realizados no Ceará, a fosfoetanolamina foi incapaz de inibir o crescimento de tumores nos animais. Em comparação feita durante a pesquisa, a substância ciclofosfamida, comumente empregada em tratamento de cânceres, apresentou resultados positivos nos ratos. Nos testes feitos em Florianópolis a fosfo não apresentou efeitos tóxicos em genes e células do organismo dos roedores.

Os testes sobre a eficácia no tratamento de tumores foram feitos pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará. A eficácia da fosfoetanolamina foi testada em dois tipos diferentes de tumores inoculados nos ratos: o Carcinossarcoma 256 de Walker e o Sarcoma 180. As células tumorais utilizadas seguem padrão mundial de pesquisa oncológica em fase que antecede testes clínicos, segundo o relatório do estudo.

A fosfoetanolamina utilizada nos testes foi fornecida pelo governo federal, e as doses, de 1g/kg, foram ajustadas ao longo dos 10 dias de pesquisa de acordo com o peso dos animais. Ao todo, 45 camundongos inoculados com células tumorais participaram dos testes, divididos em grupos de tratamento e controle, para comparação de resultados.

Dessa forma, 15 animais receberam fosfoetanolamina por via oral, 15 receberam soro fisiológico e outros 15 receberam a substância ciclofosfamida, amplamente utilizada no tratamento do câncer. Os procedimentos seguiram protocolos dos EUA e do Brasil. Foram mensurados os tumores e utilizados métodos estáticos para a conclusão.

O resultado dos testes não indica diferenças entre os tamanhos dos tumores dos ratos tratados com a fosfoetanolamina e dos que receberam o soro fisiológico. Já os animais tratados com ciclofosfamida apresentaram resultados diferentes dos que receberam a fosfo e o soro fisiológico, com inibição significativa do volume do tumor e com pouca alteração do número de glóbulos brancos (células de defesa).

Testes em humanos
Os primeiros testes clínicos da fosofetanolamina sintética, quando há participação de seres humanos, devem ser realizados no Ceará, em São Paulo e no Rio de Janeiro nos próximos meses. A “pílula do câncer”, desenvolvida pelo Instituto de Química da USP (Universidade de São Paulo), em São Carlos, vem sendo usada há mais de 20 anos sem nunca ter sido testada. Ela era distribuída gratuitamente para pessoas interessadas pela equipe coordenada pelo professor aposentado Gilberto Chierice, sem nunca ter tido uma comprovação científica de que combate o câncer.

Uma determinação da USP, no entanto, impediu a distribuição, o que fez com que muitos pacientes entrassem na Justiça para conseguir acesso ao medicamento. Muitos doentes garantem ter detectado efeitos positivos ao usar a pílula, mas análises iniciais não comprovaram sua eficácia.

Após diversos protestos e decisões judiciais, uma lei foi aprovada pelo Congresso Nacional permitindo a comercialização e uso da substância mesmo sem registro da Anvisa. Contudo, o STF (Supremo Tribunal Federal), em decisão liminar, suspendeu a lei. Ela pode ser considerada inconstitucional no julgamento definitivo do mérito por passar por cima de regras de avaliação e liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Enquanto isso, alguns centros pesquisam sobre a eficácia da substância. Um laboratório já foi autorizado a produzir a fosfoetanolamina sintética para análises clínicas. Até o momento, foram manufaturados 35 quilos para serem testadas em pacientes de hospitais em um trabalho coordenado pelo Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo).

Em um primeiro momento, o estudo definirá a dose a ser ministrada em dez pacientes. Também serão analisados efeitos colaterais graves. Não havendo problemas, 21 voluntários passarão a tomar a substância. Entre outros, estarão envolvidos doentes com tumores no pulmão, próstata, fígado e estômago. A intenção é ir ampliando o número de pacientes até chegar a 1 mil.

Fonte: UOL