censura em feira de ciências

Prefeitura justifica veto a trabalhos escolares sobre violência doméstica e depressão: 'ideologia de gênero’

Pais admitiram que não sabiam conteúdo de trabalhos, mas sabiam que tinha o termo 'gênero'.

Uma feira de ciência que ocorre desde segunda-feira (12), em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, teve parte dos conteúdos vetados pela prefeitura local após denúncia de alguns pais e vereadores da cidade de que o evento apresentaria conteúdos ideológicos para estudantes do ensino fundamental. Uma das alegações dos denunciantes era de que havia “ideologia de gênero” na feira.

A feira Ciência Viva é uma exposição anual e municipal aberta ao público, em que estudantes da educação básica das instituições de ensino público e privado do município de Uberlândia compartilham experiências e apresentam trabalhos científicos. O tema em 2018 foi: “Ciência para Redução das Desigualdades”.

Pessoas ligadas à feira, que não querem ser identificadas por medo de perseguições, contaram que o vereador Mastroiano de Mendonça Alves (PR), conhecido como Doca, se reuniu com pais de alunos e levou o caso ao prefeito, Odelmo Leão (PP), que decidiu vetar os conteúdos e, logo após, retirar a participação das escolas municipais do evento.

Em conversa com o BHAZ, o vereador Doca contou que foi procurado por pais que estariam revoltados com os conteúdos da feira. “São pais de alunos de 8 anos que autorizaram os filhos a ir à feira e tomaram conhecimento sobre dois ou três temas que tratavam de ideologia de gênero. É um tema polêmico que estão tentando inserir na nossa sociedade; não vamos aceitar isso”, afirma o vereador.

Tivemos acesso ao teor da denúncia. Entre os temas questionados, estão os listados abaixo:

  • Animações musicais e filmes de princesa – Ciências Sociais interpretando a desigualdade social na infância;
  • Entre tapas e beijos: Amor, sexualidade e violência na música sertaneja;
  • A realidade aumentada sobre desigualdade de gênero – Representações gráficas sobre a violência simbólica e física;
  • Desigualdade de Gênero: Os animais são bons exemplos para estimular a reflexão deste tema por estudantes do ensino fundamental;
  • Conscientização e prevenção sexual na rede social.
  • Ansiedade e depressão no ensino fundamental

Os conteúdos listadas foram produzidos por alunos da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), do ensino médio e até mesmo do ensino fundamental. O evento será finalizado nesta terça-feira (13), no Museu Diversão com Ciência e Arte (Dica), um espaço de ciência, tecnologia e conhecimento mantido pelo Instituto de Física e pela UFU.

Em nota, o Levante Popular da Juventude de Uberlândia, movimento de estudantes da cidade, repudiou a ação da prefeitura (Leia a nota abaixo, na íntegra). “Entendemos que isso fere a liberdade e a autonomia da escola, dos estudantes de serem agentes da sua própria história e de sua educação como um todo. Isso fere o Estado democrático de direito em que vivemos e só nos mostra e comprova a cada dia que nosso país caminha para um processo de veto ao diálogo, autoritarismo e descaso com a educação pública e de qualidade.”

Entramos em contato com a Prefeitura de Uberlândia, por meio da secretaria de comunicação, mas, até o momento da publicação desta matéria não obtivemos retorno sobre o caso.

Confira a nota do Levante na íntegra:

Nós do viemos por meio desta nota, expressar nossa indignação e divulgar a todos o ato de censura sofrido pela feira de Ciências, “Ciência Viva” que estaria programada para acontecer hoje na UFU por meio de stands no bloco 5RB. O descontento de pais de alunos gerou uma reclamação a vereadores que fez com que a prefeitura censurasse dois trabalhos que falavam sobre desigualdade de gênero na escola provindos das escolas municipais. Ocasionando posteriormente a censura de dezessete stands que seriam apresentados entre hoje e amanhã na UFU dos mais diversos temas. Os pais, professores e alunos das escolas envolvidas estão indignados com a atitude antidemocrática e autoritária que sem dialogo algum vetou um ano de produção e trabalho dos alunos para que pudesse apresentar seus resultados nessa feira hoje.

Entendemos que isso fere a liberdade e autonomia da escola, dos estudantes de serem agentes da sua própria história e de sua educação como um todo. Isso fere o Estado democrático de direito em que vivemos e só nos mostra e comprova a cada dia que nosso país caminha para um processo de veto ao diálogo, autoritarismo e descaso com a educação pública e de qualidade. Não aceitaremos esse retrocesso, essa imposição sem diálogo e toda forma de vetar os debates que são de extrema necessidade em uma sociedade que oprime maiorias e que é protagonizada pelas minorias.

O debate de gênero abordaria as desigualdades que ocorrem nas escolas hoje, percebidas, analisadas e enfrentadas pelos próprios alunos que entendidos como pessoas protagonistas de sua própria educação realizaram os trabalhos a fim de solucionar problemas recorrentes do tipo em suas escolas. A importância desse debate se dá na ciência que habita nele, na identificação dos problemas sociais a fim de repará-los e avançarmos na igualdade social em uma sociedade mais justa e melhor para todos.

A juventude não se calará. Permaneceremos em luta e em apoio aqueles que sofreram diretamente esse veto entendendo que todos sofremos juntos as consequências dessas atitudes autoritárias.

Juventude que ousa lutar!! Constrói o poder popular!!

Fonte: BHAZ
Créditos: BHAZ