Diplomas cassados 

Polícia descobre venda de TCCs, e estudantes podem ter diplomas cassados

De acordo com a polícia, o investigado, que tem 31 anos, produzia TCCs para estudantes de direito, medicina, pedagogia e gestão financeira

A 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) investiga a venda de trabalhos de conclusão de curso (TCC) para estudantes universitários do Distrito Federal e dois estados do país. Na madrugada desta quinta-feira (6/9), agentes da unidade policial cumpriram mandados de busca na casa de um suspeito, em Águas Lindas (GO), onde encontraram pelo menos 100 monografias armazenadas em um computador.

De acordo com a polícia, o investigado, que tem 31 anos, produzia TCCs para estudantes de direito, medicina, pedagogia e gestão financeira. O serviço teria atraído  até universitários de Minas Gerais e da Paraíba. Por enquanto, ele será investigado em liberdade, mas pode ser acusado por falsidade ideológica e ficar três anos preso.

Os policiais chegaram à casa do suspeito após interrogar um estudante de direito investigado por tráfico de drogas. De acordo com o estudante, o homem teria cobrado R$ 1,6 mil para produzir seu TCC. Durante a operação desta madrugada, os agentes apreenderam um celular, um notebook e um HD. Com os objetos, a polícia quer identificar os estudantes que compraram monografias do homem e as instituições lesadas pelos TCCs falsificados.

Diplomas cassados

“No computador, as monografias estavam identificadas com os nomes de quem havia comprado. O homem era bem organizado e isso facilitou nossa investigação. Comprovadas as fraudes, os beneficiados podem ter os diplomas cassados e responder por uso de documento falso. A pena varia entre um e três anos de reclusão”, disse o delegado-chefe da 1ª DP, Ataliba Neto.

Segundo o delegado, o homem havia sido aprovado para investigador em um concurso da Polícia Civil de Minas Gerais. A princípio, ele não tem antecedentes criminais.

Fiscalização

Para coibir a prática, algumas universidades do Distrito Federal têm sistemas próprios para identificar possíveis fraudes de alunos. No Centro Universitário de Brasília (UniCeub), por exemplo, os estudantes cursam disciplinas voltadas especificamente para as monografias.

“Nós fazemos com que os alunos sejam acompanhados individualmente por um professor orientador durante o processo de construção do trabalho. É uma forma de coibir a prática de falsificação, pois o estudante será questionado a todo momento. Caso ele apresente uma ideia diferente, saberemos que algo está errado”, disse a coordenadora do curso de direito, Dulce Donaire.

Além disso, todos os trabalhos são submetidos à avaliação de uma plataforma online. Caso seja constatada alguma fraude, o estudante é punido. “Primeiramente, ele é reprovado na disciplina. Também pode sofrer sanções disciplinares, pela falta de ética, e ser punido judicialmente”, acrescentou Dulce.

“Queremos fazer um trabalho não apenas de formação acadêmica, mas também de formação profissional. Não é a aprovação na disciplina que trará mérito ao estudante. Além de perder a oportunidade de desenvolver e agregar conhecimento para a sua vida, ele pode ficar marcado por toda a vida por conta de uma escolha errada”, destacou.

Os procedimentos do UniCeub também se repetem na Universidade de Brasília (UnB). Decanato de ensino e graduação da instituição, Diego Madureira comentou que os professores da universidade buscam ainda politizar os estudantes. “A todo momento informamos que a ação, mais do que uma fraude, trata-se de uma atitude criminosa. Quando constatamos um caso, a primeira medida é a reprovação do aluno. Contudo, dependendo da repercussão do acontecimento, ele também pode ser excluído da universidade”, explicou.

Segundo Diego, cada aluno deveria pensar duas vezes antes de recorrer a terceiros para a elaboração de um trabalho científico. “A partir do momento que ele não é o autor, a monografia perde o sentido. O estudante não pode negligenciar a importância desse trabalho. É o instrumento de avaliação de todo o curso, e não apenas de uma disciplina”, apontou.

“Enquanto professor, sinto que parte do meu esforço foi em vão. Não consegui fazer com que o aluno percebesse a relevância que a formação acadêmica tem na vida dele. Isso é muito triste, pois não vale a pena colocar em risco o seu futuro por conta de uma facilidade do momento”, lamentou Diego.
 

Fonte: Correio Braziliense
Créditos: Correio Braziliense