SOLIDARIEDADE

Mulheres Juristas da Paraíba emitem nota de repúdio ao estupro coletivo no RJ

mulheres assassinadas
NOTA DE REPÚDIO

É com profundo pesar e angústia lacerante que recebemos a notícia de que uma jovem mulher foi violentamente estuprada por mais de trinta homens, no estado do Rio de Janeiro, tendo ainda fotos e vídeos sido perversamente divulgados por seus agressores em diversas redes sociais.
Uma mulher. Trinta homens.

Nossos corações estão dilacerados.
Dilacerados como o corpo e a alma dessa mulher.
É excruciante saber que tamanha bestialidade só foi e é possível pela absoluta inserção de nossa sociedade em uma cultura do estupro.
Sim, cultura do estupro. Um conjunto de concepções e práticas que subjugam, inferiorizam, coisificam, que pautam as relações entre homens e mulheres em vieses de poder e submissão. Uma cultura que humilha, que tortura, que escraviza, que destrói, que sangra, que estupra, que mata.
O patriarcado ainda existe e é algo tortuoso de se constatar. Existe cada vez que a sociedade permite ao pai dizer ao filho como ele deve “tirar a virgindade” de uma mulher. Existe quando a mulher cede à submissão e abre mão dos seus direitos para “permanecer em paz com o marido”. Existe igualmente nas piadas machistas do dia a dia e que devem ser “toleradas” em nome da “urbanidade”. Ele, o patriarcado, não está apenas presente na esfera familiar, tampouco apenas no âmbito trabalhista, ou na mídia ou na política. O patriarcalismo compõe a dinâmica social como um todo, estando, inclusive, inculcado no inconsciente de homens e mulheres individualmente e no coletivo, enquanto categorias sociais. O patriarcado contemporâneo é um nó na nossa garganta.

Já não é mais possível admitir essa realidade. Não é cabível aceitar que nós mulheres tenhamos nossas liberdades cerceadas e nossos corpos invadidos com a leniência de uma sociedade imersa em uma misoginia incrustante.
É urgente que todos os setores da sociedade mantenham-se em um vigilante e constante debate acerca do preconceito de gênero. Não existe qualquer esperança de reversão dessa realidade que não pela via do combate sistemático a todas as formas de machismo e misoginia e do incessante desenvolvimento do feminismo em todas as áreas da sociedade.
É imperioso às mulheres empoderarem-se, tomando como seus os espaços conquistados, com plena consciência e posse de seus direitos, emancipando-se de dependências construídas por preceitos arcaicos.
O empoderamento feminino tem que ser vivido em sua plenitude. Empoderar é dar poder, revestir-se, capacitar-se. É não aceitar termos nossas demandas reduzidas e nossas vozes silenciadas, sob pena de prosseguirmos em um ciclo interminável de barbáries, que continuarão a ser eternamente inseridas em abismos de naturalização, gerando cada vez mais dor e morte.
Nossa integral solidariedade à jovem mulher e sua família.
Que do seu pranto emane vozes de clamor e justiça.
Das suas lágrimas criaremos força de luta.
Não estás sozinha. Somos mais que trinta. Somos quarenta, somos cem, somos mil, somos milhares e milhares. Resistiremos com você e por você.
Mulheres Juristas da Paraíba.

Fonte: Assessoria