feliz dia da mulher?

A Mulher Moranguinho e por que as mulheres nunca acertam - Por Amara Alcântara

Na semana da Mulher um clima rosa de feminilidade comercial cai sobre propagandas, homenagens e, principalmente, sobre produtos e serviços.

Mensagens comemorativas enaltecem a figura feminina como companheira, delicada, forte, perfumada, graciosa, bela… Uma chuva de adjetivos para colocar as mulheres num pedestal inumano. As mulheres que mais se aproximam dessas características poderiam ter uma salvaguarda de qualquer retaliação, mas não é bem assim que acontece.

Ellen Cardoso, cujo nome artístico é Mulher Moranguinho, acusou o companheiro, o cantor Naldo Benny, de agredi-la. Segundo a denúncia, Naldo desferiu contra Ellen socos, tapas, puxões de cabelo e um golpe com uma garrafa, no dia 2 de dezembro. Após três meses de separação, Ellen resolveu voltar com o ex.

Naldo fez um churrasco e comemorou juntamente com a família a reconciliação. Vale lembrar que, após a denúncia, o cantor foi autuado por porte ilegal de arma.

Ellen se encaixa perfeitamente nos adjetivos atribuídos à feminilidade exaltada pela mídia, mas sua beleza e vaidade se viraram rapidamente contra ela no momento da agressão. Ser uma mulher sensual, desejada e bonita pareceu legitimar a agressão. Ellen Cardoso teve sua vida familiar exposta, sua profissão de modelo condenada e foi julgada no tribunal da opinião pública em que “mulher apanha porque merece”.

Percebemos que, mesmo sendo a mulher retratada nas homenagens típicas do Dia da Mulher, Ellen ainda não teve o apoio que talvez necessitasse. Agora, ela retorna para sua vida familiar e ainda gera críticas. Sugerem que ela prestou um desserviço ao voltar ao seu agressor e assim mandar um recado errado às mulheres.

Nesse sentido, qual o recado correto que Ellen deveria passar? Talvez a pergunta esteja totalmente errada. Talvez a questão seja: qual recado a sociedade poderia lhe passar?

Ficar ou sair de uma relação violenta são dois cenários em que a mulher parece sempre estar errada. Corresponder às altas expectativas da sociedade em uma situação de violência é, assim como preencher os inúmeros requisitos da feminilidade perfeita descrita nas homenagens do oito de março, impossível.

Para efetivamente mudar esse quadro, a sociedade deveria criar uma rede de apoio e não impor um conjunto de regras contraditórias e inalcançáveis. No tribunal implacável onde as mulheres parecem estar sempre erradas, nenhuma mulher merece ou ama passar pelo calvário de sofrer agressões físicas, emocionais ou patrimoniais.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Amara Alcântara