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Morre o jornalista José Marques de Melo, referência em estudos da comunicação no Brasil

Aos 75 anos, Melo, natural de Alagoas, faleceu em São Paulo em decorrência de um enfarte. Ele teve influência na criação, gestão e manutenção das mais emblemáticas faculdades de jornalismo do Brasil

Aos 75 anos, morreu nesta quarta-feira, 20, em São Paulo, o jornalista alagoano José Marques de Melo em decorrência de complicações de um enfarte. Melo foi o primeiro doutor em jornalismo titulado por uma universidade brasileira, integrou o corpo docente que fundou a Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), da qual virou diretor posteriormente, foi um dos fundadores também da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), onde era considerado presidente de honra, e publicou cerca de 50 livros e coletâneas sobre estudos na área.

A morte foi lamentada por instituições e estudiosos da comunicação. Atualmente, ele exercia atividades na Universidade Metodista de São Paulo, onde era titular da Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional. O reitor da universidade, Paulo Borges Campos Júnior, emitiu nota lamentando a morte e o classificando como o “professor que teceu a comunicação no Brasil”. “O talento do professor Marques vem de uma trajetória de desafios e vitórias, desde a sua atuação como líder estudantil nos idos dos anos 1960, como jornalista que cobriu fatos históricos em nosso país, como comunicador público e educador em movimentos à frente de seu tempo”, declarou.

“Mesmo as perseguições que sofreu por conta de ações ditatoriais foram para ele oportunidade de renovação, de demonstração de seu caráter inovador e revolucionário. A sua inquietação o trouxe a São Paulo e fez com que ele mudasse o rumo da comunicação, da pesquisa e das instituições por onde passou – Faculdade Cásper Líbero, Universidade de São Paulo, Universidade Metodista de São Paulo –, sempre buscando renovação e dinamismo”, acrescentou Campos Júnior.

O professor da ECA Eugênio Bucci disse ao Estado que Marques de Melo foi “pioneiro na projeção de uma ponte entre a universidade e a cultura profissional”. “Os estudos dele têm uma forma forte influência na consolidação do repertório acadêmico, mas também conquistou muito respeito entre jornalistas profissionais experientes. O trabalho dele sobre a história e as práticas jornalísticas também foi essencial”, disse.

O corpo do professor será velado no Cemitério do Morumbi na noite desta quarta, a partir das 22h, e o enterro será no mesmo local às 11h desta quinta-feira, 21.

Biografia

José Marques de Melo nasceu em Palmeira dos Índios, em 1943, e se mudou para a vizinha Santana do Ipanema, de onde saiu na adolescência para estudar em Maceió e no Recife, segundo dados publicados pela Intercom a partir de entrevistas biográficas realizadas com Melo. Ele se formou em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco e em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco, durante a década de 1960, antes de se transferir para São Paulo.

Na capital, fundou o Centro de Pesquisas da Comunicação Social, da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, e foi docente-fundador da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), onde obteve os títulos de doutor em Ciências da Comunicação, livre-docente e professor catedrático de jornalismo.

Impedido por anos de exercer a docência em universidades públicas em razão da ditadura militar, reassumiu sua cátedra na USP após a anistia. Em 1989, foi escolhido pela comunidade acadêmica para exercer o cargo de diretor da ECA, função ocupada até 1993, quando se aposentou na instituição. Em 2009, coordenou o processo de revisão das diretrizes curriculares dos cursos de jornalismo, que foi implementada pelo então ministro da Educação Fernando Haddad (PT). “O professor Marques de Melo fez de todos aqueles que com ele conviveram grandes vitoriosos. Espalhou sementes, plantou ideias e ideais e neles sempre estará presente”, escreveu o reitor da Universidade Metodista.

Fonte: Estadão
Créditos: Estadão