muitas fés

"Fui católica, umbandista, evangélica e agora decidi ser muçulmana"

Arquivo Pessoal

Filha de católicos e criada na igreja, aos 45 anos de idade, Valesca Zschornack decidiu se converter ao islamismo e passar a usar o hijab –lenço que cobre os cabelos. Não, ela não fez isso para se casar com um muçulmano, foi realmente uma escolha religiosa e ela contou à Universa o porquê.

“Eu vim de berço católico. Quando era criança, meus pais me levavam para a igreja, mas, já na adolescência, comecei uma busca por uma paz espiritual que me preenchesse.

A primeira religião que conheci foi o Cardecismo. Fiquei lá alguns anos, até conhecer a Umbanda, com a qual me identifiquei muito. Passei 16 anos nela, frequentando os terreiros e até recebendo entidade. Depois, de novo, me veio a necessidade deprocurar uma paz religiosa, que encontrei na religião evangélica.

Uma traição me fez questionar a religião evangélica

Por 10 anos, segui na igreja evangélica, onde criei meu filho dos cinco aos 15 anos. Estava tudo bem até que me divorciei. Ele me traiu e, naquele momento, comecei a questionar a religião, porque sei que a palavra de Deus não tem nada a ver com a atitude que ele teve. Aquilo me decepcionou muito e acabei me afastando da igreja.

Isso foi há dois anos. Por um tempo, decidi ficar pesquisando, estudando e buscando outras linhas de crenças que tivessem mais a ver comigo.

Vi um amigo orando e quis saber mais

Sempre fui encantada pela cultura indiana, desde pequena, e tenho há alguns anos amigos indianos que conheci pela internet. Com eles, converso sobre tudo, ensino português, aprendo inglês e também falo de religião.

Um desses meus amigos é muçulmano e vínhamos conversando sobre o assunto, quando ele perguntou se eu queria ver uma oração. Por vídeo, vi ele rezando e aquilo mexeu comigo, me tocou. Fiquei curiosa e decidi pesquisar mais sobre o Islamismo, para conhecer melhor a religião.

Foi quase um ano de pesquisas e leituras. Muita coisa me atraiu, mas também li muito sobre o papel da mulher e até a violência contra nós, e isso me estimulou a pesquisar e procurar saber ainda mais. Eu não poderia seguir uma religião que pregasse a violência contra mim ou me diminuísse.

Conexão direta com Deus

Foram várias coisas que me atraíram para o Islamismo. Mas uma das principais foi a conexão direta com Deus. Eu vinha de religiões com muitos rituais e queria algo mais simples, que não tivesse que ficar justificando minha vida para padre, pastor ou irmão de igreja.

Quantas vezes eu não tive de ir para igreja sem vontade? Como muçulmana, eu faria as cinco orações diárias em casa e poderia ir à mesquita só quando quisesse. Não tem obrigação de bater ponto lá, e isso me pareceu muito interessante.

Não acho que seja uma fé machista

Sobre o papel da mulher no Islã, eu aprendi muito durante as minhas pesquisas. Existem sim países ou linhas religiosas que interpretam o corão de forma machista. Mas não é em todo lugar. Inclusive, porque a língua árabe é muito complexa, as palavras têm múltiplos significados, o que abre margem para a interpretação.

Mas quantos pastores não interpretam a bíblia de maneira machista? A questão não é a religião e, sim, as pessoas. Assim como aqui no Brasil tem violência, independentemente da fé.

O que me ajudou a entender isso tudo foi começar a frequentar a mesquita perto de casa. Conheci várias mulheres árabes e pude perguntar para elas como era isso, e todas concordaram que não havia machismo.

Agora uso hijab e acho lindo

Foi um ano de pesquisa, frequentar a mesquita para saber, até que decidi me converter. Há um mês, tomei a decisão. A conversão em si eu fiz sozinha, uma conversa minha com Deus. Mas também participei de um ritual na mesquita, para ter uma oficialização para ser aceita em Meca quando eu for.

Desde então, praticamente nada mudou na minha vida. Só mesmo comecei a usar o hijab, que acho lindo. Inclusive, vi vários vídeos no Youtube, para aprender formas de vestir com estilo.

Eu sempre fui comportada. Vinha de uma base religiosa evangélica que já tinha bastante esse trabalho de preservar a imagem. Então não teve uma mudança que me deixasse insegura ou com vergonha.

As pessoas estranham minha conversão

Acho que a principal coisa que mudou é a reação das pessoas à minha conversão. Enquanto da minha família ouço que vou “apanhar de árabe”, na rua eu tenho de lidar com o espanto e a curiosidade das pessoas.

Em geral, ficam me olhando e perguntam se sou árabe. Quando digo que não, vem todo um questionário.

Já na comunidade muçulmana eu fui muito bem acolhida. As mulheres me levam para casa e estou até aprendendo a fazer comida árabe. E nunca teve nenhum tipo de condenação por eu ser divorciada.

Inclusive, se um dia eu me casar de novo, tem que ser muçulmano. Mas isso não está na minha mente não. Meu foco agora é sair do Brasil, passear em lugares que sonho conhecer, porque já deixei de fazer muita coisa quando era casada, para cuidar da família.

Fonte: UOL
Créditos: UOL