Virada

Cabeleireiro vira sucesso nas redes sociais após postagem sobre virada na carreira e na vida

Quando ainda era assistente, o cabeleireiro Bruno Sodré, hoje de 32 anos, chegou a ser demitido três vezes de grandes salões de beleza da cidade –  sonho de qualquer um que esteja começando na área.

Quando ainda era assistente, o cabeleireiro Bruno Sodré, hoje de 32 anos, chegou a ser demitido três vezes de grandes salões de beleza da cidade –  sonho de qualquer um que esteja começando na área. Chorou, tropeçou, pensou em desistir e agora comemora a agenda cheia. Para o mês de março, restam poucas vagas durante a semana e aos sábados, dia mais concorrido da semana, só há disponibilidade em maio.

Sua história se espalhou nas redes sociais no início desta semana, quando postou uma foto de um “antes e depois”. O clique não era um de madeixas de clientes, mas sim este que ilustra a reportagem: ao lado esquerdo, a área de serviço da casa adaptada para receber suas freguesas, no Capão Redondo, e à direita, a fachada de seu salão com seus sete funcionários, na Avenida Morumbi, no Brooklin, inaugurado no ano passado.

A foto contabiliza mais de 160 000 curtidas, 15 000 comentários e 131 000 compartilhamentos. “Em cinco dias, meu perfil no Instagram ganhou 48 000 seguidores e alcançou  8  milhões de pessoas. Antes não chegava a 800 000”, diz. “Fui dormir com dezesseis likes e acordei bombando”, diverte-se.

Criado no Capão Redondo, Bruno diz que não tinha uma paixão pela área quando criança. Sua tia tinha um salão no bairro e, aos 10 anos, ele ficava por lá. “Uma prima era manicure e a outra cabeleireira e eu aprendi a fazer escova e comecei a trabalhar por lá”, diz. Quando tinha 17 anos, um amigo avisou de uma vaga de assistente no Jacques Janine no Shopping Jardim Sul e ele foi. “Achava o máximo trabalhar no shopping”, conta. Lá, passou a entender como os processos funcionavam e a se arriscar nos procedimentos com as clientes, o que nem sempre deu certo.

Certa vez, uma apresentadora de um telejornal na Band veio retocar os fios brancos pois ia fazer uma série de fotos para outdoors com propaganda do noticiário. “Não fiz certo, ficou horrível e eu levei uma bronca”, conta. “Fazer retoque é uma das tarefas mais básicas e o gerente disse que se soubesse que eu nunca tinha feito, nem me contrataria”, diz.

De lá, foi para De La Lastra, também como assistente e em seguida para o Studio W, do badalado Wanderlei Nunes. “Fui demitido de lá por ser sincero demais”, afirma. Na ocasião, a cliente estava fazendo um tratamento capilar contra queda de cabelo e a cabeleireira faria uma progressiva. A menina, preocupada, perguntou se não teria problema, por causa da química. “A cabeleireira disse que não e perguntou a minha opinião e eu disse que pensava que sim, poderia ser um problema. Ela não gostou”, conta. Teve de sair naquela tarde.

Voltou ao De La Lastra, mas já com a ideia de crescer. “Uma amiga comentou que se eu fosse para Portugal, teria uma pessoa interessada em investir em um salão para mim em Lisboa”, afirma. Ligou para a mãe, que na época trabalhava como doméstica nos Estados Unidos, para pedir dinheiro. “Eu pensei que ele estava gastando tudo em farra, mas mandei”, diz dona Eugênia. “Eu estava fazendo, aprendendo algumas coisas lá, me formei como cabeleireiro, mas o cara que ia me ajudar sumia, então, eu ia farrear mesmo”, confessa Bruno. Voltou com 25 centavos de euro no bolso e deprimido por não ter conseguido o objetivo de ficar por lá. Seu retorno em 2014 coincidiu com a volta da mãe. “Eu me sentia triste e perdido”, afirma. A solução foi improvisar um salão na sala de casa mesmo.

A agenda ali começou a encher. Ele ficou conhecido pelas misturas de tons de coloração e por consertar erros de outros salões, além de sempre manter sua sinceridade. “Se a mulher vem para cá com uma ideia, eu falo que não vai dar certo mas ela insiste, eu não faço. E, dependendo do jeito que ela aceita a minha sugestão, eu também dispenso: acho que ela precisa trabalhar dentro dela, pensar mais um pouco”, diz. “Se ela não gostar ou ficar ruim, é meu nome que vai estar por ai e, às vezes, é um problema dela com ela mesma e não meu”, explica. No mês de dezembro, das pouco mais de 200 clientes, trinta voltaram para casa sem o procedimento. Durante a entrevista, das seis clientes nas cadeiras, uma foi embora.

Naquele período, decidiu aprender (pelo Youtube) diversas técnicas e adaptar para as clientes. Entre suas referências estão Guy Tang e Romeu Felipe, com quem fez curso de especialização. “Atrapalhava muito a gente em casa, porque não dava para assistir TV”, comenta a mãe. “E ele trabalhava demais, lembro de ver cliente sair de casa 2 horas da manhã.” Bruno entendeu o lado da mãe e adaptou a lavanderia da casa como um salão, “um espaço minúsculo.” Fez a faixa com o anúncio do salão e até festa de inauguração. A foto da esquerda ilustra essa faixa. Conseguiu oferecer uma manicure (que logo debandou para um salão concorrente) e ia também ia na casa das clientes. “Ele trabalhou muito: mesmo triste, cansado, ele pegava a malinha dele e ia para Alphaville fazer os cabelos das moças”, diz Eugênia.

Uma amiga anunciou que montaria um salão também, do outro lado da rua, em um espaço maior. “Ela me perguntou se eu me incomodava com a concorrência e eu disse que não. E não mesmo, me incentiva a buscar mais e fazer mais”, diz. Mas o empreendimento da moça não foi para frente e ela logo vagou a área, abrindo as portas para Bruno. Em 2016, ano da foto da esquerda, ele se despediu da garagem da mãe. “Eu tinha perdido a primeira imagem que eu tinha feito ali em 2014 e aproveitei esse momento de despedida para registrar o que eu passei ali”, diz.

Ficou pouco tempo também neste novo endereço. Já estava com duas auxiliares, mas a estrutura não dava conta: o espaço não tinha cadeiras ou lavatórios suficiente e isso começou a prejudicar o resultado das colorações. “Existe um tempo certo que a tinta deve ficar no cabelo e se passou, já era”, explica. Segundo ele, foi o período que mais teve reclamações de seu trabalho, o que o deixou deprimido. “Chegou a cair cabelo. No Reclame Aqui, tinha um monte de comentário e isso estava acabando comigo”. Veio a decisão de apostar mais alto e ele encontrou no sobrado de dois andares da Avenida Morumbi seu destino final. Raspou as economias, pediu empréstimo no banco e colocou a obra em pé. “Eu calculava que ia ser 30 000 reais e o investimento acabou sendo de 150 000”, diz.

Nos cinco meses de reforma, teve o local roubado (prejuízo de 7 000 reais em fiação e o material dos pedreiros), enfrentou um processo trabalhista por uma ex-funcionária e atingiu picos de estresse. “As minhas duas assistentes me chamaram na salinha e disseram que estava impossível trabalhar comigo e eu fiquei muito mal por isso”, lembra. “Só não desisti porque eu já tinha começado.” Enfim, a turma mudou-se para o novo endereço, com capacidade para atender até 26 pessoas. Das suas criações, os tons mais buscados são o Vanilla, líder, e o Mel. O pacote começa em 444 reais para coloração e técnica de balaiagem, corte , reconstrução e finalização, mas existem custos adicionais que variam. “A média é de 550 reais”, explica.

Bruno diz que ainda não terminou de pagar todos os investimentos feitos, mas quer crescer. Em vez de contratar mais um cabeleireiro de fora para abrir mais espaço na agenda, prefere que as suas auxiliares aprendam para assumir a função. “Uma delas é maquiadora e ainda vou procurar manicure para entrar”, diz. Também sonha em abrir, ainda este ano, mais uma unidade em Moema. “Vai ser incrível!”

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Fonte: Veja SP
Créditos: Veja SP