Bruma

Brasileiros querem ser pioneiros em roupas feitas de maconha

A Bruma já usa o cânhamo, “primo” da maconha, em botões. Os empresários da marca querem expandir e apostar na cannabis como tecido

Marcela Torres e Bruno Pinheiro

Quando Marcela Torres, de 26 anos, terminou a faculdade de moda, sabia que queria seguir um caminho diferente dos colegas. Tinha um projeto para alinhar criação à sustentabilidade. Se juntou ao fotógrafo e publicitário Bruno Pinheiro, da mesma idade. A ambição saiu do papel e virou negócio.

“Pesquisando sobre a indústria, percebemos o quão sujo é o mundo da moda. Tanto em relação ao processo de produção poluente quanto ao trabalho escravo. Não existia muita opção legal e ecológica no mercado. E juntando a fome com a vontade de comer, criamos a marca”, conta Marcela.

O casal lançou a Bruma em março deste ano, com a ajuda de Val Martins, de 46 anos, que faz a costura e a modelagem. As peças são de algodão orgânico e reciclado com garrafa pet, limpo e sustentável como eles queriam. Apesar do sucesso, Marcela e Bruno confessam que tinham em mente um começo diferente para o negócio. “Nossa ideia era inaugurar a marca usando roupas de cânhamo, mas a gente não sabia da burocracia”, explica o publicitário.

O cânhamo (cannabis ruderalis) é um “primo” da maconha. A ruderalis tem baixo nível de tetraidrocanabinol (THC), portanto não é usada para fins recreativos. Mesmo assim, o cultivo dela no Brasil é proibido.

A planta tem uma fibra bem firme e foi usada para confeccionar algumas das primeiras roupas do mundo e também as originais calças jeans da Levi’s. “As pessoas fabricavam até corda de marinheiro com o material”, aponta Bruno.

A Bruma deu seu jeito e conseguiu incorporar o cânhamo em um detalhe das camisas: os botões. Os empresários da marca compram de um representante em São Paulo, que envia os designs para Portugal e importa os botões.

Apesar da dificuldade burocrática, o casal tem previsão de lançar roupas da fibra ano que vem. O resto eles mantêm em segredo, porque querem ser pioneiros no Brasil. “Ao mesmo tempo que pensamos no mercado, temos que levar em conta o coletivo. A nossa ideia é que todo mundo seja sustentável”, fala Bruno.

Eles escolheram o tecido porque a fibra do cânhamo é mais longa e resistente, fazendo com que a roupa dure mais. “O resultado final e o plantio são melhores do que os do algodão”, avalia Bruno. O preço da planta é outro forte atrativo. “A fibra é mais em conta do que os ecológicos produzidos no país. É mais barato comprar um metro de tecido de cannabis em dólar do que um de pet com algodão reciclado no Brasil”, falam os donos da Bruma.

Legalização

O mercado de “hemp” (nome do cânhamo em inglês) é grande ao redor do mundo. Países como Estados Unidos e Portugal possuem diversas marcas sustentáveis que usam o material em suas roupas. Fernando Santiago faz parte do site Growroom, criado em 2002 para falar exclusivamente de cannabis, da recreação até o uso medicinal.

O especialista explica que o cânhamo é proibido pela Anvisa na lista 344 de substâncias proscritas. Apesar disso, algumas empresas conseguem importar tecidos do material. “Como ele já vem pronto e não tem THC, facilita o processo importação”, explica. Ele ressalta que essa não é uma prática de larga escala no Brasil.

“Há pessoas que procuram a fibra para roupas, seja misturada com algodão ou pura. O tecido mais grosso serve para fazer coisas mais resistentes, como sacolas e bolsas”. Mas ainda há muito preconceito para combater.

Fonte: Metropóles