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Após eleição de Bolsonaro, Bovespa fecha com primeiro pregão em queda

"O mercado tem essa euforia inicial, mas deve querer sinais mais concretos para reagir por um período mais alongado", comentou a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria Integrada.

O esperado bom humor do mercado financeiro no primeiro pregão após a vitória de Jair Bolsonaro na corrida presidencial não durou muito. Após um início positivo, com dólar em queda e Bolsa em alta, os investidores inverteram o cenário e, após às 12h15, o Ibovespa, índice com as principais ações em negociação no Brasil, virou para o terreno negativo.

A Bolsa terminou o dia aos 83.797 pontos, em queda de 2,24%. O dólar, por sua vez,  que chegou a operar a R$ 3,58, fechou a R$ 3,7022, em alta de 1,36%. A explicação para essa mudança está na expectativa dos agentes do mercado com relação ao futuro do novo governo. Mitigadas as incertezas no campo político brasileiro, após a vitória de Jair Bolsonaro, os investidores agoram aguardam por sinalizações mais concretas sobre o que vem pela frente. Pesaram ainda nesta tarde as tensões comerciais entre Estados Unidos e China, com investidores alertas à possibilidade de novas sanções.

“O mercado tem essa euforia inicial, mas deve querer sinais mais concretos para reagir por um período mais alongado”, comentou a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria Integrada. O primeiro sinalizador que pode sustentar o rali de ativos brasileiros, disse, é a definição da equipe econômica. O outro fator bastante aguardado e que tem potencial para destravar ainda mais o mercado é como se dará o encaminhamento da agenda de reformas.

As bolsas de Nova York têm queda de olho no avanço das tensões sino-americanas, em meio a informações de que os Estados Unidos se prepararam para impor mais sanções a US$ 257 bilhões em importações chinesas no início de dezembro, caso a reunião entre os líderes americano, Donald Trump, e chinês, Xi Jinping, na cúpula do G-20, não resulte em uma amenização da guerra comercial. Às 16h46 de Brasília, o Dow Jones cedia 1,84%, o S&P 500 caía 1,58% e o Nasdaq recuava 2,87%, com destaque para as ações da Boeing, que perdiam 7,85% e as da Amazon, que recuavam 8,27%.

Mesmo em seus principais momentos, a variação positiva da Bolsa foi muito mais modesta do que o observado no domingo e nesta segunda-feira cedo nos ETFs de ações brasileiras no Japão, na Europa e em Nova York. Ainda assim, a bolsa brasileira subiu, indicando a satisfação dos agentes do mercado com as perspectivas para a condução da economia até 2022. Sob a mesma reação, o dólar abriu em queda e ficou assim até o começo da tarde, quando passou a subir

A estrategista de câmbio do banco Ourinvest, Fernanda Consorte, diz que o mercado se ajusta após a euforia inicial com Bolsonaro presidente e agora opera acima dos R$ 3,60 rumo aos R$ 3,65 que é o nível que já precificava a vitória na última sexta-feira. Agora, diz ela, o mercado passa a olhar fundamentos e, apesar do cenário externo bom hoje, deve ficar mais sensível às incertezas internacionais.

Sobre a Bolsa, um operador observa que os investidores haviam comprado ações, especialmente o investidor pessoa física, e agora ajustavam esse posicionamento. “Somente uma corretora de clientes pessoas físicas comprou mais de meio bilhão de reais somente na sexta-feira”, disse o profissional. “Agora é esperar para ver quais os nomes da equipe do novo presidente e se vai ter algum mágico para executar tudo o que ele prometeu”, afirmou o operador.

Em entrevista ao Broadcast, o principal economista do Brasil e América Latina do BBVA Research, Enestor dos Santos, salienta que muitos pontos sobre o programa econômico do presidente eleito ainda são desconhecidos. “Vai ser necessário muita notícia favorável para manter esse rali nos mercados”, previu. Uma dúvida é sobre qual será a reforma da Previdência de Bolsonaro, visto que o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), já descartou o uso do atual texto.

Por volta das 10h15, a Moody’s divulgou relatório em que o apoio do Congresso ao novo governo e para a aprovação de reformas “permanece incerto”. Além disso, “detalhes da política econômica da nova administração ainda não estão claros”. No relatório, os analistas da agência de classificação de risco voltaram a pontuar que “gasto fiscal, reforma da Previdência e apoio político do Congresso são “desafios para 2019 e além”.

Do exterior, a influência é mista. As bolsas em Nova York abriram em alta, confirmando a tendência traçada pelos índices acionários futuros, e as bolsas da Europa continuam subindo. Já no mercado de petróleo, os preços firmaram-se em queda. Depois de exibirem volatilidade mais cedo, os contratos futuros da commodity foram pressionados pelo dólar, que ganhou força na esteira de indicadores dos EUA sobre gastos e renda do consumidor e também sobre inflação.

Fonte: Estadão
Créditos: Silvana Rocha, Karla Spotorno e Monique Heemann