Pamela Bório, de novo

Flávio Lúcio

Talvez um pouco requentado, porque a imprensa paraibana já tornara pública – em imperdíveis colunas de Rubens Nóbrega publicadas neste espaço – detalhes de um Relatório do Tribunal de Contas que mostrava alguns gastos pagos pela Casa Civil para a Residência Oficial do Governador da Paraíba, fato que voltou à tona, agora nas páginas da revista de circulação nacional, Isto É. Além dos gastos, a matéria leva para o olho do furacão a primeira-dama da Paraíba, Pamela Bório, que, de tanto procurar, finalmente achou sarna para se coçar.

Não entrarei no mérito sobre o que diz a matéria a respeito de Bório, mas numa frase a Isto É identificou uma das características mais marcantes da jornalista e modelo que virou primeira-dama: a despreocupação com a discrição. Pamela Bório, talvez ainda deslumbrada, parece que ainda não entendeu direito o papel que deve ter a esposa de um governador. Não que ela deva, por isso, perder sua identidade para fazer surgir uma insossa e artificial esposa de governador. Não é isso. Pamela, como jornalista que é, deve saber que uma opinião sua, principalmente quando tornada pública, não tem o mesmo peso da de qualquer cidadão que fala pelos cotovelos. O que ela fala, dependendo do que fala, vira imediatamente notícia, porque ela não apenas deixou de ser uma pessoa comum, mas tornou-se a pessoa mais próxima do homem mais poderoso da Paraíba.

Demissões e lingeries

E Pamela Bório não tem razão de reclamar das críticas que são feitas por conta da divulgação de opiniões, algumas merecedoras de críticas pelo que, por exemplo, nelas continham de autoritário, como foi o caso da comemoração, via Twitter, logo no início do atual governo, pela demissão de vários jornalistas que não apoiaram a eleição de Ricardo Coutinho. Além de falta de companheirismo, já que ela se orgulha de ser jornalista, soou no mínimo estranho que a mulher do governador deseje a demissão de jornalistas que não lhe são simpáticos. Pelo jeito, Pamela não sabe esperar esfriar o prato da vingança, e prefere comê-lo ainda quente, borbulhando.

Um outro caso, citado na matéria da Isto É, é a da exibição de foto de lingeries que a primeira-dama ganhara de presente de uma artesã paraibana, novamente via redes sociais. A atitude de divulgar o belo trabalho perdeu-se numa frase desnecessária, porque expõe sua privacidade, também de forma desnecessária: “Presente para mim, mas quem curte é o maridão.” Imagino que o governador deva mesmo curtir, mas, e eu com isso?

O mais preocupante depois de tudo isso, é que Pamela Bório se mantenha incapaz de reconhecer esses erros, expondo o Governado da Paraíba ainda mais do que já expôs. Na carta que divulgou depois da publicação da matéria na revista, Bório se orgulha da postura e, para a alegria da oposição e desespero do “maridão”, pretende manter-se na mesma linha. “Não vou excluir quaisquer redes sociais ou publicações, não me arrependo de nada que tenha divulgado e continuarei atuando da mesma forma espontânea e condizente com a minha profissão e a minha personalidade.”

Vai ser um Deus nos acuda…

Negocia, RC

Luiz Inácio Lula da Silva sempre fez questão de lembrar sua origem de sindicalista para chamar a atenção do quanto essa experiência o ajudou no exercício da Presidência, especialmente nas negociações e nas buscas, senão dos consensos, mas dos acordos possíveis. Talvez por isso, Lula tenha conseguido não apenas ampliar sua base de apoio no Congresso, mas também levar a negociação para o centro da ação do governo, em especial como os Servidores Federais e seus sindicatos. Assim não só foi reeleito, como elegeu sua sucessora.

O Governador Ricardo Coutinho bem que poderia seguir esse exemplo, ele também um ex-sindicalista, e criar, como Lula, mesas permanentes de negociação para discutir com os servidores estaduais questões que vão além do salário. É triste constatar que nem isso RC foi capaz de produzir para estabelecer uma relação mais harmônica e mais democrática com as representações dos servidores. Quando a questão diz respeito a aumentos salariais, tudo hoje é definido em meios às paredes da Secretaria de Finanças e do Palácio da Redenção. E só.

Ausência de negociação

O Governador Ricardo Coutinho anunciou ontem o aumento que terão os servidores estaduais em 2012, mas, da mesma maneira como aconteceu no ano passado, sem uma negociação com as representações dos servidores. Na véspera, RC convocou alguns sindicatos em pleno domingo para tomarem conhecimento dos índices de reajuste, o que não incluiu alguns dos principais sindicatos de servidores, a exemplo do Sintepe APLP (professores da rede estadual) e Sindfisco (fiscais da receita estadual), não por acaso, aqueles que tem uma posição mais crítica em relação à política salarial e negocial do Governo da Paraíba.

A ausência de diálogo é tão patente que os sindicatos criaram uma associação cujo nome diz bem sobre o estágio das negociações entre governo e servidores estaduais: “Fórum dos Servidores pela Abertura de Diálogo com o Governo”, que congrega, segundo o Sindfisco, mais de 30 entidades. Vejam bem: não se trata de um fórum para discutir questões de ordem corporativa, mas, apenas, para pressionar o Governador Ricardo Coutinho a fazer seu governo sentar à mesa com essas categorias, muitas das quais se acostumaram a receber RC, quando este era Vereador e Deputado Estadual, em suas assembleias de greve, para dele receber apoio.
Quem te viu, quem te vê.